O Papa Francisco, de 84 anos, foi internado neste domingo, 4, para tratamento de uma “estenose diverticular sintomática do cólon" - uma formação de pequenas bolsas na parede do cólon que levam a uma inflamação e estreitamento do intestino. Segundo o Vaticano, o Papa passará por uma intervenção cirúrgica no Hospital Policlínico Gemelli, de Roma. Esse tipo de procedimento é habitual, principalmente em pacientes mais velhos, mas apresenta riscos, a depender do tamanho da inflamação.
A estenose diverticular é comum em idosos e apresenta diversas manifestações clínicas. O envelhecimento do tecido leva ao aparecimento de pequenas bolsas, os divertículos, que são pontos de fraqueza. O cirurgião do aparelho digestivo Frederico de Almeida Heitor explica que, ao longo do tempo, essa inflamação pode levar a um estreitamento do intestino. Por ser uma doença diverticular, pode não ter nenhum sintoma associado, mas se há evolução, o paciente apresenta dificuldade para evacuar, alteração nas fezes e aumento de riscos de obstrução intestinal.
Paulo Gustavo Kotze, coloproctologista dos hospitais Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru, de Curitiba, também explica que a doença pode evoluir para uma inflamação maior, a diverticulite. “Ela ocorre quando há muitas perfurações dessas bolsinhas. A depender de seu grau, pode causar infecções mais severas, como uma perfuração maior que leva à peritonite, uma inflamação geral”, afirma
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Para o especialista, o que chama a atenção nas informações dadas pelo Vaticano é a presença de uma estenose - o estreitamento do cólon causado pelas inflamações. Kotze explica que este processo pode ser agudo ou crônico. O paciente pode passar por crises anteriores que levam a uma cicatrização, em que a inflamação aos poucos fecha o calibre do intestino, ou ter uma crise aguda, que seria uma inflamação momentânea.
Tratamento
“Quando a diverticulite é simples, é possível tratar com antibióticos e remédios. Mas quando há uma infecção maior, um abscesso, é necessário seguir para a operação”, explica Kotze. Frederico Heitor explica que os principais sintomas em casos como esse são cólicas de forte intensidade, principalmente do lado esquerdo, que apresenta piora no momento da evacuação.
A forma mais comum de se operar é a cirurgia laparoscópica, considerada “minimamente invasiva”. A técnica usa uma câmera com pequenos furos, e realiza a operação sem a necessidade de incisão. Mas dependendo da situação é necessário seguir para a cirurgia aberta ou robótica.
A cirurgia acontece com a retirada do segmento doente estreitado. Na sequência, é feita uma junção intestinal, como se fosse um tubo, em que se retira um segmento doente e se unem as partes remanescentes. “Quando as condições não são boas, pode ser submetido a uma colostomia, em que é feito um desvio intestinal até que se tenha uma melhor condição melhor para uma futura junção”. Cada caso depende de fatores locais, estado de nutrição e a decisão do cirurgião.
“A realização de colostomia ocorre nos casos graves onde houver necessidade de operação de urgência e com achados de peritonite difusa por pus ou fezes.”, conclui Heitor. Kotze explica que toda cirurgia no intestino grosso é considerada de média para alta complexidade. "Quando temos uma junção intestinal é possível ocorrer um risco de vazamento, ou uma infecção local pós-operatória”.
Recuperação
A cirurgia laparoscópica apresenta a melhor condição de recuperação. O paciente geralmente sente menos dor, e recupera as funções vitais mais rápido. Já a cirurgia aberta pode trazer dor associada, por ter um trauma local maior, explicam os especialistas.
“No caso da laparoscópica, é habitual uma recuperação de 4 dias de internação. A recuperação total vai variar da condição do paciente, algo em torno de duas ou três semanas”, afirma Kotze. Se houver necessidade de colostomia, o restabelecimento da evacuação pelo ânus pode ocorrer até oito semanas após a operação de urgência.
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