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Crônica, política e derivações

A ideologia do ressentimento

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A Ideologia do Ressentimento

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Estamos todos diante de uma grave confusão contemporânea. Encontra-se em curso uma crise de déficit de discernimento sobre os parâmetros que  definem as atribuições de Estado e as de um Governo.

Tomem como exemplo auto evidente o nosso País.

O que pensar de um Estado que apoia passivamente entidades reconhecidamente terroristas? Que faz explicita discriminação entre brasileiros -- inclusive violando a Constituição Federal em seu artigo 19, a qual define "é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si".

Neste caso, estamos nos referindo especialmente aos brasileiros e brasileiras assassinados pelos terroristas que promoveram o massacre de 1.200 vidas no dia 07/10/2023 em Israel. Ataque que desencadeou uma grave instabilidade no Oriente Médio. Instabilidade ainda em curso e com perspectivas sombrias e preocupantes.

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E não para por ai, diante das muito bem fundamentadas suspeitas de fraude nas eleições onde o ditador venezuelano impôs-se mais uma vez como atuou e o que fizeram os representantes do Ministério das Relações Exteriores do País?

Silenciaram e consentiram a brutal repressão à oposição venezuelana, onde muitos estão sendo perseguidos, encarcerados, incluindo jornalistas e pessoas que apenas protestavam. Centenas já foram assassinadas ou desaparecem nos cárceres do robusto ditador bolivariano de Caracas.

Podemos até fingir que nada de errado está acontecendo. Podemos ignorar que a política externa de um Pais esteja sendo sequestrada para agradar ideologicamente um único partido -- aliás, eis o grande sonho do centralismo partidário em curso -- mas não podemos deixar de enxergar a tentação totalitária que paira sobre todos nós.

Há evidente dissonância entre o desejo da população brasileira e aquilo que emana do Palácio do Planalto.A palavra é mesmo "aquilo" pois o que está em construção nem pode mais ser chamado de estratégia racional. Particularmente chocante foi o envio do atual vice presidente Geraldo Alckmin à cerimônia de posse do presidente (sic) do Irã -- lembrando sempre que naquele vibrante e libertária democracia de inspiração teocrática quem escolhe quais candidatos concorrerão é um ayatollah, também chamado pela alcunha de "líder supremo". Um exemplo típico de inspiração iluminista. O vice presidente esteve ladeado nada menos do que por pelo quatro lideres ou representantes de grupos considerados terroristas pelas entidades internacionais. O que chama atenção nesta despreparada governança é a negação, ou relativização, pouco importa, de todos os valores republicanos, não só porque parece colocar a ideologia -- mal avaliada por sinal -- acima dos compromissos éticos do Estado.

Além disso parece impor aos cidadãos do País a visão monopsista de um partido sobre todas as instituições.

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Justo nosso Brasil, que havia construido uma extensa, hábil e muito bem sucedida tradição através da habilidade do Barão do Rio Branco, posteriormente herdada pelo Itamarati. Tradição de altivez intelectual, independência diplomática associada a uma prudente equidistância dos blocos geopolíticos mais extremos e que fez do País uma espécie de oásis da moderação.

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Não mais, há em muitos representantes do atual governo uma espécie de ideologia do ressentimento. E isso não é, nem de longe, o o que significa o Estado brasileiro.

Dai um alerta, estamos suficientemente  conscientes de que esta longa carreira de moderação e prudência encontra-se à deriva? Com qual finalidade sacrifica-se uma reputação deste porte?

Analistas que se debruçarem sobre quais seriam os pontos possíveis de interesses para o governo agir assim, não há nada que justifique a conduta. Respaldar as ações da Republica Islâmica do Irã denota uma postura de desafio, ao mesmo tempo infantil e contraproducente.

Tratar-se-ia talvez de validar a célebre frase de Bernard Henri-Levy de que as duas grandes religiões contemporâneas são o antissionismo e o antissemitismo?

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Ou é algo bem mais perturbador?

Que tal uma súbita aversão a todos os valores ocidentais?

Pois a postura dos atuais representantes do executivo não deixa muitas margens para dúvidas: explicitam abertamente uma aliança com ditaduras e regimes arbitrários como Yemen, Siria, Irã -- e até onde se sabe abunda misoginia, homofobia, intolerância e arbítrio, vicissitudes  que até ontem pelo menos não eram constitutivas de regimes mais à esquerda.

E, na mesma proporção, a orientação parece afastar-se cada vez mais das sócio-democracias, dos países com sólida tradição liberal e das democracias de centro onde a divisão dos poderes é inviolável.

Tudo isso está sendo arquitetado para construir um sindicato de governos autocráticos endossados por sufrágios? O problema é que a falta de transparência e a dissonância com os interesses da maioria da sociedade acarreta progressiva perda de legitimidade.

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Com a palavra os demais poderes e as instituições que ainda respiram e que depois de quatro décadas de luta conseguiram restaurar a democracia no País. Presenciando tudo o que está acontecendo, me pergunto será que conseguimos?

Não desistiremos, um País nunca poderá ser reduzido a um partido.

Nem um Estado a um Governo

 

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