Atualizada às 20h48
GENEBRA - O padre que acompanhou o brasileiro Rodrigo Gularte nas últimas horas de vida antes de ser executado na Indonésia contou a rádios britânicas que o condenado não tinha ideia de que seria morto e insistia que estava indo para o Brasil. Gularte foi executado ao lado de outras sete pessoas nesta semana, como pena por ter traficado drogas para a Indonésia em 2004. Segundo sua defesa, sofria de esquizofrenia e desordem bipolar.
Segundo o padre Charlie Burrows, que atua na prisão de Cilacap, por três dias ele tentou explicar ao brasileiro que ele seria morto. Sem êxito. Na véspera do fuzilamento, Gularte ainda teria tido uma crise de esquizofrenia. “Ele escutava vozes o tempo todo”, disse o religioso à rádio pública de Dublin. “Eu falei com ele por uma hora e meia, tentando prepará-lo para a execução. Contei que tenho 72 anos e que logo iria para o céu. Então, disse para ele descobrir onde é minha casa e preparar o jardim para mim.”
De acordo com Burrows, o brasileiro não parecia entender. “Quando eles levaram os prisioneiros para fora da celas e colocaram correntes neles, ele (Gularte) me perguntou: ‘Eu vou ser executado?’. Eu disse que sim e que pensei que tinha explicado isso”, disse o padre.
Segundo o religioso, ele não se exaltou naquele momento. “Ele apenas disse: ‘Isso não é correto’. Ele estava perdido porque era um esquizofrênico”, contou o padre. “Ele me perguntou se haveria um atirador fora pronto para atirar nele quando saísse e eu disse que não. Ele me perguntou se alguém o mataria no carro e eu disse que não”, afirmou Burrows.
Depois de amarrado em placas de madeira, Gularte falou uma vez mais com Burrows. Desta vez, parecia triste. “Isso não é certo. Eu cometi um pequeno erro e não deveria morrer por isso”, afirmou o padre.
Em outra entrevista, à rede BBC, o padre também deu detalhes sobre o brasileiro e confirmou que ele não estava ciente da execução. “Não, eu não serei executado. Eu vou para o Brasil em um ano”, teria dito Gularte ao religioso. “Eu achei que ele estava entendendo o que estava acontecendo. Mas, quando saímos da cela, vi que não.”
Choro. O padre também contou como os guardas da prisão desabaram em choro quando a filipina Mary Jane Veloso, também condenada à morte, foi obrigada a se despedir dos filhos, de 12 e 6 anos. “Ela implorou por mais tempo e dizia: ‘Nunca mais vou ver meus filhos. Eles nunca mais me verão’.”
Todos caíram no choro e os procuradores se sentiram consternados. “Ele me disseram que não concordavam com o que estava para acontecer.” Por motivos não divulgados, a filipina foi poupada da execução.
Ouça a entrevista em inglês do padre Charlie Burrows à rádio irlandesa:
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