O estudante de medicina Mateus da Costa Meira, que na noite de 3 de novembro de 1999 matou três pessoas e feriu outras cinco durante sessão de cinema no Morumbi Shopping, conseguiu voltar à Faculdade de Medicina da Santa Casa com o auxílio da Justiça. Ele cursava o sexto ano e foi expulso. Por determinação do 1.º Tribunal do Júri, de São Paulo, a faculdade foi obrigada a matricular Meira, para que ele conclua o estágio de oftalmologia em outubro e novembro e possa receber o diploma. Meira deverá deixar a prisão com agentes armados, que permanecerão ao seu lado. O estágio consiste em atender pacientes gratuitamente. O diretor da faculdade, Ernani Rolim, disse hoje que a assessoria jurídica da escola analisou a ordem concedida pela Justiça determindo a matrícula e recorreu. "Tentamos alertar o juiz do perigo da presença de Mateus na escola. Ele terá de atender doentes e ficará difícil o convívio com os demais alunos e com os doentes", explicou Rolim. "Não adiantou. O juiz entendeu que Mateus tinha direito e fomos obrigados a fazer a matrícula." O estudante está recolhido numa cela do Centro de Observação Criminológica (COC), no Complexo do Carandiru, à espera do julgamento. No pedido feito à Justiça, os advogados informaram que Meira tem condições de concluir o curso. São oito semanas. Os estudantes do 6.º ano prometeram iniciar um movimento para impedir a presença de Meira na escola. Exame Meses após o crime, Meira foi submetido, por determinação da Justiça, a uma junta formada por quatro psiquiatras, que o examinaram e concluíram no laudo divulgado em janeiro de 2000 que o estudante apresentara transtorno esquizóide da personalidade, abuso de álcool e quadro psicótico induzido pela cocaína. Os peritos disseram que o problema não torna Meira incapaz de entender o caráter lícito ou ilícito dos atos nem altera sua vontade, porque ele premeditou o crime. Durante o exame, os peritos submeteram o estudante a ressonância magnética nuclear do crânio, no Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas. O resultado foi considerado "dentro dos parâmetros da normalidade." Meira não revelou aos psiquiatras o motivo do crime. Apenas justificou a atitude "por uma necessidade de agressividade íntima." Relatou que anos antes do crime "desejou agredir pessoas em um cinema de Salvador com um bisturi oftamológico do pai, mas conseguiu dominar-se." Disse também aos psiquiatras que, nos dois meses anteriores ao crime e uma semana antes, consumiu cocaína em grande quantidade e abusou do uso de álcool. Delírio Os peritos atestam que o uso do álcool e cocaína favoreceu o aparecimento de um quadro delirante. Meira foi denunciado pelo promotor de Justiça Norton Geraldo Rodrigues da Silva por triplo homicídio e cinco tentativas de assassinato.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.