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'Analistas financeiros são mais esotéricos que Nostradamus'

Escritor Paulo Coelho fala de trabalho, sucesso e dinheiro em entrevista exclusiva e debocha do mercado financeiro: “Me divirto vendo os analistas dizendo hoje uma coisa, e amanhã outra.”

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Foto do author Edmundo Leite
Atualização:

Enquanto comemora os 20 anos de sucesso como escritor e não lança um novo livro (o último foi a Bruxa de Portobello, no ano passado) Paulo Coelho passa boa parte do seu tempo viajando por diversos países. Parece férias. Mas é trabalho. Com algumas regalias, claro. E Paulo Coelho é um trabalhador disciplinado. Participa de eventos promocionais, fóruns, debates, entrevistas, enquanto administra a carreira de um dos maiores vendedores de livros do mundo e acompanha com a atenção as oscilações do mercado internacional.

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Mesmo tendo ganhado com seus livros dinheiro “para viver três encarnações”, Paulo Coelho agradece pelos pagamentos que recebe como um trabalhador assalariado que ganhou uma bonificação que garantirá uma folga no orçamento.

No último mês, fechou em Genebra, na Suíça, um contrato com a IWC, “a Rolls Royce dos relógios”, como dizia, orgulhoso, momentos antes de acertar o acordo com a empresa suíça, uma das três escolhidas pelo escritor entre as várias que o assediam. Por dois anos de contrato, receberá cerca de US$ 800 mil. Em troca terá que sempre usar um relógio da marca, além de comparecer em três eventos a cada ano.

Um deles é o Salão Internacional da Alta Relojoaria, realizado anualmente em Genebra, onde a reportagem do Estadao.com.br presenciou as conversas dos representantes da IWC com o escritor e uma assessora para o acerto do contrato. A seguir, trechos da entrevista iniciada em Genebra:

Com quantas empresas possui contrato de publicidade? Esses contratos superam os ganhos com os livros?

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HP (tecnologia), IWC (relógios) e Montegrappa (canetas). Não, nem de longe superam os ganhos com os livros. Propostas existem quase todas as semanas, de condomínios a hotéis, de marcas de bebida a telefones celulares, mas não aceito nenhuma, exceto as três acima. Entretanto, se quiser saber com o que me associaria com muito prazer: camisetas. Até hoje não recebi uma proposta adequada - não se trata de royalties, mas de distribuição. Recentemente aconteceram três meses de conversas com a H&M, mas não foram adiante. Queriam distribuição apenas na Suécia.

Era para ter seu rosto estampado, como o Che Guevara ou o KISS?

Como sabe, continuo recebendo (propostas). Mas nunca para meu rosto, e sim para as frases dos meus livros.

No Brasil, você tem algum tipo de contrato que não seja de livros, no qual cede sua imagem para alguma empresa ou produto?

Não. Já fiz um há tempo, para um banco. Mas desde então nenhuma outra proposta me interessou.

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Esse reconhecimento que desfruta na Europa, inclusive no mercado de produtos exclusivos é antagônico à imagem que tem no Brasil, onde é associado ao consumo de massa. Atribui essa diferença a quê?

Nenhuma idéia. Porque também no resto do mundo sou associado a consumo de massa.

Fazer propaganda de produtos de luxo não é contraditório com alguns valores que costuma exaltar em seus escritos ou declarações?

Na verdade, o jornalista precisa definir melhor o que são "alguns valores que costuma exaltar em seus escritos."

Valores cristãos, por exemplo.

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Eu poderia ficar eternamente elaborando a pergunta dos valores, melhor deixar de lado, porque no meu entender ela continua sem fazer sentido.

Por diversas vezes em Genebra você agradeceu por estar sendo bem pago por seu trabalho. Até que ponto o dinheiro ainda é uma preocupação em sua vida? Sei que você é um bom administrador. Além de retorno financeiro, isso te dá prazer?

Desde 1994, quando meus livros começaram a ser vendidos em escala planetária, passei a ter dinheiro para viver três encarnações. Como não posso levar nada para a próxima, isso não é uma preocupação. Entretanto, é fundamental que se diga: gosto de ser bem pago pelo meu trabalho, porque nele coloco o melhor de mim mesmo. Tenho que dar exemplo às pessoas que acham que arte deve ser dada - um artista não é mais importante que um chofer de táxi, e ambos sabem o valor do suor do rosto. Isso dito, acompanhar o mercado financeiro me dá um grande prazer justamente porque não tenho um centavo investido ali. Acho um cassino, e me divirto vendo os analistas dizendo hoje uma coisa, e amanhã outra. Os analistas financeiros são mais esotéricos que Nostradamus com suas profecias.

Durante nossa conversa em Genebra você se declarou um romântico, no sentido de querer combater e mudar certas coisas, como aquela questão de colocar os seus livros na internet. Qual a sua intenção com esses atos românticos? Além da briga pelos livros virtuais há alguma outra causa em que esteja engajado atualmente?

Colocar os livros grátis na rede, por exemplo, foi uma atitude importante no que se refere à democratização da informação. Quando, em um fórum digital em Munique, em janeiro deste ano, comentei que desde 2005 eu pirateava meus próprios livros não podia imaginar a repercussão que teria - foi notícia em quase todos os meios, desde a CNN até a Newsweek. Mas tenho acompanhado as páginas especializadas, e vejo, com alegria, que criei um paradigma. Tenho o Instituto Paulo Coelho, que usa grande parte do meu dinheiro para projetos com terceira idade, hospitais, sustento de famílias necessitadas e o Solar Meninos de Luz, na favela Pavão Pavãozinho, ao lado da minha casa - que se ocupa de 430 crianças e adolescentes. Como Mensageiro da Paz das Nações Unidas, tenho participado de seminários no mundo inteiro, procurando discutir alternativas para os conflitos atuais.

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Já leu a sua biografia que o Fernando Morais escreveu? O que achou?

Não li nem uma só linha. Estou esperando esta biografia desde maio do ano passado, que era a data marcada para a entrega. Espero que saia antes das próximas eleições americanas, mas talvez esteja sendo otimista.

Porque resolveu se mudar da cidadezinha onde morava e ir morar em Paris?

Não moro em Paris, mas no Rio de Janeiro. Tenho um apartamento ali e isso me facilita a vida quando se trata de passar mais tempo na Europa. Quanto à casa nos Pirineus, estou aqui neste momento, indo para o Festival de Cannes.

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