Aos menos familiarizados com estatística, dois esclarecimentos.
Primeiro, a distribuição normal de um certo conjunto de fenômenos (por exemplo, eleitores) concentra a maior parte dos casos no espaço intermediário de uma escala, reduzindo-se o número na medida em que se vai para os extremos superior ou inferior (a chamada “curva normal”). Por exemplo, na distribuição esquerda-direita, o grosso do eleitorado ficaria no centro, reduzindo-se quanto mais se fosse para a direita ou para a esquerda.
Segundo, dividindo ao meio os dois lados da escala está a mediana. Em nosso exemplo de um eleitorado distribuído ao longo do eixo esquerda-direita, haveria um “eleitor mediano” a ter metade dos votantes à sua direta, outra metade à sua esquerda. Na disputa entre um concorrente de esquerda e outro de direita, muito simplificadamente, cada um já teria garantidos os eleitores do seu lado do espectro ideológico e, portanto, faltaria a ele conquistar apenas mais um voto para ter a maioria. O voto decisivo seria o do eleitor mediano. Quem cativasse esse votante hipotético, ganharia a eleição. Por essa razão, há uma tendência dos partidos à esquerda e à direita de rumar para o centro.
Como todo modelo teórico, este simplifica bastante a realidade. Por um lado, facilita a compreensão das linhas gerais de certos problemas. Por outro, requer do analista parcimônia ao usar o modelo, incorporando à análise das situações concretas as nuances da realidade. É como o motorista que, ao guiar-se por um mapa, não ignora os reais obstáculos do caminho.
A distribuição esquerda-direita, por exemplo, muda de significado de um momento histórico para outro, de um lugar para outro e de um âmbito de questões para outro. O que era esquerda há certo tempo, pode ter-se tornado centro agora; o que é centro num estado da federação, pode ser considerado direita em outro; quem está à esquerda no plano dos costumes, pode estar à direita no âmbito da economia. Sem mencionar, ainda, que o eixo esquerda-direita é apenas uma (embora talvez a mais importante) das várias dimensões de preferências.
O modelo funciona melhor quando há apenas dois candidatos relevantes. Quando se multiplicam - como no 1.º turno de nossa atual eleição presidencial, em que há três - as tendências ficam menos claras. Afinal, nesse contexto, é plausível que cada competidor almeje o voto de apenas uma fatia do eleitorado, suficiente para levá-lo ao 2.º turno. Chegando lá, contudo, será indispensável cativar os medianos.
Na longa trajetória percorrida até ganhar o governo federal (e, sobretudo, depois de tê-lo conquistado), o PT rumou para o centro e - nas últimas três eleições - cativou o eleitor presidencial mediano. Ocupando o centro, empurrou para a direita o PSDB - que conquistara facilmente o eleitor mediano em 1994 e 1998, mas perdeu essa capacidade.
Com sarcasmo, Elio Gaspari já disse que os tucanos apostavam que se o eleitor odiasse duplamente o PT, teria dois votos antipetistas. Podemos dizer que o erro do PSDB nos últimos anos foi apostar mais no antipetista mediano do que no eleitor mediano. Quem quer que desafie a Dilma no provável 2.º turno precisará levar isto em conta.