E por que o perfil é um gênero jornalístico difícil? Primeiro, porque exige uma extensa e trabalhosa etapa de apuração. É necessário compreender como uma pessoa pensa, qual sua história, seus dramas, suas alegrias. Aí entram princípios fundamentais da reportagem (já citados neste blog, mas relembrados agora), como costuma dizer o professor Paco Sánchez, em seu típico "pacunhol": saber escuchar e mirar.
Detalhes como os olhares, as pausas da voz, a posição das mãos e em que momentos elas se movimentam. A reação ao vento que sopra, à campainha que toca, à pergunta instigante. Tudo é informação, que não necessariamente vai estar no texto, mas que servirá para entender a alma do retratado. Portanto, além do escuchar e mirar, o sentir (também em "pacunhol", caso contrário não tem a mesma graça) faz-se fundamental para elaborar um perfil. Retratar uma pessoa e traduzi-la em palavras prescinde de sensibilidade para se comover com suas alegrias e tristezas, para entender o que é importante em seu perfilado (palavra horrível, eu sei, mas me esgotaram os sinônimos).
Isso é o básico para um perfil de sucesso. Só assim a alma do retratado será entendida. Só assim o perfil terá alma. Se não tem alma, não é perfil, mas um conjunto de palavras sobre alguém. Algo que não chora, algo que não ri, algo que não pulsa. Algo que não é nada.
E como eu adoro fazer perfis, mas tenho que fazer aquela ressalva sobre a qual falei no começo do post, deixo o espaço para quem melhor entende. Aprenda com Gay Talese em Frank Sinatra has a cold.
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