Enquanto toca seu estúdio de gravações num antigo e charmoso sobrado no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, Arnaldo Brandão conta a quem interessar as muitas histórias que já viveu ou presenciou na música brasileira. E não são poucas. Orbitando em torno de astros de primeira grandeza, Arnaldo é como um daqueles satélites que por vezes passam despercebidos a olho nu, mas cuja trajetória tem influência direta na órbita do astro principal.
Se na década de 70 o telescópio mostra Arnaldo como baixista da banda A Bolha e músico de apoio de medalhões da MPB, ajustando as lentes para a era seguinte é possível rastrear a evolução para compositor, com o seu nome aparecendo como autor de sucessos emblemáticos da década de 80. O Tempo Não Pára, com Cazuza, e Rádio Blá, com Lobão, são alguns deles, relembrados nesse disco, Arnaldo Brandão - Ao Vivo, que também tem Totalmente Demais, hit de seu grupo Hanói Hanói. As três faixas estão juntas no final do CD, gravado ao vivo em 2003 e que agora chega ao público calcado em distribuição própria e vendas pelo site do artista.
Nas outras 11 faixas, Arnaldo tenta tirar o ar de revival do disco, mesclando músicas de seu trabalho solo com outras composições menos conhecidas dos tempos do Hanói. A troca do seu instrumento original - o contrabaixo - por um violão suaviza a pegada de Arnaldo, mudança também percebida em sua voz.
Nas letras, uma aparente obsessão: a “mídia”, com o tema aparecendo na faixa de abertura, Tá na Mídia, na de encerramento, a inédita O Bicho, inspirada no caso do Maníaco do Parque, e em Assistindo TV, uma colagem de temas de programas da apresentadora Silvia Popovic. Outra aparente obsessão - personagens mundanas como as antimusas descritas em Totalmente Demais e Rádio Blá - também são recorrentes em faixas como Cheira a Confusão e Inverno Europeu.
Originalmente publicado no estadão.com.br
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