Dezembro é a época do ano em que comemoramos, quiçá de forma algo masoquista, o tempo em sua irresistível passagem. As práticas dezembrinas incluem os almoços e jantares com os amigos, a troca dos calendários nas paredes e o envio de cartões de festas. Mesmo com toda a especificidade e fluidez dos tempos de hoje, ao menos essa saudável tradição parece mantida.
Quanto, por exemplo, a uma outra data referente à internet no Brasil, a Abranet (Associação Brasileirade Internet) comemorou semana passada seus 25 anos de fundação, e o fez com grande estilo. Do lado das palestras, houve destaque a temas humanos e técnico importantes, como economia, efeitos da internet na sociedadee uma particularmente deliciosa: a do Amir Klink, sobre suas peripécias transoceânicas, sua forma de encarar as dificuldades, e seus conceitos de vida. Fica a recomendação a quem se interessar de tentar recuperá-la na rede.
Ainda na linha das efemérides, ontem, 6 de dezembro, foi dia de S. Nicolau, o taumaturgo, bispo de Myra do século IV e em cuja história de generosidade para com os pobres e as crianças inspirou-se a tradição de Santa Claus, ou nosso Papai Noel. Nesta data, familiarmente, além de reunirmo-nos todos para uma tradicional refeição sempre baseada em peixe, lembra-se que é o momento de se montar a árvore de Natal. Aliás, São Nicolau, como o patrono dos marinheiros e navegantes, poderia levar-nos a considerar seu nome como padroeiro das navegações modernas, hoje feitas pela internet.
Mas como patrono da internet já há outro forte candidato: Santo Isidoro de Sevilha, que foi considerado o “último polímata” do tempo antigo. Ou seja, alguém que, como a internet hoje, abarcava o conjunto de conhecimentos de seu tempo. Isso me traz outra recordação pessoal curiosa: na USP, anos 70, tínhamos acesso ao fonte do MCP (Master Control Program), o sistema operacional da antiga Burroughs. Dentro do código do MCP, a rotina que mantinha a base de dados de todas as variáveis do computador chamava-se Leibniz, certamente em homenagem a outro polímata.
Termino com mais uma analogia com S. Nicolau: foram exatamente os marinheiros italianos, devotos do santo, que muitos anos após sua morte, e tendo Myra sido conquistada pelos turcos no início do século XI, acabaram por pilhar seus restos mortais e suas relíquias. Assim parte dos ossos de S. Nicolau foram de Myra para Bari, na Itália, e hoje há fragmentos deles espalhados pela Europa toda. Ou seja, é um santo geograficamente distribuído, como a própria internet.
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