Condomínios inteligentes: smart cities ganham espaço no Nordeste e outras regiões do País

Tecnologia, sustentabilidade, planejamento urbano e inclusão social são as apostas desses empreendimentos

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Por Guilherme Santiago
Atualização:

Ruas construídas para evitar acúmulo de água e alagamentos. Pontos de ônibus com internet móvel gratuita de alta velocidade. Casas conectadas a aplicativos de smartphones que permitem controlar gastos com água e energia. A descrição poderia ser de uma metrópole do futuro, mas trata-se de um tipo de empreendimento que cresce e se espalha pelo Brasil: as smart cities.

Esses projetos miram soluções que tornam o ambiente mais eficiente, conectado e sustentável – entre elas, ciclovias e fontes de energia renováveis.

O bairro Granja Marileusa, em Uberlândia (MG), reúne lojas, supermercados, escolas e também 30 startups e empresas de inovação Foto: Granja Marileusa/Divulgação

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A ítalo-britânica Planet Smart City, startup do setor imobiliário, atua no desenvolvimento e construção de bairros e condomínios inteligentes. “Quando as pessoas pensam em smart cities, pensam só em tecnologia, mas é mais do que isso. É a tecnologia pensada como meio para mudar a vida das pessoas e não como um fim”, diz Susanna Marchionni, cofundadora e CEO da companhia no Brasil.

O impacto pode ir além dos próprios moradores. Susanna afirma que há uma “democratização da infraestrutura”, destacando a ausência de muros e taxas de condomínio nos projetos da empresa. Dessa forma, quem não vive no empreendimento pode aproveitar a estrutura ou até parte das atividades oferecidas. Por outro lado, a melhora da estrutura urbana naquela área também abre espaço para que o poder público invista em outros locais mais carentes.

Em 2022, a Planet investiu cerca de R$ 122 milhões nas cidades; e espera, para 2023, faturamento de R$ 300 milhões.

É em um empreendimento da Planet que Priscila Alves, de 32 anos, vive há pouco mais de um ano. Ela optou por morar na Smart City Laguna, em São Gonçalo do Amarante, no Ceará, após o nascimento do filho Pedro Benício, de 1 ano e 7 meses.

“Como as cidades grandes estão muito violentas, estava à procura de um local onde meu filho pudesse brincar com liberdade”, conta ela, que viu Pedro dar os primeiros passos nas ruas da smart city – planejadas, sem saída e com poucos carros.

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Ela diz adorar o contato com a natureza e aproveitar os espaços de interação social – como a cozinha compartilhada, as bicicletas liberadas e o cinema gratuito (as sessões são reservadas pelo aplicativo da cidade). “Não encontrei outro lugar que me oferecesse tudo isso.”

Em Minas, Antônia Amaral, de 64 anos, mora há 8 meses no Granja Marileusa, bairro inteligente de Uberlândia. Para ela, trabalhar e morar no mesmo bairro foi decisivo para sua escolha. Isso porque o Granja se tornou um distrito de inovação, que tem atraído startups e negócios inovadores para a região. São 30 empresas instaladas ali – entre elas, a de tecnologia em que Antônia atua como coordenadora de implantação de projetos. “Gasto pouco tempo para chegar ao trabalho. Tudo é perto e de fácil acesso.”

Priscila mudou-se para a Smart City Laguna, no Ceará, em busca de segurança. Foto: JARBAS OLIVEIRA/ESTADÃO

Lojas, supermercados, universidades, escolas e escritórios compartilhados são alguns dos serviços disponíveis a moradores sem que enfrentem grandes distâncias ou longos períodos no trânsito. Esse foi o objetivo do Granja Marileusa desde sua criação, há 10 anos, explica José Inácio Pereira, diretor superintendente do bairro. E um passo importante foi atrair empresas.

“Adotamos uma rede de energia duplicada para que, se uma cair, a outra mantenha o bairro com energia. Estamos com acesso às principais rodovias. E temos um sistema de monitoramento com inteligência artificial para trazer mais segurança às empresas e aos moradores.”

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Segurança costuma ser um dos diferencias nas propagandas de smart cities, mas ele deve ir além das câmeras – também é necessário cuidado com a proteção de dados. “Afinal, não podemos falar em uma smart city sem dados”, diz Gabriel Gomes, coordenador do curso de Smart Cities da Unicamp. “É preciso que as cidades inteligentes se adequem à LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados, de 2018) para evitar situações de exposição de dados pessoais de moradores.”

O uso de dados é, inclusive, um dos principais pilares do Aguaduna, que tem previsão de entrega para 2026 em Entre Rios, no litoral da Bahia. Ali, uma solução da empresa Siemens, chamada MindSphere e ligada ao conceito de “internet das coisas”, processará informações que vão desde os equipamentos públicos, como câmeras e semáforos, até a origem dos alimentos que chegarão à cidade (informando, por exemplo, se eles são orgânicos ou quais produtos químicos foram usados em sua produção).

Para Gomes, ficar atento às certificações internacionais ajuda na garantia da segurança dos empreendimentos. “Não há, na legislação brasileira, diretrizes que estabeleçam se uma cidade é inteligente ou não”, diz. O que existem são organizações internacionais, como a U.S Green Building Council, que atestam parâmetros de sustentabilidade e eficiência, como a certificação LEED e o selo ISO.

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A Planet investiu cerca de R$ 122 milhões nas cidades inteligentes, como a Smart City Laguna, no Ceará Foto: Jarbas Oliveira/Estadão

Mesmo ganhando espaço, as cidades inteligentes ainda não atingiram seu potencial máximo, diz Vitor Antunes, especialista em Direito da Infraestrutura pela FGV e autor do livro Parcerias Público-Privadas para Smart Cities. “Ainda é um grande desafio engajar municípios de pequeno e médio porte”, afirma. “É por isso que vejo o setor privado como uma semente para que cidades inteligentes possam se expandir para a cidade como um todo.”

Aproximar iniciativa privada e poder público é uma das promessas da Urba, empresa com dois bairros inteligentes em obras: o Smart Urba Dunlop Fase 1 e o Smart Urba da Vila Profeta. Em Campinas (SP), eles terão reaproveitamento de água pluvial, uso de energia fotovoltaica, ciclovias e compostagem de resíduos orgânicos.

Segundo Erika Matsumoto, CEO da Urba, nem sempre as prefeituras podem executar ou pagar certas soluções. “Quanto mais perto estivermos do poder público para oferecer soluções a problemas locais, melhor vai ser.”

Como as ‘smart cities’ podem promover mais qualidade de vida

Planejamento urbano: Soluções como ciclovias, calçadas largas e acessíveis, otimização de linhas de ônibus e uma pavimentação de ruas mais ecológica (sem uso de asfalto) são formas de minimizar problemas comuns de grandes metrópoles – e que causam bastante estresse.

A ítalo-britânica Planet Smart City, startup do setor imobiliário, atua no desenvolvimento e construção de bairros e condomínios inteligentes Foto: Jarbas Oliveira/Estadão

Sustentabilidade: Optar por fontes de energia renováveis, investir na reutilização de águas fluviais e fazer a gestão de resíduos são ações comumente adotadas pelas cidades inteligentes que podem melhorar a qualidade de vida das gerações atuais e futuras.

Tecnologia: Sistemas integrados de monitoramento, internet gratuita por toda a cidade e aplicativos que funcionam como uma central de controle – reunindo desde acesso às câmeras até informações sobre eventos sociais – são algumas das opções usadas para otimizar o cotidiano.

Pertencimento: As ‘smart cities’ podem ajudar a resgatar um sentimento cada vez mais incomum nas grandes cidades – nelas, muitos moradores passam a se sentir pertencentes a todo o ambiente ao redor e não apenas à sua própria casa.

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Contato com a natureza: Estar próximo de áreas verdes pode ser um grande aliado do bem-estar e da qualidade de vida. E tais projetos sempre priorizam parques, praças e ruas arborizadas.

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