Olimpiada do México, 1968. Apesar de estar presente num dos momentos e, consequentemente, numa das fotos mais famosas da história moderna, o atleta Peter Norman é pouco lembrado. As atenções do momento histórico que o australiano participou, com razão, são para os outros dois protagonistas: os atletas norte-americanos Tommy Smith e John Carlos, que erguerem os punhos com luvas pretas para protestar contra o racismo nos Estados Unidos na cerimônia de premiação da prova dos 200 metros rasos naqueles Jogos Olímpicos.
Mesmo não tendo um lugar de fala para erguer o punho ali no pódio onde o mundo todo os assistiam, Peter Norman também entraria para a história com sua atitude decisiva de apoio aos atletas negros.
Já no vestiário onde se preparavam para a entrega das medalhas [Tommy Smith levou o ouro, Peter Norman, a prata, e John Carlos, o bronze] o australiano disse que os apoiaria quando os dois americanos lhe explicaram que iam fazer o protesto. “I’ll stand with you” [Eu apoiarei vocês], disse Peter. Pediu para si um broche do “Projeto Olímpico para os Direitos Humanos”, símbolo do movimento negro Black Power pelos direitos civis que os atletas levariam em seus uniformes e também o fixou em seu agasalho, acima do símbolo da Austrália.
Peter Norman teve ainda um papel decisivo para a plasticidade do momento histórico. Após vestirem meias pretas e se adornar com um lenço preto e um colar, os americanos perceberam que um deles esqueceu o par de luvas pretas que seria o item essencial do protesto. Peter Norman então sugeriu que dividissem o único par de luvas e cada um usasse uma peça - um na mão esquerda, o outro na direita. Com a sugestão de Peter Norman e seu botom no peito, estava esteticamente pronto o quadro que entraria para a História.
"Achei que era uma boa oportunidade de um homem branco colocar-se ao lado deles. Acredito nos direitos civis para todos, que todos os homens são criados igualmente e que todos devem ser tratados como sêres humanos", declarou Peter Norman após o protesto, conforme registrou o Jornal da Tarde em 1968.
Espanha, 2023. Além do horror dos ataques racistas a Vini Jr, é assustador assistir à passividade dos jogadores adversários com o racismo dos torcedores de seus clubes de futebol na Espanha. Vamos torcer para que algum dia possam aprender alguma coisa com Peter Norman.
O livro “The Peter Norman story” [A história de Peter Norman], de Andrew Webster e Matt Norman e publicado pela editora editora Macmillan Australia, está disponível digitalmente, em inglês, na livraria da Amazon e outras plataformas.
Leia também
Memória, gente e lugares
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.