O despejo de esgoto sem tratamento nos mares do mundo polui as águas, o litoral e põe em risco a saúde e o bem-estar dos povos e dos animais que habitam essas áreas, de acordo com um sombrio relatório elaborado pela ONU sobre a questão. Além dos esgotos, os oceanos sofrem com o despejo cada vez maior de nutrientes, como os que escorrem a partir de terras cultivadas, que estimulam o desenvolvimento de algas tóxicas que acabam com o oxigênio das águas, a destruição de ecossistemas como os manguezais e uma maré crescente de lixo, de acordo com o relatório Estado do Ambiente Marítimo, do Programa Ambiental das Nações Unidas. "Estima-se que 80% da poluição dos mares tenha origem em terra, e isso poderá aumentar significativamente até 2050 se, como se espera, as populações costeiras dobrarem em 40 anos e a ação para combater a poluição não acelerar", diz o chefe do Programa Ambiental, Achim Steiner. "Talvez, no século 20, tenhamos imaginado o oceano como nossa estação de tratamento de esgoto", disse Steiner a jornalistas. "Mas o esgoto não é mais uma coisa que jogamos no mar e o mar resolve para nós". Há, no entanto, sinais de progresso: a poluição por petróleo está diminuindo, e há melhorias na prevenção da contaminação dos mares por materiais radioativos, produtos químicos industriais e pesticidas. A quantidade de petróleo nos mares "caiu a 37% dos níveis de 1985", diz o relatório, com acidentes envolvendo petroleiros caindo 75%. A despeito disso, o relatório, que reúne dados de governos e pesquisadores de todo o mundo, adverte que a mudança climática e a perda de gelo está abrindo as regiões do Ártico para o transporte de carga e para a exploração de petróleo, aumentando a vulnerabilidade da área. Além disso, a poluição por petróleo ainda é severa ao redor de portos em países como Bangladesh, Indonésia, Paquistão, Malásia e Nigéria. Outro problema para regiões costeiras e corais é a mudança na quantidade de sedimentos que chega ao litoral, causada por barragens e desflorestamento. "Alguns litorais... estão encolhendo, porque os solos ficam presos rio acima", alerta o relatório. "Outros sofrem pela razão oposta - quantias artificialmente altas de sedimentos correm pelos rios, sufocando a vegetação marinha, assoreando recifes de coral e entupindo outros ecossistemas importantes".
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