Após o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), decretar estado de emergência por 180 dias na capital alagoana, na noite de quarta-feira, 29, em virtude do risco iminente de desabamento da mina 18 da Braskem, moradores do bairro do Bom Parto e da região conhecida como Flexal, localizada no bairro Bebedouro, estão vivendo momentos de tensão.
Lideranças locais afirmam que, desde que a Defesa Civil de Maceió emitiu o comunicado informando o agravamento do quadro na região do antigo campo de futebol do CSA, as comunidades estão em pânico e revoltadas.
Uma decisão judicial determina a saída de 27 famílias da área de risco 00, que abrange os dois bairros. Destas, 14 ainda não saíram de casa. De forma preventiva, a prefeitura também está atuando para a retirada voluntária de moradores da região ribeirinha, próxima à mina, que apresenta risco de colapso.
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/67CZUO5LI5FYJGG4WSVGKDZF2M.jpg?quality=80&auth=bd83e5eeb5027aec4af4dbcbf65bf2077ec014223f79d9ff4859318e9ae32ac5&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/67CZUO5LI5FYJGG4WSVGKDZF2M.jpg?quality=80&auth=bd83e5eeb5027aec4af4dbcbf65bf2077ec014223f79d9ff4859318e9ae32ac5&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/67CZUO5LI5FYJGG4WSVGKDZF2M.jpg?quality=80&auth=bd83e5eeb5027aec4af4dbcbf65bf2077ec014223f79d9ff4859318e9ae32ac5&width=1200 1322w)
“Antes, nós tínhamos constantemente informações sobre o estado das minas. Agora, somos pegos de surpresa. Na terça, falaram que estava tudo bem, quando ocorreram alguns tremores de terra e agora eles chegam nas casas e exigem que a gente saia de uma hora para outra”, disse o líder comunitário do Flexal, Maurício Sarmento.
Com medo do pior acontecer, Sarmento preferiu deixar a sua casa, que não está no plano de medidas emergenciais da área de risco de colapso. “Na região que eu moro são cerca de 3 mil moradores e dez famílias saíram por conta própria. Queremos sair daqui há tempos, mas com o mínimo de assistência garantida, como um aluguel”, diz.
Morador do bairro do Bom Parto há 63 anos, Aguinaldo Almeida, que também é líder comunitário, ressalta que há um sentimento de muita preocupação, principalmente nos moradores que vivem na Vila São Francisco, localizada cerca de 200 metros da Lagoa Mundaú.
“Queremos planejamento e certeza. Vai afundar ou não vai afundar? Qual a extensão do problema? As histórias estão contraditórias. Não vou sair da minha casa para ir ao abrigo sem nenhuma proposta ou indenização”, afirma.
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/6WZZLCOSGNAK5BSYXS4ZPZ4SPU.jpg?quality=80&auth=752749a1f538f632cf88a2b8668ee192ca10a54b85fcd39b447cfffa06aa60e7&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/6WZZLCOSGNAK5BSYXS4ZPZ4SPU.jpg?quality=80&auth=752749a1f538f632cf88a2b8668ee192ca10a54b85fcd39b447cfffa06aa60e7&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/6WZZLCOSGNAK5BSYXS4ZPZ4SPU.jpg?quality=80&auth=752749a1f538f632cf88a2b8668ee192ca10a54b85fcd39b447cfffa06aa60e7&width=1200 1322w)
Problema atingiu serviço de saúde
Localizado no Pinheiro, um dos cinco bairros afetados pelo afundamento do solo, o Hospital Geral Sanatório informou que, por medidas de segurança, precaução e prevenção de desastres, os pacientes internados serão remanejados para outras unidades. De acordo com a direção do hospital, a decisão ocorre em comum acordo com a gestão estadual e municipal.
“Efetuaremos o remanejamento dos pacientes internados para outros hospitais, assim como garantiremos a continuidade, em outros serviços, dos pacientes submetidos rotineiramente a sessões de hemodiálise nas dependências de nosso hospital”, diz trecho da nota.
Famílias encaminhadas a oito escolas e uma casa de passagem
Em nota, a Prefeitura de Maceió informou que existe uma decisão judicial desde o ano passado determinando a saída das pessoas que moravam na área 00 para realocação, mas estas famílias teriam se mostrado resistentes a deixar o local. “A Defesa Civil vem acompanhando a área e adotando as medidas necessárias para resguardar a vida e que as tratativas relacionadas à realocação das pessoas da área 00 do mapa estão sendo feitas pela Braskem”, diz um trecho da nota.
Ainda conforme a gestão municipal, foram disponibilizados sete prédios públicos para receber as famílias. São eles: a Casa de Passagem Familiar e as escolas Senador Rui Palmeira, Higino Belo, Maria Carrascosa, Antídio Vieira, Orlando Araújo, Manoel Pedro, Brandão Lima, Pompeu Sarmento e Lenilton Alves. Os abrigos contam com colchões, alimentação, kits de higiene e limpeza, além de segurança e a assistência de equipes da Secretaria de Desenvolvimento Social.
De acordo com a Braskem, equipes trabalham monitorando a situação da mina 18, localizada no bairro do Mutange. Os dados atuais de monitoramento demonstram que o movimento do solo permanece concentrado na área dessa mina.
Ainda conforme comunicado da Braskem, a área de serviço da empresa, onde são executados os trabalhos de preenchimento dos poços, está isolada desde a tarde da terça-feira, em cumprimento às ações definidas nos protocolos de segurança.
“A realocação preventiva de toda a área de risco foi iniciada em novembro de 2019 e 99,3% dos imóveis já estão desocupados (dados de 31 de outubro de 2023). A Braskem continua tomando todas as medidas cabíveis para minimização do impacto de possíveis ocorrências, e segue colaborando estreitamente com as autoridades competentes”, explicou a empresa.