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Entenda como vingança motivou morte por engano de médicos no Rio e gerou reação de facção

Polícia do Rio já concluiu que médicos foram mortos por engano. Após o erro, a principal suspeita é que os executores tenham sido punidos pelos próprios comparsas. Apuração segue, diz governador

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A Polícia Civil do Rio de Janeiro segue investigando o assassinato dos três médicos que estavam em um quiosque na Barra da Tijuca (zona oeste), na madrugada de quinta-feira, 5. Mas já concluiu que eles foram mortos por engano porque um deles foi confundido com o verdadeiro alvo dos criminosos.

Enquanto a polícia procurava os autores, os próprios comparsas são suspeitos de terem julgado o grupo pelo erro, condenado e matado quatro pessoas. Ao comentar o caso nesta sexta-feira, o governador Cláudio Castro classificou milícias e facções como “verdadeiras máfias” com seus “próprios tribunais”. Entenda a seguir os capítulos dessa história ainda sob investigação policial.

1. ‘Vin Diesel’ é assassinado na zona oeste

Segundo a investigação, em 16 de setembro milicianos que atuam na zona oeste do Rio mataram o traficante Paulo Aragão Furtado, conhecido como Vin Diesel. Esse assassinato, praticado no bairro Gardênia Azul, na zona oeste, teria sido cometido sob as ordens de Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, filho de Dalmir Pereira Barbosa, o líder dessa milícia.

2. Grupo arma vingança contra miliciano

Furtado era aliado de Philip Motta Pereira, o Lesk, que já foi miliciano e aderiu à facção criminosa Comando Vermelho. Lesk então passou a planejar a morte de Taillon, como vingança. Taillon havia sido preso em dezembro de 2020 e de março a setembro deste ano cumpriu prisão domiciliar em sua casa na Avenida Lucio Costa, na Barra da Tijuca. Desde 29 de setembro, quando ganhou liberdade condicional, passou a ser procurado pelo grupo adversário.

3. Médicos são atacados em quiosque da Barra

Na noite de quarta-feira, 4, um criminoso viu o médico Perseu Ribeiro Almeida com três amigos em um quiosque na Avenida Lucio Costa e o confundiu com Taillon – eles são parecidos fisicamente, e o médico estava muito próximo da casa de Taillon.

Perseu (à direita) pode ter sido confundido com miliciano alvo do tráfico (à esq.) Foto: Polícia Civil-RJ

Os médicos tinham ido ao Rio para um congresso de medicina e se hospedaram no mesmo hotel da Barra da Tijuca onde o evento ocorreria a partir da quinta-feira, 6.

Na noite de quarta-feira, saíram do hotel, foram até o quiosque, comeram sardinhas e já haviam pago a conta quando quatro homens chegaram e mataram Almeida e dois de seus três colegas – o quarto médico sobreviveu e está internado em um hospital do Rio.

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Segundo aponta a apuração policial, os matadores haviam sido acionados supostamente por Lesk, que imaginava se tratar de Taillon e não de um médico que nada tinha a ver com a vingança.

Quiosque na Avenida Lucio Costa, na Barra da Tijuca, onde, segundo a polícia, o médico Perseu Almeida foi morto após ser confundido com um miliciano  Foto: Pedro Kirilos/Estadão

4. Punição do crime e ‘call’ de Bangu

Diante do engano e da repercussão do crime, líderes do Comando Vermelho, a quem Lesk era subordinado, teriam feito uma reunião horas depois do crime para “julgar” Lesk e os demais criminosos que mataram os médicos, aponta a apuração.

Líderes da facção criminosa presos na penitenciária Gabriel Ferreira Castilho, conhecida como Bangu 3, no complexo penitenciário de Gericinó, em Bangu (zona oeste), teriam participado por videoconferência, usando telefones celulares. O grupo decidiu matar os executores dos médicos.

5. Corpos encontrados

Na noite de quinta-feira, a Polícia Civil encontrou quatro pessoas mortas – pelo menos duas delas suspeitas pelo crime – em dois carros abandonados na zona oeste. Seriam justamente os autores dos assassinatos dos médicos, punidos pelos próprios comparsas.

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Até a tarde desta sexta-feira, a polícia havia divulgado o nome de dois dos quatro mortos: Lesk, que estava no porta-malas de um Toyota Yaris abandonado na Gardênia Azul, e Ryan Soares de Almeida, que estava com outros dois corpos em um Honda HR-V abandonado no bairro Camorim. Agora, a polícia tenta identificar os autores da morte desses quatro homens.

Investigação continua, diz governador

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), afirmou nesta sexta-feira, 6, que a investigação sobre o assassinato de três médicos na Barra da Tijuca, na madrugada de quinta-feira, 5, vai continuar, embora um grupo de suspeitos tenha sido morto supostamente por seus próprios comparsas e superiores hierárquicos, como castigo por terem se enganado ao identificar a vítima.

Castro falou sobre o caso nesta sexta-feira, 6 Foto: Pedro Kirilos/Estadão

O governador classificou as facções criminosas e milícias que agem no Estado do Rio como “máfia”: “Estamos falando de uma verdadeira máfia, que tem entrado nas instituições, nos poderes, nos comércios, nos serviços e no sistema financeiro nacional. (Ela) tem seus próprios tribunais e vem atuando nas mais diversas esferas”, afirmou, ressaltando que o problema não é exclusivo do Rio, mas nacional.

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“Nós estávamos preparados para prender esses criminosos quando fomos surpreendidos por esse pseudo tribunal do tráfico. Mas ainda assim as investigações continuam. Se eles acharam que iam punir os próprios (comparsas) e (a investigação) ia acabar, não é isso que vai acontecer”, disse.

“As investigações continuam inclusive para que elas cheguem nessa guerra do tráfico com a milícia. Se a motivação foi essa, mais ainda a gente vai ter que investigar e combater. Da parte das forças de segurança estaduais não há alteração alguma do planejamento. Nós agimos rapidamente na elucidação desse crime bárbaro e vamos continuar o trabalho, não retrocederemos em nada. Todo o planejamento está mantido”, afirmou Castro.

Sobre a suposta participação de integrantes do Comando Vermelho presos no complexo penitenciário de Gericinó, em Bangu, no “julgamento” que determinou a morte dos comparsas que teriam se enganado ao matar os médicos, o governador afirmou que foram apreendidos celulares na penitenciária e haverá investigação.

“O que nos parece é que até eles se indignaram com a ação dos seus próprios (comparsas) e eles fizeram essa punição interna. Temos que achar, inclusive, quem cometeu esse segundo assassinato. É óbvio que eles já sabiam quem tinha sido (o autor das mortes supostamente por engano), foram à frente e puniram eles. Tem que ver se foram todos, se tinha mais gente envolvida, a investigação não muda em nada”, disse.

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