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Crônica, política e derivações

Normalidade Artificial

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Normalidade artificial

Nas recentes visitas à Israel sempre busco, quase involuntariamente, os sinais de um Pais traumatizado.

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Observando as pessoas e suas reações o que emerge da realidade de campo é o que merece ser definido como normalidade artificial.

O que a caracteriza é uma mistura de um pragmatismo estoico com resignação impetuosa.

Nos ônibus, no comércio, nas ruas e parques a vida segue como se tudo estivesse estável. Como se a existência não estivesse em risco com ataques diários em pelo menos três fronts de sete países diferentes, todos subsidiados pelos fieis súditos da tiranocracia dos Ayatollah's.

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E me pergunto se já houve, no curso histórico, algum estado análogo ao "estável" ou apenas vivemos em um mundo de simulacros?

Seria preciso uma extensa alienação programática para conseguir viver com tanta pressão sem acusar o golpe.

Aqui, pondero, o golpe não é acusado, parece precisamente o oposto, quanto mais o País é atacado e vilipendiado, mais sólida, determinada e desafiadora é a resposta da nação.

As campanhas difamatórias contra este Pais e a evidente, inacreditável e abjeta objeção ao direito de defesa não são exatamente inéditas.

E elas estão nos noticiários, na agenda das mídias parciais e na ótica da ideologia instrumental dos bem pensantes. Organismos que não tem coragem para assumir seus vieses, nem tampouco o racismo latente que os guia nas supostas análises faladas com calma, ou grandiloquentemente, nos jornais diretamente de New York, Londres, Rio e São Paulo, ou nas redações de grandes jornais.

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Há poucos dias uma exposição organizada pelas ONU apresentou um painel com as vitimas do terrorismo pelo mundo. Mas havia uma exceção: nenhuma menção às vitimas massacradas e raptadas pelos terroristas do Hamas no dia 07/10, nenhuma referência aos 251 raptados (suspeita-se agora que pouco mais de 70 ainda estejam vivos).

Ao que se deveria essa omissão?

Se está lacuna não nos embrulhar o estômago, caberia arriscar a hipótese de que talvez haja algum grau de empatia pelos inimigos da humanidade?

Só não é mais chocante porque existem registros e precedentes históricos, como, por exemplo, a complacência da imprensa e das instituições mundiais durante outros massacres, particularmente na vigência da indústria de assassinatos: o holocausto no inicio da ascensão do IIIo Reich.

Enquanto isso, não bastasse a abundância de condenações apriorísticas contra Israel, somam-se acusações infundadas -- outrora conhecida como calúnia --  de apartheid. e as velhas alegações revisionistas de que a posse da terra seria ilegítima. Isso a despeito de provas científicas, documentais e arqueológicas da presença judaica continua na região remontar há mais de 3.200 anos. Mas, esqueçam, não é mais possível evocar provas contra o poder fantasmagórico das narrativas que passaram a usurpar a realidade.

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Quando nos debruçamos sobre a realidade de campo a contradição que se observa quanto às acusações de discriminação é tão gritante porque a diversidade e o convívio da sociedade israelense é uma dessas auto evidencias impossíveis de ser subestimadas:

Judeus, drusos, muçulmanos, bahais, sufis, árabes, brancos, negros, hindus, chineses, russos, latinos, religiosos e laicos, dividem ônibus, lojas, escolas praças e parques.

Ninguém pode afirmar que todos se amam (há pouco tempo comemorou-se Tu B"Av, algo como "o dia do amor"), mas digam-me lá onde é que se espera que alguém ainda tenha essa expectativa em qualquer rincão deste planeta? . Se houvesse um mínimo de honestidade intelectual a descrição mais fidedigna seria estampar na festeira das publicações "um Pais com uma notável convivência inter-religiosa, étnica e racial ainda que com tolerância reservada".

Significa um respeito tácito ás diferenças irreconciliáveis. Isso sim traduziria a percepção adequada do que se observa por aqui, ainda que ainda seja muito reducionista. Seria necessário um ensaio cinematográfico para registrar um fragmento da complexidade desta região.

Mas, é evidente, tudo isso não pode aparecer pois o único estado hebreu precisa ser indiciado como vilão, independentemente dos fatos, urge que seja condenado à revelia, sem julgamento ou por tribunais que não podem confessar seus conflitos de interesse.

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Os motivos, os argumentos, as explicações para todo este apriorismo, são apenas detalhes insignificantes.

Como os stalinistas e tiranos de todos os naipes políticos gostavam de repetir deem-nos os culpados que arrumaremos um bom processo.

Isso não significa que erros -- logísticos, estratégicos, de percepção, especialmente aqueles relacionados às Relações Publicas como muito bem observou um publicitário amigo -- não tenham sido cometidos, ainda que não possam ser atribuídos exclusivamente ao atual governo de Israel, mas a um conjunto plural e histórico de decisões.

Um impulso judeocida rege a intrigante irracionalidade que parece ter contaminado parte do Ocidente. Irracionalidade que ora se disfarça de objeções ao sionismo sem sequer compreende-lo.

Ou forçando uma distorção completamente emancipada do verdadeiro sentido original do termo, a saber, o estabelecimento dos judeus em seu lar e território ancestral.

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Ora, o álibi para se adotar tal racismo, ideologicamente racionalizado, pode ser a chave para compreender o o fenômeno que "conquistou" e colonizou -- não sem bons subsídios de países hostis aos judeus -- parcela dos jovens nos EUA e que abraçaram a causa, multidões que marcharam fazendo apologia aos estupros e decapitações praticados pelos inimigos da civilização.

Este fenômeno merece uma analise específica, já que não estará dissociada da bizarra covardia e jogo duplo de Repúblicas que se esforçaram para culpabilizar as vítimas enquanto poupavam os agressores. Ali, assim como em boa parte da imprensa, todos os discursos foram forjados dentro dos campi das principais instituições universitárias que deram guarida para organizações ora financiadas por regimes ditatoriais, ora por partidos ou grandes companhias de tecnologia. Uma delas estimulava abertamente o boicote à entrada de judeus em suas salas de aula.

Reitoras e altos funcionários foram demitidas ou pediram demissão, mas nada estrutural mudou. O antissemitismo cresce, junto com a ignorância e a desinformação.

Isso não é apenas "uma vergonha" como frisava Boris Casoy, é bem mais do que isso.

Talvez não haja terapêutica disponível, mas se houver ela passará, necessariamente, por uma reformulação das academias e dos sistemas de ensino.

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Ou, cumpra-se o diagnóstico de uma das pichações nos muros de Paris em maio de 1968: a história ensina, pena que não haja mais alunos.

Leia também:

https://www.estadao.com.br/brasil/conto-de-noticia/o-livro-dos-porques-sem-respostas/

https://www.estadao.com.br/brasil/conto-de-noticia/algumas-respostas-ao-livro-dos-porques-sem-resposta-2/

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