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Crônica, política e derivações

*O Brasil merece uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU? Talvez, jamais durante a atual administração!

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*O Brasil merece uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU? Talvez, jamais durante a atual administração! *

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Andávamos discutindo sobre direitos e deveres. Aí fomos surpreendidos com uma entrevista tua. Foi naquela mesma tarde, eu te vi andando, comemorando e comentando com teus amigos e correligionários que "pegar em armas" tem seu lado justo e todos aqueles bordões fora de contexto. De novo essa história Zé? Não aprendeu nada com a experiência? Que o terrorismo atrasou vinte anos a redemocratização do País? Você sempre abusou da palavra "revolucionário" como se fosse uma contrassenha para todo de ilicitude justificacionista. Talvez ainda ninguém teve a coragem de te dar um toque, mas é que não está mais colando.

Você agora se referia aos recentes acontecimentos no Oriente Médio. Cara, aquilo que eles fizeram em Israel não apresenta nada dos fundamentos de revolução alguma. Se você achou que tinha uma biografia, acaba de perdê-la. O que os "bravos guerreiros da resistência" fizeram foi pura perversidade com intenções genocidárias contra os judeus.

Na penumbra, naquele teu esconderijo onde tramas à noite, você sabe do que falo. Não ouvimos da tua boca nenhuma menção às mais do que comprovadas evidências de tortura, sevicias sistemáticas contra mulheres e meninas, decapitação e cozimento de bebês em fornos. Uma palavrinha sobre os civis sequestrados? Como eu suspeitava, nadinha, pois não. Então pergunto: é isso que significa teu conceito de pegar em armas?

Introduzi este pequeno histórico já que a administração que você defende agora veio com a história de reevocar uma vaga no Conselho de Segurança da ONU.

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Então, à guisa de recapitulação histórica, vamos esclarecer algumas coisas.

Você deve ter ciência do grande capital simbólico do Brasil nas Relações Internacionais. Ele foi construído durante décadas. E o papel das diversas administrações, dos mais variados partidos políticos e tendências ideológicas desde a redemocratização tinham entendido que a projeção do País dependia, de alguma forma, conseguir capitanear este modo suave e cordato, aspecto muito particular de ser do povo brasileiro.

Foi assim que o Itamaraty pode ter uma trajetória exitosa em política externa, e isso ocorreu mesmo quando havia governos autoritários no Poder. Trajetória de natureza bem-quista naturalmente moderada e instintivamente moderadora. Tradição que não chegou de maneira fortuita, e foi muitas vezes reconhecida até por lados que estavam em flagrante conflito. Ela moldou a densidade de eficientes gerações de diplomatas, culminando com chanceleres reconhecidos internacionalmente. Nomes como Oswaldo Aranha e Celso Lafer são permanentemente evocados pelo mundo da Diplomacia e entre os que atuam na arte das conversações.

Destarte, todo esse capital corre o risco de ser extraviado pela atual administração. A política externa brasileira não apenas ficou refém de uma visão monopsista, parcial e sectária, incompatível portanto com a tradição acima referida, como fez aproximações exóticas e bizarras.

A hesitação demonstrada em condenar os ataques imotivados contra civis israelenses em 07 de outubro, se alia a uma pusilanimidade difícil de ser compreendida. Some-se a isso, a imperdoável falta de empatia, incorrendo inclusive em transgressão constitucional em não tratar os brasileiros vítimas do terror massacrados de forma isonômica naquela data.

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A recusa em reconhecer entidades extremistas que praticam atos contra a humanidade como entidades terroristas é mais uma das faltas gravíssimas deste governo. Não apenas fechar os olhos para os conhecidos exércitos terroristas subsidiados pelo regime islâmico de Teerã, que lutam não apenas contra um País, mas contra todos os valores iluministas, contra a maioria dos consensos civilizados como liberdade e princípios da não malignidade. Dar guarida a um regime obscurantista, misógino, totalitário, enfim contra tudo que se entende como pertencente à cultura, aos valores decentes e humanos, expõe de forma auto evidente no que se transformou a nossa política externa.

O governo atual, com a infeliz contribuição de pitacos malignos do Assessor-Chefe da Assessoria Especial do Presidente da República do Brasil (sic) vem mostrando um alinhamento acrítico perturbador com países e nações que violam drasticamente não apenas os preceitos mínimos da democracia liberal (Cuba e Venezuela, Turquia) como perfilaram-se ao que há de mais atrasado em matéria de direitos humanos, conquistas das minorias, proteção e garantias às mulheres. (Irã, China, Rússia).

E para que?

Quais as vantagens destas interações para o Brasil e para a população brasileira?

O Objetivo seria fazer frente aos consensos construídos com os pactos do ocidente?

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Tecer uma arquitetura geopolítica que provoque Washington?

Mas, atenção, nem mesmo os condescendentes europeus estão satisfeitos com a conduta.

Então teríamos uma estratégia ao mesmo tempo anti norte-americana e anti-europeia? Se for isso, congratulações, parecem estar sendo bem-sucedidos em direção à catástrofe diplomática.

Alguém avisou a população brasileira, ou ela só pode opinar a cada 4 anos sem conhecimento de qual é a cartilha de governo que se seguirá após o pleito?

Pelo histórico pregresso, o Brasil poderia até merecer uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, mas não durante a atual  administração.  Perdeu o bonde e o mérito. Equívocos acontecem, mas pautar uma agenda atrasada e trocar uma tradição outrora respeitada de diplomacia internacional por um alinhamento efêmero com regimes que vão decerto seguir e aprofundar suas aspirações totalitárias, assim como a ruptura e dissonância com a vontade popular, torna a aspiração cada vez distante e mesmo indesejável

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Some-se a isso a burocracia baseada em deméritos instituída e costurada pelo secretário-geral daquela instituição -- que de "unidas" só sobrou interesses pecuniários sob o manto das estratégias duvidosas e ineptas para apaziguar o mundo - e teremos uma instituição inchada, obesa, repleta de vícios e sob a suspeita de corrupção institucionalizada.Sabemos que o tipo de paz que vêm sendo construída e ela parece esta reservada apenas para seu imenso e desproporcional corpo administrativo de países cúmplices.

A ideia de ciclos é benévola por isso. Sabemos que o valor do Brasil está para bem além do que aspirações mesquinhas pessoais e partidárias. Está caracterizado portanto um desvio de função da atual administração com sua grotesca plataforma nas relações exteriores, onde alinhamentos ideológicos anacrônicos substituíram a racionalidade e o equilíbrio em detrimento do País e dos interesses da sociedade brasileira.

Pois estes dias de parcialidade e impunidade cedo ou tarde terminarão e darão lugar a uma outra era, com pessoas realmente interessadas em defender os interesses da população.

Com a palavra o sempre lúcido e ex-Ministro da Cultura, Roberto Freire, quando comentou o importante Editorial deste Estadão "Lula alinha o Brasil ao Irã":

"Até onde vai o desvio promovido por Lula na política externa do nosso país. Subalternidade a um eixo de autocracias e ditaduras liderado pela China, Rússia e Irã. Vale tudo até mesmo teocracias misóginas, obscurantistas e financiadoras de terrorismo a nível mundial."

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As bravatas ideológicas passam, a natureza única do povo brasileiro que deseja uma genuína paz entre os povos e recusa qualquer forma de terrorismo será novamente prevalente em nossa diplomacia.

A paciência pode ser um vício ou uma virtude. Neste caso, não temos pressa, o poder, quando autofágico, costuma se esgotar antes do previsto. O processo já foi deflagrado.

*Paulo Rosenbaum, Paulo Rosenthal & Conselho do Grupo Internacional "Judaísmo sem Partido"

 

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