Decreto reduz oferta de armas, mas não resolve fuzis nas mãos de CACs, diz especialista

Governo Lula editou novos decretos para restringir acesso de atiradores esportivos a armas de fogo. Gerente do Sou da Paz diz que medida ‘ajuda a estancar desvios’

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Foto do author Marcio Dolzan
Atualização:
Foto: Instituto Sou da Paz
Entrevista comBruno LangeaniGerente de Projetos do Instituto Sou da Paz

Duas entidades ligadas à segurança pública e aos direitos humanos consideraram positivo o novo decreto de armas, assinado nesta sexta-feira, 21, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em nota conjunta, o Instituto Igarapé e o Instituto Sou da Paz declararam que a medida “corrige graves descumprimentos de princípios constitucionais e do Estatuto do Desarmamento”, além de viabilizar um maior controle sobre os armamentos em circulação no País.

Ao Estadão, o gerente de Projetos do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, afirma que as medidas anunciadas darão “transparência e razoabilidade” às regras para quem quer acessar armas no Brasil.

Ele elogiou o decreto em linhas gerais, mas também fez algumas críticas, como o que considera uma “falta de direcionamento mais rígido” para quem comprou fuzis semiautomáticos. Langeani também chamou de “ponto nebuloso” a mudança do Exército para a Polícia Federal nas atribuições legais relativas a quem quiser ter acesso às armas. “Mas está claro que o Exército se mostrou incapaz de fiscalizar minimamente a categoria”, considera.

Como recebeu as mudanças apresentadas pelo decreto de armas assinado nesta sexta-feira?

A avaliação é positiva. Está dentro do que já havia sido tornado público. Aumento de fiscalização de CACs, redução de quantidades e potência de armas, proibição de porte de CACs, entre outros. Muitos destes pontos são a concretização, com mais detalhamento, de decisões já tomadas pelo Congresso.

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Governo editou novos decretos sobre armas de fogo nesta sexta-feira Foto: Fabio Motta/Estadão

Ele ficou dentro das expectativas?

Sim. Agora podemos voltar a ter uma transparência e razoabilidade das regras para quem quer acessar armas no Brasil. Um regulamento alinhado ao que previa a lei, como deve ser, sem extrapolar as atribuições do Congresso.

As regras anteriores eram muito permissivas?

Muito. Além de retirar ilegalmente requisitos para compra - como a exigência da comprovação de efetiva necessidade-, houve um incentivo e liberação de armas mais potentes que as da polícia e em quantidades que são injustificáveis. Como explicar a liberação de 60 armas, sendo 30 fuzis, para um único cidadão? Foram brechas como essas que foram extensivamente aproveitadas por milícias e facções criminosas para aumentar seus arsenais e adquirir munições mais baratas.

Deste novo decreto, qual o senhor considera o ponto mais positivo?

O retorno à redução da potência de armas liberadas a civis e a vedação do porte de armas para CACs, que havia colocado ilegalmente quase um milhão de pessoas andando armadas no território nacional.

E o mais negativo?

A falta de um direcionamento mais rígido para as dezenas de milhares de fuzis semiautomáticos liberados para CACs. Uma coisa é você permitir que pessoas que compraram pistolas, que agora serão restritas, mantenham suas armas. Outra bem diferente é a arma que iguala ou supera aquela padrão de policiais e militares atuando em serviço no País. É sobre esse tipo de situação que o Supremo se debruçou e afirmou que só poderiam ser liberadas pelo Exército no interesse da segurança pública ou da defesa nacional.

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Nos últimos anos, houve um forte crescimento no número de pessoas que se registraram como caçadores, atiradores e colecionadores. O mesmo se viu na criação de clubes esportivos. O novo decreto limita o acesso às armas também desse grupo. Como o senhor avalia?

A explosão de CACs e clubes de tiro se deu por um afrouxamento irresponsável e sem avaliação de impacto que concedeu a esse grupo uma série de privilégios, sem acompanhamento da devida capacidade de fiscalização. O principal ponto aqui foi a questão do porte de arma. Correu para esta categoria toda sorte de pessoas que queriam andar armadas, por motivos legítimos ou não. Com o fim do privilégio e aumento de exigências - como comprovar frequência em clube -, creio que parte migrará para a Polícia Federal, fazendo minguar parte da categoria, inclusive no âmbito de clubes de tiro.

Qual a opinião do senhor sobre a transferência das atribuições relativas à aquisição e porte de armas, entre outras, à Polícia Federal?

Este ponto segue nebuloso. Mas está claro que o Exército se mostrou incapaz de fiscalizar minimamente a categoria.

Você acredita que, de modo geral, o decreto assinado nesta sexta-feira poderá melhorar os índices de segurança pública?

O decreto resolve alguns problemas. Ele reduz oportunidades de fraude usadas pelo crime para se armar, fazendo aumentar o custo da arma no mercado ilegal; reduz a entrada de armas legais registradas por pessoas que não preenchem os requisitos; permite que a polícia chegue antes para apreender armas de pessoas que perderam os requisitos legais, como por exemplo ter cometido um crime. Ao reduzir a disponibilidade de armas, e ajudar a estancar desvios, sem dúvida contribui para a redução da violência armada.

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