Estudo mostra que mais da metade dos imigrantes venezuelanos não quer ficar no Brasil
Levantamento da ONU revela que imigrantes recebem menos de um salário mínimo por aqui e um terço não consegue fazer sequer três refeições por dia
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Por Jamil Chade
GENEBRA - Violência, fome, discriminação e desemprego. É isso que venezuelanos encontram quando cruzam a fronteira e decidem viver no Brasil. Essa é a conclusão de um levantamento conduzido pela Organização Internacional de Migrações com essa população.
A partir de 3,5 mil entrevistas, feitas entre janeiro e março, a entidade traçou um primeiro retrato das condições de vida desses estrangeiros, principalmente os que estão em Boa Vista e Pacaraima.
Segundo o levantamento, 57% dos venezuelanos estão desempregados. Daqueles que encontraram algum tipo de trabalho, 82% estão em postos de trabalho informais. A renda é ainda outro problema: 83% dos que conseguiram algum emprego não chegam a ganhar nem um salário mínimo por mês.
1 / 20A imigração venezuelana para o Brasil em 20 fotos
Roraima
Cerca de 40 mil imigrantes vivem atualmente em Boa Vista, capital de Roraima. Em um ano, chegada de venezuelanos aumentou em 10% a população da cidade... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Travessia
Cerca de 700 imigrantes fazem fila diariamente na fronteira da Venezuela com o Brasil, próximo ao município de Pacaraima, em Roraima Foto: Werther Santana/Estadão
Caminho
Após atravessarem a fronteira, muitos venezuelanos caminham por dias pela estrada até a chegada em Boa Vista. Foto: Werther Santana/Estadão
Carona
Na foto, a família de Francisco da Encarnación tenta conseguir uma carona pela BR-174 atéBoa Vista Foto: Werther Santana/Estadão
Abrigo
Os cinco abrigos de Boa Vista estão superlotados. Na foto, o abrigo do bairro Pintolândia, no qualimigrantes vivem dentrode um ginásio e em tendas no ... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Descanso
Nos abrigos, imigrantes dormem em colchões dispostos no chão ou em redes improvisadas Foto: Werther Santana/Estadão
Rotina
Na foto, imigrantes penduram roupas em ginásio transformado em abrigo pela Defesa Civil de Roraima Foto: Werther Santana/Estadão
Em praças
Com os abrigos lotados, imigrantes montaram barracas improvisadas nas praças, mas não contaram com a ajuda do poder público. Na Praça Simon Bolívar, p... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Falta de estrutura
Comércio no entorno de praça cobra R$ 3 para venezuelanos utilizarem banheiros. Sem alternativa, muitos procuram matagais próximos para urinar e defec... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Superlotação
Dentre os abrigos,a pior situação é a do localizado no bairro Pintolândia, que acolhe apenas venezuelanos indígenas. O local tem capacidade para 370 p... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Refeições
Na foto, venezuelanos esperam na fila para receber comida noGinásioTranquedo Neves, transformado em abrigo pela Defesa Civil em Boa Vista Foto: Werther Santana/Estadão
Refeições com sobras
Com a chegada de mais refugiados à cidade e a falta de vagas em abrigos, os que vivem em praças começaram a buscar alternativas para comer. Inicialmen... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Fechamento de fronteira
A governadora de Roraima, Suely Campos (PP), se encontrou na quinta-feira com a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), relatora da aç... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Higiene
Venezuelanos acampados em praça de Boa Vista andam mais de dois quilômetros até o Rio Branco para tomar banho ou lavar roupas. Foto: Werther Santana/Estadão
Comércio improvisado
Ruas do entorno do abrigo Tancredo Neves viraram uma espécie de feira ao ar livre de venezuelanos, com venda de alimentos e cigarros e prestação de se... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Trabalho
O trabalho autônomo foi a opção encontrada por imigrantes que não conseguem emprego na capital de Roraima. Alguns vendem os poucos itens que trouxeram... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Precarização
Outra mudança no mercado de trabalho de Boa Vista trazida pela imigração foi a redução no valor das diárias pagas a profissionais autônomos. Com muita... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Nas ruas
Venezuelanos trabalham nos faróis lavando os retrovisores de carros para ganhar trocados em Boa Vista Foto: Werther Santana/Estadão
Prostituição
Moradores contam que a presença de garotas de programa nas calçadas se intensificou com o aumento da imigração venezuelana na cidade. Antes, dizem ele... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
Violência
Com o aumento da população, Boa Vista viu o número de ocorrências criminais dobrar. Mas apenas 0,5% dos crimes foi cometido por venezuelanos, segundo ... Foto: Werther Santana/EstadãoMais
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A principal motivação para o fluxo de imigrantes é a situação de colapso econômico na Venezuela. De acordo com o estudo, 67% dos entrevistados apontaram que saíram do país por causa dessa realidade. Outros 22% citaram a falta de alimentos e saúde. Entre os entrevistados, 7% mencionaram ainda a violência e apenas 1% indicou que estava sendo perseguido.
A pesquisa revela também que 52% dos venezuelanos não querem permanecer no Brasil e tem como “destino final desejado um outro país, sobretudo a Argentina”.
O levantamento da OIM mostra que apenas 40% dos venezuelanos receberam algum tipo de apoio institucional, principalmente em relação à alimentação. E que grande parte dessa comida foi oferecida por instituições religiosas. “Ainda assim, 37% dos entrevistados consomem menos de três refeições diárias”, indicou o documento. Quase um a cada dez venezuelanos no Brasil só come uma vez por dia.
Outro problema apontado pelos entrevistados é a discriminação. “Vinte e oito porcento das pessoas indicaram ter sofrido algum tipo de violência no Brasil”, apontou a OIM. “Destas, 81% foram atos de violência verbal, seguida por violência física (16%), e violência sexual (2%)”. E vinte porcento das pessoas entrevistadas afirmam que não se sentem seguras onde moram.
Desde o começo de 2017, ainda segundo a ONU, 52 mil venezuelanos entraram no Brasil, sendo que 40 mil deles estariam em Boa Vista, Roraima, e 25 mil pediram asilo. Nas últimas semanas, porém, cerca de 800 venezuelanos estariam cruzando diariamente a fronteira em direção ao Brasil.