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Podcast 'No Ritmo da Vida': #47 Racismo Brasileiro

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Os aspectos exclusivamente brasileiros do racismo são um dos motivadores por que a Universidade Zumbi dos Palmares existe e é tão bem-sucedida hoje em dia. Sobre o que constitui o preconceito nacionalmente, especialmente contra pessoas negras, o professor José Vicente da Silva, reitor da Instituição, conversa com Antônio Penteado Mendonça.

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As características do "racismo à brasileira" vêm da trajetória e historicidade brasileiras. "Isso está colocado antes e depois da abolição e mesmo agora, no Estado Democrático de Direito", afirma o convidado, que acredita que a temática ficou "adormecida" na História do Brasil. "Não serve o que se faz em outras partes do mundo porque existe uma diferença estrutural", completa.

Aqui, todos têm uma mistura de raças (miscigenadas), mas só se é negro caso haja uma pele mais escura. "Mesmo do ponto de vista legal, esta definição de pertencimento é ditada pela Lei, mas afirma que isso depende da manifestação íntima (autodeclaração), aí embaralha tudo, porque cada um tem uma compreensão sobre sua trajetória", explica Vicente. "No nosso País, o racismo se apresenta com classe social, cor e território: o pobre tem cor e é negra e a cor negra está nas franjas sociais, onde também está a não-presença do Estado e se reúne miséria e pobreza. As políticas públicas, sociais e empresariais precisam ter isso em conta", completa o professor.

Especificamente em São Paulo - maior estado negro fora da África, do ponto de vista quantitativo -, o especialista considera que há avanços nestas necessidades, mas está aquém especialmente com relação ao tempo que demorou sua implementação: "Este ano completamos 136 anos da abolição da escravatura e só agora a gente se debruça pra entender a desigualdade promovida por essa exclusão. Não saímos do lugar. Não tivemos capacidade de entender o problema na sua inteireza". Na Justiça e na Educação, porém, há uma contradição profunda, sem representatividade. "Somos uma democracia, uma República, logo todos deveriam estar permeados em espaços públicos, institucionais e governamentais", afirma.

"Uma sociedade é, antes de tudo, uma construção de crenças e imaginários, e a nossa sempre preferiu uma que mantivesse o negro de quando era escravizado. Isso é replicado - uma das principais violências - todo dia e toda hora. Não está escrito e este é o aspecto mais deletério do racismo brasileiro. Ninguém é racista", finaliza.

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