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Crônica, política e derivações

Algumas respostas ao livro dos porquês sem resposta. 

Em toda história da formação da moralidade ocidental especialmente, sob os códigos de  ética advindos do Pentateuco, dos iluministas e da tradição filosófica humanista, decerto não estava escrito que algum Estado soberano devesse permitir que os idólatras da violência e seus representantes legais (sic) ajam com liberdade ou sejam recompensados ao metralhar inocentes.

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Algumas respostas ao livro dos porquês sem resposta.

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1 - Por que um povo com uma robusta tradição argumentativa filosófica-ético-políticanão vem ganhando o debate midiático, também apelidado de "guerra  das narrativas"?

Em primeiro lugar o termo é equivocado uma vez que a própria palavra foi pervertida. Presume-se erroneamente que "narrativa" represente uma ideologia instrumental volátil da linguagem, e não um empenho em expor a lógica histórica dos acontecimentos razoavelmente emancipada dos vieses ideológicos.

2- E quanto ao caso da legitima defesa de um Pais atacado?Imagine qualquer um. O que será que significa exatamente quando um País sofre julgamentos seriados de uma forma distinta, peculiar e diferente de qualquer outra nação da Terra?

Constata-se que isso vem ocorrendo nas mídias, na ONU, nas academias, nas instituições, em tribunais penais e nas cortes que ao julgar, foram dispensadas do dever fundamental de declarar se existe ou não o conflito de interesse.

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Pois urge encontrar um significado quando tais acusações são apresentadas sob um padrão ético duplo. Para dizer o mínimo estamos diante de um problema  epistemológico relacionado ao conceito de justiça.

Poderíamos então nos perguntar: o que, num conflito pode ser definido como justo?

Em toda história da formação da moralidade ocidental especialmente, sob os códigos deética advindos do Pentateuco, dos iluministas e da tradição filosófica humanista, decerto não estava escrito que algum Estado soberano devesse permitir que os idólatras da violência e seus representantes legais (sic) ajam com liberdade ou sejam recompensados ao metralhar inocentes.

Ou seja, o que parece estar sendo naturalizado é deixar em paz e agir benevolentemente com aqueles que prometeram e juraram efetuar novos massacres. Abandonar a população que vem sendo atacada diariamente e esquecer os algozes que declararam a guerra. Talvez esperar que se reorganizem e consigam novos equipamentos, treinamento e estratégia para impor seu peculiar padrão de barbárie justificacionista.

Dever-se-ia poupa-los porque eles não apenas usam a própria população como escudo, mas porque além de não aceitarem as dezenas de acordos propostos, afirmam simultaneamente que não estão interessados em desenvolvimento material, psicológico ou cultural da área que ocupavam. Reparem bem, se não for pedir muito, no que eles vem afirmando. Desejam fazer valer uma modalidade de supremacismo religioso intolerante e violento.

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3- Até há pouco parecia haver um consenso que nem precisava ser explicitado: ninguém razoavelmente informado aceitaria que se gritasse pelas ruas lemas e slogans como aqueles que prevem a eliminação de uma população inteira.

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Seria inaceitável que as ameaças mundiais fossem enunciadas aos habitantes de qualquer raça ou etnia. Inconcebível que uma facção, com evidente explicitaçãode intenções genocidas, acorresse livremente às ruas como as multidões subsidiadas que pregam a destruição do Estado hebreu, bem ilustrado nos recentes rally's nas ruas de Londres ou no metrô de Manhattan.

E, invertendo a lógica, e principalmente, os fatos, acusam o lado originalmente atacado com falsos testemunhos, indícios inexistentes e alegações que deixariam surpresos os protagonistas dos diálogos contidos no teatro do absurdo.

Mas, é ai que está o mistério, pois ainda assim lograram persuadir muita gente. Todos idiotas? Nem todos. E, num périplo de distorção das evidências, convencem e persuadem as sociedades -- o que mesmo um bom criminalista teria dificuldades -- de que a vitima deve ser penalizada e instada a pagar pelos crimes sofridos. Isso mesmo, o paciente, aquele que nada cometeu que arque com os crimes perpetrados pelos outros.

Enfim julgados, e sem qualquer direito ao contraditório. Eis a prescrição dos fanáticos

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Trata-se, portanto, de uma abolição , à revelia, de toda lógica dialética.

4- Talvez seja porque -- por motivos pecuniário-ideológicos há uma causa financiada por Países conhecidamente proficientes no ramo do oligopólio e comércio de combustíveis fósseis.

Nota-se que o senso histórico e a lucidez analítica perderam espaço nos lugares de fala. Foram deslocados das posições universitárias, e, portanto, do mundo intelectual como outrora o conhecíamos.

Outra hipótese é que talvez, pela ausência de autocrítica, chegaram a considerar que passado o efeito imunizante da vacina do holocausto (como certa vez sugeriu o escritor Amos  Oz) escapariam de um inevitável efeito rebote: o ressurgimento de um atavismo antijudaico milenar. Atavismo que, de forma enganosa, foi apenas temporariamente suprimido.Permaneceu vivo ocupando aquela região que Hannah Arendt já chamou de circuitos subterrâneos.

Tal inibição do ressentimento antijudaico portanto, nada tinha a ver com respeito, empatia ou solidariedade, mas encontrava-se amordaçado por constrangimento. Coibido por uma vergonha tácita. Era o medo de assumir as teses que sustentaram o nazismo estrutural, e que se repetiu de várias formas e em várias modalidades, século após século.

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Os álibis para o ressurgimento de modelos nazistas que recém despertaram da hibernação estão todos lá, repetidos e martelados pelos revisionistas da vez.

5- Quando confrontados pelas evidencias históricas,provas arqueológicas e culturais que não sustentam suas teses de ofício são acometidos pelo negacionismo. Um clássico instrumento salvador da insuficiência intelectual baseada em ideologia.

Não que alguém ainda tenha interesse nos dados estatísticos. Assim foi quando quase 600 mil judeus foram mortos e expulsos destes países. E assim foi quando as organizações construíram o plano da guerra de retorno unilateral fundando "campos de refugiados eternos". Até que um dia -- essa era a promessa ideológica da UNRWA em suas cartilhas-- voltariam e expulsariam até o mar os legítimos e históricos povos originários dos territórios.

Assim foi quando os países árabes tentaram destruir Israel em 1948, 1967 e 1973. Assim foi quando os lideres palestinos negaram ofertas bem razoáveis de paz em cinco ocasiões distintas. Assim foi quando Israel saiu do sul do Líbano confiando em tratados e na resolução N0 1701 da ONU que nunca foi efetivamente respeitada pelos comandos terceirizados dos ayatollahs. Assim foi quando Gaza foi entregue para o Fatah em 2005 e derrubado por um golpe de Estado. Os governos de Israel podem ter errado, mas, na prática, os adversários foram aqueles que sistematicamente renegaram a paz.

6- É preciso aceitar que o argumento do colonizador versus colonizado tenha entrado no radar do senso comum de forma completamente distorcida.

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Agora o termo quase mágico pertence à atmosfera irreflexiva e instantânea do dia a dia. Em outras palavras, para além daspalavra de ordem, tornou-se estilo e virou moda. A ditadura fashion revanchista afirma que um lado, o dos que reconhecem Israel como um lugar seguro para os judeus. é necessariamente perverso, independentemente da realidade de campo.

E tem sido a facilidade com a qual se absorveu o novo significado da palavra narrativa que permitiu tais falsificações. Como "provas irrefutáveis" apresentam débeis inferências baseadas em envelhecidas teses revisionistas como as acima apontadas.

8- A midiotização dos agentes de comunicação também vem auxiliando no endosso da atitude dos violadores dos conceitos civilizatórios. Então, parte do mundo passou a ver com simpatia a marcha das massas que reivindicam justiça feita com as próprias unhas. Balançam bandeiras que significariamsuas próprias sepulturas, pois não seriam poupados pelos combatentes chegados na incineração de pessoas vivas, violência sexual e necrofilia.

Massas tão cegas e surdas que aceitariam que se tolha suas liberdade para exercer seus direitos de ser enganados. Maiorias que se sentem coagidas a não reagir. Isso até que seja tarde demais; e um novo tipo de autocracia duradoura se estabeleça: a teocracia da intolerância.

Tal inação, ou cumplicidade silenciosa desta mesma maioria, tem se tornado cada vez mais marcante. Notem que isso acontece dentro das sociedades que viviam reafirmando seus compromissos com a defesa daqueles que sofrem bullyings. Que saem em defesa daqueles torturados por opressão sistemática. Que lutam pelos grupos não hegemônicos, pelas vítimas do ódio, e por aqueles que sofrem discriminação homofóbica. Que denunciam o cerceamento à busca por identidade e liberdade religiosa.

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Existira umparadoxo mais chocante?

Os regimes com conceitos dogmáticos e absolutos deslocaram a linguagem para um controle tão rígido e maniqueísta que todo termo precisa ser inspecionado por opacas politicas de checadores de fatos antes que se permita que sejam publicados.

Enquanto isso, as redes sociais viraram um laboratório fértil para experimentos da I.A, que como se sabe, precisa "seduzir " o cliente para manter-se na lista de consumo, tema abordado no livro Navalhas Pendentes e no extenso artigo publicado neste Estadão*. Ela e seus controladores estabeleceram assim um império algoritmo nada esclarecido onde nem mesmo ousamos rotula-lo como censura, quando é o que efetivamente tal controle representa.

9-Uma outra possibilidade - não inter excludente das demais - seja de que as grandes potências mundiais e o poder investido em seus representantes, não tenham interesse em que os conflitos regionais e mundiais se resolvam.

Importa considerar que a manutenção das guerras possa ser salutar para um sistema que agonizaria sem a sua vigência?

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O jogo-duplo e a diplomacia baseada em ambiguidades, por exemplo, podem apresentar evidentes ganhos nos pleitos eleitorais. Seus usufrutos são detectados nos discursos que os sustentam politicamente, na projeção de poder que oscila entre o show business bélico, e aquilo que se convencionou chamar de soft power.

O nobre objetivo alegado éa imposicão de uma pax insustentável e artificial. E a manutenção do status quo do mundo, ainda que às custas de sangue, suor e lágrimas das centenas de milhões de sujeitos instrumentalizados pela estratégia.

Outrora seriam pessoas, mas hoje nem podem mais ser tomados como sujeitos, porém súditos que não tem outra saída a não ser sustentar castas totalitárias e um populismo decadente, sobretudo irresponsável. Neste sentido, a missão dos manipuladores se fundiu estrategicamente à visão fanática de mundo: é provável que seu objetivo afinal seja nos tornar tão vis, belicosos e iracundos como eles.

Já que seria impossível nomear todos os líderes responsáveis pelo estado da arte, poder-se-ia usar uma palavra composta, de gosto duvidoso, para anunciar o verdadeiro nome dos responsáveis que, em pleno fim da pós modernidade, estão tentando nos arrastar todos para um grande Embustão estagnado no século VI. Quem ainda tem energia psíquica para acompanhar reportagens e os debates sabe ao que estou me referindo.

Tem que haver uma palavra contundente que sintetize tudo isso. Eu a busco ativamente pelas madrugadas. Seria essa mesma a palavra que o leitor chegou aconsiderar: são todos filhos de uma época insana.

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Nossa sorte é que, aos poucos, a implacável entropia se encarregará de solucionar todos os problemas, mesmo os que ainda não foram listados.

Só então, quando elas já não tiverem mais nenhuma relevância, teremos todas as respostas.

*https://www.estadao.com.br/link/cultura-digital/chatgpt-anuncia-revolucao-intelectual-leia-analise-de-eric-schmidt-e-henry-kissinger/

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https://www.estadao.com.br/brasil/conto-de-noticia/o-livro-dos-porques-sem-respostas/

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