Egito quer acabar com 'praga' de ambulantes nas pirâmides

Projeto de modernização tem objetivo de proteger os turistas e os monumentos.

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Por Rodrigo Durão Coelho

O governo egípcio completou a primeira fase de um projeto de modernização das pirâmides de Guizé que pretende expulsar os ambulantes da área para benefício dos turistas. Quando integralmente implementado, o projeto deve incluir uma cerca de 18 quilômetros equipada com sensores infra-vermelhos, impedindo presenças indesejadas no complexo onde estão as pirâmides e a Esfinge. "Ninguém vai entrar nessa área a menos que tenha um tíquete magnético", afirmou Farouk Hosny, ministro da Cultura do Egito, à agência de notícias AP. A grande quantidade de ambulantes que atuam na área, oferecendo cartões postais, lembranças e passeios de camelo ou cavalo, costumava ser uma reclamação comum dos turistas. Insistentes, eles não costumavam aceitar não como resposta. "Era um zoológico", disse Zahi Hawass, a maior autoridade arqueológica egípcia. "Agora estamos protegendo os turistas e os monumentos." Politicamente correto Erguidas há mais de cinco mil anos, as pirâmides de Guizé são a única das Sete Maravilhas do mundo antigo que ainda existe. Com o tempo, as pirâmides viram a aproximação da cidade do Cairo, que hoje encosta em um de seus lados. O deserto do Sahara, que se estende pelo outro lado, continua a servir de pano de fundo para fotos de turistas. Apesar da irritação causada pelos ambulantes, percorrer de camelo a distância (coberta em cerca de 20 minutos) entre as pirâmides e a Esfinge costuma ser, para muitos turistas, uma boa oportunidade para tirar fotografias. Na segunda-feira, dia em que Hosny e Hawass estiveram presentes no local para anunciar os planos, os ambulantes haviam sido retirados e alguns poucos negociadores de animais observavam os turistas, à distância, aparentemente proibidos de se aproximar. "Realmente os ambulantes irritam um pouco, mas fazem parte da cultura local e eles ganham o dinheirinho deles", afirma a jornalista paulistana Renata Zulli, que havia visitado o local um dia antes. "Colocar uma cerca vai descaracterizar ainda mais a área", diz Renata. Outra jornalista brasileira, Aline Stivaletti, que conheceu o local junto com Renata, também criticou a medida. "É ridículo, querem acabar com o mais legal que é o passeio de camelo. Vão tornar tudo mais politicamente correto e chato", diz ela. Mudanças lentas Ao anunciar os planos, Hawass disse que "pela primeira vez, a mágica e o mistério das pirâmides vão ser vistas por todos que vierem ao Egito". Entretanto, apesar das frases grandiosas, ainda pode demorar para que as coisas realmente mudem em Guizé. Na tarde de terça -feira, dois dias depois do anúncio, aparentemente, o número de ambulantes já superava o de turistas, oferecendo passeios de camelo, visitas guiadas e cartões postais com o mesmo entusiasmo de sempre. O governo egípcio admitiu que as mudanças, que fazem parte de um projeto de US$ 26 milhões (R$42 mi) iniciado há sete anos, vão ser feitas gradualmente, para evitar uma crise em uma sociedade que já convive com uma alta taxa de desemprego. Nos planos estão ainda a introdução de veículos elétricos para transportar os turistas das pirâmides até a Esfinge, além de um restaurante, uma livraria e um novo sistema de iluminação. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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