Um dos mais belos cartões-postais de São Paulo, a Estação da Luz é o novo ponto de prostituição da capital. No imponente edifício de arquitetura inglesa, cerca de 50 mulheres fazem ponto à luz do dia. Elas circulam em meio a turistas que visitam o local e aos milhares de pessoas que entram e saem dos trens, atraindo clientes para programas em hotéis da região. Algumas aparentam ter menos de 18 anos.Não é preciso 5 minutos para um homem ser abordado. "Meu amor, quer fazer um programinha comigo?", é a pergunta mais ouvida, acompanhada de uma piscadinha e outras provocações. Quem trabalha no local há anos diz que a proliferação de prostitutas e travestis aumentou depois que a estação foi revitalizada, em 2005. "Aqui no interior do prédio elas se sentem mais seguras. A chance de conseguir um cliente também é maior. Pela estação passam diariamente milhares de pessoas", diz um segurança da Luz, que não quis se identificar."Antes, eu ficava no Parque da Luz", diz Odete (nome fictício), de 22 anos, que adotou o ponto há seis meses. "Só que muitos homens tinham vergonha de entrar lá. Na estação é diferente: a abordagem é rápida e logo vamos para o hotel fazer o programa."O cliente pode pagar apenas R$ 5 pelo programa e mais R$ 7 pelo quarto do hotel perto da estação. Alguns caem no golpe boa noite, Cinderela. "Antes do programa, algumas levam os clientes para dentro de bares da região. Quando o cara sai da mesa para ir ao banheiro, elas colocam sonífero no copo das vítimas. Quando chegam no hotel, o cara já está dormindo. E quando acorda, as prostitutas já levaram tudo. Com vergonha, a maioria das vítimas não registra boletim de ocorrência. Por isso, não entra para a estatística", explica o segurança.Sem falar nos roubos, as prostitutas, com idade entre 15 e 65 anos, se dizem vítimas das circunstâncias. Todas as mulheres ouvidas pela reportagem disseram que só começaram a se prostituir depois que foram abandonadas pelo marido e perderam o emprego. "A prostituição é o que me restou. Já tentei de tudo, mas não consigo mais emprego. Tenho filhos para criar. Mas, um dia, espero sair desta vida", disse Amélia, de 42 anos."Comecei a me prostituir para ajudar em casa. Minha mãe tem cinco filhos e meu pai já morreu", diz a adolescente Taís, de 15 anos.Outro segurança da Luz dá uma versão diferente. "Muitas, infelizmente, fazem o programa porque são viciadas em crack."CONVÍVIONos dois dias em que a reportagem esteve no local verificou que as garotas agem tranquilamente. Como estão sempre na estação, elas quase não são abordadas pelos seguranças da Luz. "Eles entendem nossa situação. Só pedem para a gente não ficar por muito tempo no mesmo local. O segredo é ficar circulando para não chamar a atenção", ensina Raquel, de 36 anos.Mas é impossível não chamar a atenção. A grande maioria das mulheres se veste de forma indiscreta - usam vestidos curtos e muita maquiagem. Sem falar na tática para atrair os clientes. "Quer fazer um programa comigo?", pergunta outra das mulheres à reportagem. "Faço por apenas R$ 5."
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