No começo de 2025, uma série de assaltos violentos tem assustado os moradores da cidade de São Paulo, incluindo em regiões de classe média alta, como Pinheiros, na zona oeste. No ano passado, a capital já havia enfrentado uma alta de 23,2% nos latrocínios (roubos seguidos de morte), apesar da queda geral de crimes patrimoniais.
A Secretaria da Segurança Pública do Estado tem afirmado que o policiamento preventivo e ostensivo está sendo reorientado com base na análise dos indicadores criminais. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o secretário da área, Guilherme Derrite, também têm defendido penas mais duras e criticado a soltura de presos, sob o argumento de que isso eleva o risco de reincidência.
Entre os casos que terminaram em tragédia nas últimas semanas, estão o caso do jovem assassinado por ladrões na frente do namorado, em Pinheiros, e o ciclista que morreu baleado perto do Parque do Povo, na zona sul.

Mas por que esses assaltos que terminam em óbito ou agressão parecem estar mais comuns do que nos últimos anos? Na avaliação de Samira Bueno, diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, há cinco fatores principais que ajudam a entender o cenário:
- Celulares viram “agências bancárias no bolso” e valem cada vez mais. Segundo dados do Fórum, a cada ano são roubados ou furtados 200 mil celulares na cidade de São Paulo -- o que equivale a 20% do total subtraído em todo o País. Além de ser muito mais fácil roubar um telefone do que um carro, banco ou residência, o aparelho pode ser usado ou negociado das mais diferentes formas. Segundo Samira, há quadrilhas especializadas na venda de aparelhos para países da África, como Senegal e Nigéria, onde o bloqueio feito no Brasil não tem validade. Além disso, o aparelho abre portas para diversas modalidades de estelionato (que aumentou nada menos que 360% entre 2018 e 2023). Com a popularização do Pix e de aplicativos bancários, o bandido consegue acessar dados pessoais, de contatos, contas bancárias, plataformas de compra com cartões de crédito cadastrados etc.
- O aumento do número de armas em circulação. Segundo números do FBSP, o número de armas apreendidas aumentou 31% -- um indício de que há muito mais armas circulando. Entre facilitação para a obtenção da posse de armas. Mesmo compradas legalmente, afirma, muitas dessas armas acabam parando no mercado ilegal e nas mãos de criminosos.
- A dificuldade na investigação dos crimes. Os casos de roubo e furto de aparelhos de celular são frequentemente feitos por jovens de capacete e em motos com placas “frias”. Isso torna mais difícil a identificação dos suspeitos. “Se não houver prisão em flagrante, é praticamente impossível que esse criminoso seja pego”, diz Samira Bueno. A certeza da impunidade é sempre um estímulo importante para o criminoso, reforça ela.
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- As novas tecnologias de proteção dos aparelhos. A cada dia, os principais desenvolvedores de celulares tentam aprimorar medidas de segurança justamente por causa do valor dos aparelhos no mercado do crime. Muitos exigem reconhecimento facial, por exemplo, ou várias etapas para o desbloqueio. Isso é positivo, segundo Samira, mas tem também um aspecto negativo: quanto mais complicado for o desbloqueio, maior será o tempo de interação entre o criminoso e a vítima, o que pode resultar no uso de arma.
- A inexperiência de alguns bandidos. Nesta semana, a Polícia Civil prendeu o segundo suspeito do latrocínio contra o ciclista Vitor Medrado, no Parque do Povo, no Itaim-Bibi, no mês passado. A investigação apontou que, por trás da dupla que abordou a vítima, estava a “Mainha do Crime”, uma “facilitadora” roubos com uso de motocicletas, em que os ladrões fingem ser entregadores. Ela é conhecida na região de Paraisópolis, na zona sul, onde vivia. Segundo Samira, isso faz com que jovens cada vez mais inexperientes entrem para o crime e a inexperiência pode aumentar as chances de disparo da arma.