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DJ que tentou golpe no Enem manteve baladas

Localizado pela reportagem na sexta, Gregory Camillo deu entrevista enquanto comandava pista de dança

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Foto do author Renata Cafardo
Foto do author Fausto Macedo
Por Sergio Pompeu, Renata Cafardo, Fausto Macedo, Eduardo Reina e RODRIGO MARTINS E EVELSON DE FREITAS

O DJ que fez o Enem dançar estava no comando da pista de uma casa noturna quando o Estado o localizou na noite de sexta-feira, dois dias depois de ele ter tentado vender a prova. A reportagem se identificou e ele, em nenhum momento, tentou se esquivar da conversa. "Em que posso te ajudar?", perguntou Gregory Camillo, jovem de classe média, de 26 anos. Depois garantiu: "Vou me apresentar à Polícia Federal, já com meu advogado. Estou com tudo documentado, registrado em cartório, para tentar uma delação premiada."

 

Leia tudo que já saiu sobre o casoNa conversa de 11 minutos, interrompida várias vezes para que trocasse o set de músicas, Gregory admitiu ser um dos dois homens que encontraram a equipe do Estado na quarta-feira para tentar vender a prova, por R$ 500 mil. Estava identificado o "Informante", nome sugerido por ele mesmo e usado no texto publicado na sexta para descrever o encontro.Ao telefone, Gregory demonstrou arrependimento em meio à barulheira. "Sabe por que tomei a decisão de me apresentar e falar tudo o que eu sei? Porque vi na televisão que estão ameaçando vocês. E não fui eu, jamais faria isso (a repórter Renata Cafardo recebeu duas ligações com ameaças na quinta-feira)", garantiu. "Acho isso uma picaretagem tremenda. Porque não é da minha índole.""Eu gostei da atitude de vocês. Infelizmente soltaram a matéria sem o que o outro rapaz lá (Felipe Pradella, que foi com ele ao encontro de quinta) queria", disse o DJ, referindo-se ao pagamento de R$ 500 mil exigido pela dupla pelas provas.Gregory não quis revelar em qual casa noturna estava, mas disse que sairia dali para falar com o advogado. Pediu à reportagem que voltasse a fazer contato às 3 horas de sábado. À 1h30, o DJ atendeu novamente ao Estado pelo celular. Passou o telefone a quem chamou de "meu advogado". "Ainda estou me inteirando do caso, pelo visto o Gregory teve uma participação pequena em tudo isso", disse o novo interlocutor. Ele se mostrou relutante em permitir que Gregory falasse à imprensa antes de segunda-feira. Pouco depois, revelou: "Sou o pai do Gregory."Contou, então, que seu nome é Antônio José Craid, diretor jurídico da Câmara Municipal de Barueri, na Grande São Paulo. "Estou muito triste, porque falo como advogado e como pai", lamentou Craid, que pareceu chorar ao telefone. "Se ele errou, vai pagar por isso."DASLUGordinho, mais de 1,80 metro, o DJ é o mais velho de quatro irmãos - os pais são separados. Seu perfil numa rede social da internet destaca que Gregory é DJ fixo na Moon Disco, no Itaim, zona sul. Já trabalhou como residente nas badaladas The Week e Club A. Tinha participação programada no dia 28 na Fashion Night da Daslu, templo do consumo de luxo.No encontro com a equipe do jornal, na quarta, o DJ foi o mais educado da dupla. Afirmou que era servidor estadual, estudava Direito e já tinha participado de vários processos seletivos do funcionalismo. A reportagem apurou que ele de fato passou, em segunda chamada, num vestibular de Direito. Em 2006, fez prova para ser agente de Telecomunicações da polícia. O Estado recebeu a primeira indicação de quem era o "Informante" no começo da noite de sexta. Tinha o prenome e a informação de que ele talvez fosse DJ e tivesse alguma relação com os Jardins - onde fica a pizzaria de Luciano Rodrigues, também indiciado ontem no inquérito do vazamento do Enem. As equipes do Estado e do site Estadao.com.br pesquisaram no MySpace, rede social em que vários artistas têm perfis para divulgar agendas de shows. Digitando Gregory com um filtro de idade apareceram mais de cem perfis. Um deles tinha a foto do "Informante". Mas o perfil não trazia nenhum dado adicional. O nome artístico do DJ só surgiu numa busca de imagens no Google. Com ele, foi possível localizar suas páginas pessoais na web. Em uma delas, havia a informação de que ele era colaborador de um site, que, procurado pelo Estado, forneceu o celular de Gregory."VIPS"Depois de conversar por telefone com o DJ, a equipe do jornal tentou achá-lo na Moon Disco, onde ele é bastante popular. "Pô, o Gregory tá na praia", reclamou um rapaz de cabelos espetados e uma grossa corrente de prata no pescoço, conversando com um amigo na porta.Aparentemente o DJ distribuía convites "vips" que garantem desconto nas entradas, que custam R$ 120. "Aí (na Moon Disco) tem uns poucos caras com grana, mas a maioria é um bando de pé rapado", disse o atendente de um boteco próximo, praguejando porque alguns clientes tinham saído sem pagar uma cerveja. Pela faixa etária dos freqüentadores, vários clientes da casa foram vítimas do vazamento do Enem.

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