Por Matheus Nobre
Apesar de ainda ser embrionário nas universidades, o jornalismo de dados transformou-se em uma realidade na imprensa. Daniel Bramatti, editor do Estadão Dados e Estadão Verifica, acredita que as faculdades precisam incorporar o tema em suas grades curriculares. Para o jornalista, as exigências e demandas dos profissionais mudam rapidamente e fazem uma reflexão para o futuro: "Talvez até essa definição de 'jornalista de dados' meio que desapareça, porque vai ser obrigatório que o jornalista tenha o domínio dessa técnica e dessas ferramentas", disse.
Para Bramatti, o profissional que chega ao mercado com conhecimentos sobre dados está um passo à frente dos demais. Se fosse estudante atualmente, o jornalista afirma que faria muitos pedidos de Lei de Acesso à Informação (LAI). "Quem fizer isso vai entender como funciona burocracia, como os dados chegam, entender as dificuldades de coletar, trabalhar e limpar os dados, extrair a informação correta. É um processo de aprendizado que vai facilitar muito o trabalho do jornalista no futuro", recomenda. E completa: "Eu considero que o jornalista é e tem que ser uma pessoa em constante formação".
A profissionalização é o primeiro passo para quem deseja trabalhar com dados. De acordo com Bramatti, mesmo aqueles que moram longe dos grandes centros podem fazer cursos relacionados ao tema. Ter interesse no assunto é o ponto principal". O estudante vai encontrar recursos, muitos em inglês, alguns em português. Alguns pagos, outros gratuitos. Tem muito conteúdo de qualidade, educativa na internet para aprender a mexer com isso", explica. A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), da qual Bramatti é presidente, oferece cursos presenciais e à distância sobre os principais temas que abrangem o jornalismo de dados.
O jornalista é editor do Estadão Verifica, setor do jornal responsável por checagem e verificação de informações. Desde sua criação, há cinco meses, a equipe já recebeu quase 80 mil mensagens. São pedidos de verificação de conteúdo suspeito na internet. Apesar de uma demanda muito alta de trabalho manual e dedicação dos jornalistas, o editor diz ser gratificante perceber que está prestando um serviço que as pessoas precisam e que está convencido de que esse é um serviço necessário para a democracia. De acordo com o jornalista, este é um projeto que continua no período pós-eleitoral.
O núcleo de checagem do Estadão faz parte do projeto Comprova, uma coalizão entre 24 veículos de mídia. Bramatti é porta-voz do projeto que foi elaborado para combater às Fake News durante as eleições e faz um balanço positivo do trabalho do grupo. "É muito surpreendente que a gente veja um projeto colaborativo entre concorrentes, em um período de crise de imprensa, com pouco recurso e muita demanda de trabalho. Nesse momento, o fato destes veículos colocarem parte dos seus recursos para trabalhar nesse projeto fala muito bem a respeito deles", analisa. Ele espera que esse projeto prospere e se torne realidade em novos pleitos.
Veículos internacionais como o The New York Times e Washington Post são referência quando o assunto é jornalismo de dados, segundo o editor. Para ele, os americanos dão aula neste assunto. Questionado sobre sua produção preferida, Bramatti fala sobre uma reportagem construída a partir de uma hipótese, que posteriormente foi confirmada através de informações de base de dados.
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