Como funciona um parque feito para receber água da chuva e alagar

Estrutura no Recife foi construída nas margens de rio com histórico de transbordamento para que efeitos das inundações sejam minimizados

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Por Milena Félix

Recife inaugurou em novembro o primeiro parque alagável da cidade. Com investimento de cerca de R$ 2,5 milhões, o espaço fica nas margens do Rio Tejipió, que tem um histórico de transbordamento.

O parque foi projetado para oferecer lazer para a população nos meses de seca, e para alagar nos períodos de maré alta e chuvas fortes. Entre os bairros Areias e Ipsep, o parque fica nas duas margens do rio, evitando que casas sejam construídas no local e que a população se coloque em risco.

Entre os bairros Areias e Ipsep, o parque alagável fica nas duas margens do Rio Tejipió, no Recife. Foto: Edson Holanda/PCR

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De acordo com um levantamento do Climate Central, o Recife está entre as sete cidades brasileiras com maior risco de aumento do nível do mar. Além disso, a cidade é cortada por três rios: Beberibe, Capibaribe e Tejipió.

Entre eles, o Tejipió é uma região especialmente preocupante. “É uma área que sofre muito não só com a questão das chuvas intensas, mas também com a subida de maré”, afirma o professor do departamento de Ciências Geográficas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Osvaldo Girão. De acordo com ele, o rio recebe retorno de águas do mar quando a maré fica muito alta, o que contribui para que ocorram inundações.

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Em 2022, a Grande Recife sofreu uma tragédia que deixou para trás 133 mortos em decorrência de chuvas fortes. Outras tragédias aconteceram em 1966 e 1975. Segundo Girão, com o aquecimento global, o ritmo das enchentes pode se tornar mais acelerado. “Nós também temos uma cidade que cresceu muito, e que se tornou mais impermeável.”

O professor de Geografia da UFPE explica que a iniciativa faz parte de uma tendência global de criação de ‘cidades esponja’. “Esses parques alagáveis são um dos reflexos do que se chama de cidade esponja, que são aquelas cidades que visam armazenar, reter água e depois liberar lentamente, para que os efeitos das inundações sejam minimizados para a população que outrora era afetada.”

Onde o parque alagável foi construído, existiam 96 famílias que moravam em uma área considerada “não edificante”, ou seja, onde não deve haver habitações. A maior parte das moradias eram ilegais, como explica o presidente da Autarquia de Urbanização do Recife (URB), Luís Henrique Lira. Diante disso, a prefeitura fez uma desocupação dos locais, e indenizou as famílias pelos imóveis. Segundo Lira, foram cerca de R$ 8,5 milhões ressarcidos.

Toda a infraestrutura do parque foi pensada para não ser desmontada com possíveis inundações. Na área de lazer, o espaço conta com pista de caminhada, espreguiçadeiras, parquinho infantil, área de jogos e quadra de areia. “Toda a estrutura foi feita pensando na possibilidade de o parque ser alagado. Então, os brinquedos não vão estragar, não vão ficar na água, por exemplo, nada é móvel, são todos fixados no chão”, explica Lira.

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Estrutura do parque foi projetada para não ser desmontada com possíveis inundações. Foto: Edson Holanda/PCR

Outras ações foram feitas para evitar que o rio Tejipió alague. “No passado, o rio tinha uma largura de mais ou menos 20 metros. Com o tempo, as pessoas foram aterrando, e neste ponto em que a gente fez o parque, ele estava com apenas 6 metros. Então nós fizemos a demolição dessas casas, e aí, com as dragas, fizemos o rio voltar a ter a largura de 25 metros”, afirma o presidente da URB. Além disso, o mangue ao redor do rio está sendo restaurado.

Segundo Lira, o parque alagável foi o primeiro de um plano de construção de diversos equipamentos de manejo de inundações na capital. Após o período de teste do primeiro, outros parques devem ser construídos nos próximos anos nas margens dos rios, evitando que pessoas vivam em locais de risco, e disponibilizando esporte e lazer para a população.

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