Caro leitor,
Cinco meses após a posse do presidente Jair Bolsonaro, de uma coisa se pode ter certeza: ele não terá números muito positivos na economia para entregar no final do ano. O resultado do produto interno bruto (PIB) no primeiro trimestre, queda de 0,2%, embora não tenha sido mais uma surpresa, traz alguns alertas. O que está dando errado? Por que os empresários que se mostravam tão otimistas após a eleição de outubro resolveram manter o pé no freio dos investimentos (que, aliás, caíram 1,7% no primeiro trimestre)?
A resposta parece estar muito mais na política do que na economia. Como apontou o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, em artigo aqui para o Estadão, a persistente incerteza sobre o rumo das reformas, especialmente a previdenciária, faz com que osagentes econômicos continuem vendo riscos de aumento de carga tributária, crescimento da dívida pública e de alta da inflação. “Tudo isso afeta a decisão de investir, que é feita olhando o longo prazo”, disse.
Claro, não é só esse o problema. Há questões estruturais que não serão resolvidas só com a volta do otimismo se a reforma da Previdência for aprovada. Nosso colunista Fernando Dantas conversou com o economista José Márcio Camargo, da Genial Investimentos. A avaliação de Camargo é que o Brasil vive uma enorme ressaca de um “ciclo de investimentos ruins”, fruto de políticas equivocadas dos governos Lula e Dilma, com crédito subsidiado, má alocação de investimentos públicos e privados, endividamento excessivo. E isso não se resolve de uma hora pra outra.
Nossa colunista Mônica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington (EUA), tem diagnóstico parecido em relação aos investimentos. Em entrevista, disse que o Brasil está com cara de uma economia que perdeu completamente o dinamismo. “Investimento é uma coisa que não depende das variáveis de curto prazo. Ele reflete as perspectivas futuras de como as empresas estão vendo o futuro do País”, disse. Ou seja, é preciso que se tenha confiança no futuro para investir no presente. E isso está em falta.
Às vezes, aparecem algumas tentativas de se restabelecer essa confiança. Na terça-feira, 28, dois dias após as manifestações de apoio ao presidente Bolsonaro, houve uma reunião envolvendo, além do próprio Bolsonaro, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, do Senado, Davi Alcolumbre, e do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. De lá saiu a ideia de um “pacto pelo Brasil”, um documento a ser elaborado em conjunto pelos três Poderes. “A assinatura desse compromisso mostra que os três Poderes estão imbuídos da necessidade de destravar o Brasil para retomar o crescimento e a geração de empregos”, disse Toffoliapós o encontro.
Os mercados financeiros até reagiram bem a essa ideia. Bolsa subiu, dólar caiu. Mas bem pouca gente acredita em um pacto desses. Segundo a nossa colunista Vera Magalhães, os presidentes da Câmara e do Senado voltaram da reunião com a certeza de que não há confiança de parte a parte.
Fernando Gabeira, também nosso colunista, disse achar o pacto inócuo. “Não exclui as negociações específicas para que as pautas de reforma caminhem, o que significa obter de fato os votos necessários à sua aprovação”, disse. E isso, efetivamente, o governo não tem conseguido. Editorial do Estadão faz questão de lembrar que o grande omisso nas negociações entre os Poderes e na articulação de apoios a projetos de interesse do Executivo tem sido o presidente Jair Bolsonaro.
Por conta disso tudo, a confiança na economia só cai. A expectativa que havia no início do ano de um crescimento do PIB acima de 2,5% há muito já se foi. Agora, economistas falam é em crescimento abaixo de 1%. Nessa ótica, o ano já está perdido. É preciso descobrir se o presidente conseguirá salvar os outros três.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.