A crise diplomática entre os governos de Honduras e do Brasil poderia, em tese, evoluir para um conflito militar. Mas a possibilidade é remota, não é simples nem é fácil. E é preciso considerar que é caro fazer a guerra, ainda mais se o teatro de operações está a 5 mil km de distância. Em um País cuja Defesa demorou 33 anos para receber investimentos e as Forças convivem com o constrangimento de não ter dinheiro para oferecer três refeições ao dia para a tropa, o problema é complexo. O trabalho mais provável das Forças Armadas no agravamento da situação é o de garantir a retirada em segurança dos 460 cidadãos registrados pela embaixada no país. A Aviação e a Marinha têm os meios e já cumpriram missão semelhante em áreas de risco, como no Líbano, pouco antes da invasão de 2006. Mesmo se a embaixada em Tegucigalpa fosse invadida, o ato seria visto como um atentado contra a inviolabilidade territorial diplomática e implicaria reparações, mas não provocaria uma intervenção armada - ao menos não de imediato. O país agredido teria de levar o caso ao Conselho de Segurança da ONU, que diria se o episódio constitui ou não uma "ameaça à paz e à segurança internacionais". Em caso positivo, a Organização dos Estados Americanos (OEA) poderia discutir a criação de uma coalizão para restabelecer a ordem, restaurar a paz e recuperar o processo democrático - definidos pela entidade em 1965, quando houve a formação da Missão Interamericana que atuou na República Dominicana. Há 44 anos, participaram cerca de 1.100 soldados e fuzileiros navais brasileiros durante 16 meses. As forças de Honduras somam menos de 18 mil homens. A aviação utiliza cinco ou seis caças F-5E, supersônicos, remanescentes de um lote de oito, fornecidos pelos EUA há 25 anos, quando havia a ameaça de invasão pela Nicarágua.A única tropa com capacidade efetiva é uma bem treinada brigada de Operações Especiais, provavelmente sob consultoria americana.Segundo a analista espanhola Mari García uma ação unilateral brasileira "não ajudaria a encontrar a solução e seria um fator complicador". Militares, embora reconheçam a superioridade do Brasil em uma eventual interferência, lembram que haveria necessidade de receber abrigo de uma nação vizinha, uma barreira difícil, já que Honduras faz fronteira ao norte com o Golfo de Honduras; a nordeste com o Mar do Caribe e o território marítimo colombiano de San Andrés y Providencia; ao sul, com a Nicarágua, Golfo de Fonseca e El Salvador; e a oeste com a Guatemala. A população não passa de 7,6 milhões. Cerca de 5% vivem nos EUA.
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