CONTROLE E TORTURA
Parte do fracasso da Dilma gestora está diretamente relacionado à postura controladora que sempre teve à frente dos ministérios de Minas e Energia e da Casa Civil, cargos cujo perfil era mais gerencial e não de liderança.
Ela gosta de estar de olho em tudo, mesmo em questões banais. Também costuma discutir projetos dividindo o governo em áreas estanques, que não dialogam entre si e recebem recomendações diferentes, sem saber qual a posição exata da presidente sobre o tema em discussão. A presidente adota essa estratégia, em parte, porque é avessa a vazamentos para a mídia.
Isso também pode estar relacionado ao passado de Dilma na luta contra a ditadura, quando as organizações clandestinas atuavam por células, com segredos bem guardados até dos amigos.
Dilma participou da luta armada contra a ditadura que governou o país por 21 anos. Ela começou sua atuação na resistência ao regime militar em Belo Horizonte, onde era uma jovem de classe média. Mas o segundo ex-marido, Carlos Araújo, disse que Dilma "nunca pegou numa arma e nunca deu um tiro".
Presa, sofreu torturas "extremamente cruéis", segundo o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Fernando Pimentel, seu amigo desde a juventude e eleito governador de Minas Gerais pelo PT, no primeiro turno.
É muito raro ela se referir publicamente a esse período, mas os xingamentos de que foi alvo na abertura da Copa do Mundo este ano, em São Paulo, levaram-na a abrir uma exceção.
No dia seguinte, em um evento oficial no Distrito Federal, Dilma disse que em sua vida tinha enfrentado agressões que chegaram "ao limite físico" e que não seriam ataques verbais que a abateriam ou a fariam se atemorizar.
"Suportei agressões físicas quase insuportáveis e nada disso me tirou do meu rumo, nada me tirou dos meus compromissos", disse a presidente, indicando o quão importante é para ela manter suas posições independentemente do tipo de pressão.
Helvécio Ratton, de 65 anos, um cineasta que é amigo da presidente desde a universidade, disse que ele e Dilma foram atraídos para a resistência de esquerda por conta da impressionante desigualdade no país naquela época.
A descrição da adolescente estudiosa que Ratton faz é bem diferente da imagem pública hoje identificada com a presidente. Segundo o cineasta, ela era "muito engraçada", o tipo de pessoas que "sempre ficava fazendo piadas".
Ratton disse que ela mudou justamente depois ter sido presa e torturada. Para ele, o fato de Dilma ter feito carreira no mundo "masculino" da política brasileira também pode ter ajudado no seu novo comportamento.
A carreira administrativa e política, porém, a presidente construiu bem longe das montanhas de seu Estado natal, Minas Gerais. Os traços dessa nova Dilma foram moldados no Rio Grande do Sul, onde viveu e ajudou a fundar o PDT, partido ao qual pertenceu antes de se filiar ao PT em 2001.
Ratton faz uma ressalva sobre a personalidade da amiga: "Em particular, você ainda encontra a velha Dilma."
DISTRAÇÃO DA VOVÓ
Não por acaso, a pessoa que consegue distrair a presidente de seus objetivos não tem nada a ver com sua vida pública. Trata-se do neto Gabriel, que abala a concentração dela quando está em Brasília ou mesmo pela Internet, quando ele está em Porto Alegre, onde mora.
Os assessores mais próximos costumam comemorar quando sabem que a ilustre visita está no Palácio da Alvorada.
(Reportagem adicional de Brian Winter)