O Brasil tem 75 parques nacionais. Explorar essa lista pode parecer simples, mas não era tão acessível até pouco tempo atrás. Só depois que Dennis Hyde e Letícia Alves, um casal de apaixonados por viagens e natureza percorreu todos esses locais ao longo de três anos e meio, é que fazer essa consulta ficou fácil.
“Nosso desejo é povoar o imaginário coletivo dos brasileiros com os parques nacionais e que as pessoas entendam a importância deles”, resume a psicóloga Letícia Alves.
Tudo começou após uma viagem de férias pelos Parques Nacionais da Serra da Capivara (Piauí), Serra das Confusões (Piauí) e Chapada das Mesas (Maranhão). “A viagem mexeu muito conosco e começamos a pesquisar quantos parques nacionais existiam no Brasil, se eram tão bonitos e interessantes quanto os visitamos”, conta o economista Dennis Hyde.
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A missão de mapear e incentivar o turismo aos parques começou no Dia do Meio Ambiente de 2021 (5 de junho), ainda no meio da pandemia. Ao todo foram, 90 mil quilômetros de carro, 10 mil km de barco, 3,5 mil km em trilhas, 6 terrabytes de fotos e muita história para contar.
O resultado foi a criação do EntreParques, um site e um canal no Youtube e no Instagram. Em janeiro, eles também lançaram uma WebSérie de oito episódios, em parceria com o Instituto Semeia (organização sem fins lucrativos que fomenta o desenvolvimento socioeconômico sustentável de parques e unidades de conservação brasileiras).
Cada um dos episódios de cerca de dois minutos, fala de um parque representante de um dos biomas brasileiros: Caatinga, Amazônia, Mata Atlântica, Pampa, Pantanal, ambiente marinho costeiro e ecótono (áreas de transição ambiental).
Qual parque visitar?
E, depois de todo esse percurso, qual foi o favorito deles? Bom, uma resposta exatamente assim eles não dão. “Cada parque ensinou algo novo sobre natureza, história e cultura do Brasil”, afirma Hyde.
E, segundo eles, todos proporcionaram alguma situação capaz de arrancar aquele ‘uau’ do visitante. Muitas vezes a surpresa não vem logo de cara, mas sim ao longo dos 15 dias, em média, que ficaram em cada parque.
Essa foi a parte favorita deles: aproveitar cada canto sem pressa e deixar se surpreender. “Normalmente, nas férias, queremos fazer valer: ir em todos os lugares, não perder nada”, compara Letícia.
Mesmo sem eleger um parque para o topo do ranking, o casal aponta quais os mais indicados para cada perfil de viajante.
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- Para tomar banho de cachoeira: Parque Nacional da Serra do Cipó, em Minas Gerais
Foi relutante a escolha desse parque, mas foi eleito pelo casal por causa das opções de cachoeiras e banho e também pelo ambiente agradável para curtir o dia próximo das águas.
Além disso, é um parque próximo de Belo Horizonte (cerca de 100 km). com acesso e trilhas fáceis. Por isso, nenhum dos atrativos requer guia obrigatório.
- Difícil de chegar, mas que vale muito a pena: Parque Nacional de Pacaás Novos, em Rondônia.
Pelo fato de o parque estar sobreposto a um território indígena, você precisa da autorização de todas as tribos (são mais de quatro). “Tem de querer muito. Ficamos meses nessa troca de conversas, pedidos. Não é fácil”, conta Letícia.
- Acesso e trilha fácil e vista imperdível: Parque Nacional de Ubajara, no Ceará
O parque conta com bondinho, tem entrada tranquila e site bem explicativo. Muito antes de ser parque, pessoas moravam naquela região e a instalação do bondinho serviu tanto como meio de transporte para os moradores, quanto como atração turística. Ele leva da parte alta até a Gruta de Ubajara, ainda hoje um dos pontos mais visitados do parque.
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- Parque com a certeza de que você vai ver bicho: Parque Nacional das Emas, em Goiás
O Cerrado é um dos bioma mais fácil para o avistamento de animais e esse local é como se fosse um refúgio para a biodiversidade. Por ser pouco visitado, é ainda mais fácil de ver animais ao entorno. O segredo é ir bem cedo, para achar um bom lugar e ficar parado.
Por estar em uma área escura, é possível ver com clareza, por volta de outubro e novembro, o fenômeno da bioluminescência do Cerrado. Nele, as larvas dos vagalumes são colocadas nos cupinzeiros e, quando começam as primeiras chuvas, elas reacendem depois de hibernar.
- Se o contato é pelo mar: Letícia afirma que nunca sentiu nada igual a experiência de olhar uma baleia no olho no Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, na Bahia; um arquipélago que fica a 70km da costa. “O espetáculo ocorre em todos os momentos e por todos os lados. Ao visitar Abrolhos, sentimos que éramos espectadores - que os animais, o mar, o sol, as estrelas estavam ali para nos mostrar tudo o que eram capazes”, conta.
- Parque que parece de outro mundo: Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, no Maranhão e Parque Nacional do Monte Roraima.
O primeiro, patrimônio reconhecido pela Unesco, das Nações Unidas, consiste em uma imensidão de dunas e mais de 36 mil lagoas de água doce numa área do tamanho da cidade de São Paulo. Por ser obrigatório que só motoristas credenciados dirijam no local, é um parque um pouco mais caro para visitar - mas vale muito a pena.
Já o segundo no Monte Roraima, um espaço de 116 mil hectares sobreposto à Terra Indígena Raposa Serra do Sol, a visitação é feita ao Tepui, tipo de meseta com paredes verticais e cume geralmente plano. A unidade fica entre Venezuela, Guiana e Brasil. Do lado venezuelano, há uma savana; do lado brasileiro, uma floresta.
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- Opções com ótimas estruturas:
- Parque Nacional Viruá, em Roraima. Com 60 km de trilhas, ele é campeão da biodiversidade, além de ser um berçário de peixes e aves.
- Parque Nacional da Serra do Divisor, no Acre. Conta com pousadas, mirantes, trilhas e oferece experiência de dormir uma noite na Floresta Amazônica.
- Parque Nacional de Anavilhanas, no Amazonas, o mais visitado do Brasil na Região Norte. Oferece interação com botos vermelhos, observação aérea dos arquipélagos e trilhas terrestres e aquáticas.
- Parque Nacional de Sete Cidades, no Piauí, o primeiro dedicado à pintura rupestre no Brasil. Gratuito, oferece diversos circuitos e entre as formações mais famosas do parque, estão a Pedra da Tartaruga, Portal dos Desejos, mapa do Brasil e do Piauí.
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- Pouco conhecido: Parque Nacional da Serra do Teixeira, no Paraíba, o mais novo parque nacional brasileiro, criado em 2023.
Com uma área aproximada de 61.095 hectares de Caatinga, é o primeiro parque nacional na Paraíba e abriga o Pico do Jabre, que oferece visão panorâmica de 130 km dos Estados do Rio Grande do Norte e Pernambuco.
Como se preparar para uma visita em um parque nacional?
É importante que o turista se prepare para fazer várias trilhas e tenha saúde adequada para caminhadas. Assim que souber o seu destino, é interessante fazer reservas antecipadas de hospedagens, guias, e até entradas que possam já ser adquiridas.
Encontrar um guia nem sempre é tarefa tão fácil. Assim, nos passeios em que não é obrigatório estar acompanhado de um guia, aproveite o passeio no seu ritmo, dando destaque para suas próprias interpretações e descobertas.
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É sempre bom ter um contato de emergência que saiba todo seu itinerário de viagem. Avise a hora que sair do local de repouso, dê um horário de volta e um limite para que ela acione as autoridades, caso necessário.
Leve com você água, alguns lanchinhos para o dia, um pequeno kit de primeiros socorros e uma canga, para poder sentar e apreciar a vista. “Recomendo camiseta de manga comprida, por mais que faça calor. Ela te protege do sol e você usa menos protetor, o que causa menos impacto no meio ambiente”, sugere Dennis.
Além disso, camisetas longas e calças compridas podem ser úteis para evitar picadas de insetos e outros animais - repelentes também são uma boa pedida. Além de destacar a importância do tênis apropriado, o casal recomenda levar uma bandana de pescoço/face e uma lanterna (não vale a do celular) para possíveis imprevistos.
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Amantes da Natureza
A própria história do casal começa com trilhas e natureza. “A gente sempre fez trilha, mas sempre com dificuldade de encontrar companhia. Quando nos conhecemos, os parques passaram a fazer parte da nossa história”, lembra Letícia.
O namoro começou na trilha do Parque da Cantareira, para ir ver a Pedra Grande. A primeira viagem? O Parque Nacional do Itatiaia, no Rio de Janeiro, a primeira unidade do tipo no Brasil (criada em 1937).
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Infelizmente não há planos para fazer a mesma experiência com os parques estaduais - que são mais de 200 pelo Brasil. “Adoraríamos ver um grupo ou um casal de cada Estado fazendo isso. A gente vai apoiar e divulgar, mas expedição não vamos fazer”, brinca Letícia.
Enquanto isso, os dois conhecem ainda mais a cidade de São Paulo e explorando as áreas verdes locais. “Ao invés de pensarmos: ‘vamos para natureza’ percebemos que estamos nela. Isso mudou”, conclui Hyde.
Entre Parques
Instagram: www.instagram.com/entreparquesbr/