A Polícia Militar de Campinas investiga a participação de um ex-atirador de elite da corporação, condecorado em 1997 por um gesto de bravura, na quadrilha de Wanderson Nilton de Paula Lima, o ?Andinho?, principal suspeito de organizar a onda de seqüestros na região. Marcos Eduardo Bossolan, de 35 anos, foi expulso da PM há dois anos, acusado de roubo e receptação de veículos. A polícia chegou a Bussolan depois de investigar um dos membros da quadrilha, exímio atirador. O tenente-coronel Lúcio Ricardo de Oliveira, comandante do 35º Batalhão de Polícia Militar de Campinas, disse que Bussolan pode ser um dos principais aliados de Andinho. A polícia identificou o ex-soldado como um dos comparsas que aparecem, encapuzados, ao lado do seqüestrador, durante uma entrevista a uma emissora de televisão. A postura, e o manejo das armas, de um dos criminosos que estavam ao lado do seqüestrador fizeram os policiais desconfiarem que se tratava de Bussolan. Segundo a polícia, o ex-soldado é um excelente atirador e seria o responsável pela manipulação do fuzil AK-47 usado pela quadrilha de seqüestradores. Foi dessa arma que partiram os três tiros que mataram a comerciante Rosana Rangel Melotti, há dez dias. Rosana foi assassinada em frente à sua casa, no bairro Parque Taquaral, depois de ter sido seqüestrada. A polícia ainda investiga os motivos que teriam levado os seqüestradores a executarem a vítima antes de receber o resgate. Quatro homens que participaram do crime já foram identificados pela polícia, mas ainda permanecem foragidos. O seqüestro é atribuído a integrantes da quadrilha de Andinho, ainda que a polícia afirme que ele não estava no local da execução. Bussolan também é acusado de participar do resgate de dez presos da Cadeia Pública de Itapira, há uma semana, dos quais dois homens são membros da quadrilha de Andinho. A polícia não descarta a possibilidade de outros policiais estarem envolvidos com o criminoso mais procurado da região. Há um mês, dois policiais civis de Campinas, Eudes Trevisan e Rogério Luiz Salum, foram presos ao serem flagrados em conversas telefônicas com o seqüestrador, combinando o pagamento do resgate de uma vítima. Herói caído Bussolan, soldado desde 1994, viu seu nome aparecer na mídia nacional em maio de 1997, quando, numa ação ousada, matou um criminoso que mantinha refém uma menina de dois anos. Fugitivo de uma penitenciária, Diogo José invadiu uma casa em Valinhos, rendeu a família e tomou a criança como escudo depois que a polícia foi chamada pelos vizinhos. Então soldado do grupo de Ações Táticas de Campinas (Atac), Bussolan conseguiu atingir o bandido na cabeça com um tiro. José morreu na hora e a criança foi libertada. No mesmo ano, o ex-policial foi condecorado por mérito pessoal pelo comando da PM. Logo depois do ocorrido, ele passou por uma sessão com uma psicóloga, procedimento usual na polícia. Ela recomendou seu afastamento temporário da corporação, alegando que ele havia apresentado alteração de comportamento após o episódio. No ano seguinte, o soldado foi transferido do Atac para a polícia militar de Americana. Em fevereiro de 2000, acabou expulso, depois de flagrado com objetos roubados. A polícia encontrou três motocicletas e um automóvel com placas falsas na casa do ex-soldado. Ele ficou detido no Presidio Romão Gomes, da PM, em São Paulo, até obter o direito, concedido pela Justiça, de responder o processo em liberdade.
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