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A misógina melancolia de Von Trier

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Por danielpiza
Atualização:

De Melancolia eu esperava mais, não menos, em parte porque eu tinha lido que nele Lars Von Trier deixou de lado a violência grandguignol de Anticristo e voltou a um estilo mais parecido com o do Dogma. De fato, as cenas do casamento, com câmeras tremidas em meio à família desestruturada, lembram o movimento dos anos 90; desde a abertura, com as infinitas manobras da limusine, até a amargura da mãe e o sumiço do pai, mergulhamos gradualmente nessa realidade íntima. Chegamos até a entender parte da inclinação depressiva de Justine (Kirsten Dunst), no dia em que se casa e ainda é promovida, porque também vemos como seu marido e seu emprego são "chatos como uma calçada", na frase de Flaubert - embora não entendamos o comportamento da noiva, que ultrapassa o mau caratismo.

Mas, principalmente a partir da segunda metade, dedicada à sua irmã (Claire), quando vemos o efeito sobre as duas da aproximação de um planeta chamado Melancholia, vemos o Von Trier de sempre, com sua arrogância e misoginia. Os homens são meio bobos e monetaristas, mas também confiantes e engenhosos; as mulheres, no entanto, mais uma vez são criaturas controladas por forças maiores, seja a melancólica Justine seja a neurótica Claire, que tem um surto de histeria com a possibilidade de perder seu mundo aparentemente perfeito. As imagens "cósmicas", como em A Árvore da Vida, beiram o kitsch; os diálogos dizem coisas como "A Terra é ruim. Estamos sós no universo"; e o excesso de pausas e lentidão dão um tom pseudoprofundo à narrativa, embalada por Tristão e Isolda, apesar da ópera de Wagner tratar do destino de um casal sexualmente atrelado. Os nazistas usaram muito Wagner, Lars Von Trier elogiou a arquitetura nazista de Albert Speer. Mas há uma insuperável distância entre a grandeza trágica de Wagner e a arte grandiloquente e apocalíptica de Von Trier.

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