Execução de brasileiro é iminente

Familiares se despediram de condenados; Itamaraty não recebeu resposta para as últimas apelações em favor de Rodrigo Gularte

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Por Redação
Entre os condenados está o brasileiro Rodrigo Gularte, de 42 anos, flagrado em 2004 transportando pacotes de cocaína Foto: AP

JACARTA - Sob forte pressão internacional, a expectativa é de que a Indonésia execute nesta terça-feira, 28, nove estrangeiros e um indonésio condenados por tráfico, incluindo o brasileiro Rodrigo Muxfeldt Gularte, de 42 anos. A medida deve dificultar ainda mais as relações Brasil-Indonésia, já afetadas pelo fuzilamento, em 17 de janeiro, de Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos. O governo brasileiro considera a execução “inaceitável”.

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O país asiático desconsiderou os apelos de último minuto da Austrália e das Filipinas, além de ignorar decisão da Corte Constitucional de ouvir uma última contestação da presa filipina. Ao mesmo tempo, a Suprema Corte decidiu abrir uma apuração sobre uma denúncia de corrupção envolvendo o julgamento dos dois australianos.

Os familiares dos condenados foram visitá-los ontem na ilha de Nusakambangan, a “Alcatraz” indonésia. A informação que se tinha ali, apesar de não ser oficial, era de que o fuzilamento deveria ocorrer à meia-noite desta terça, no horário local (14 horas em Brasília). As visitas do filhos da filipina Mary Jane, Mark Darren, de 6 anos, e Mark Danielle, de 12, foram as mais comoventes. “Se mamãe não voltar para casa, só pensem que estou no céu”, disse Mary Jane ao se despedir.

Até o último momento, o Itamaraty manteve a pressão para transferir Gularte para um hospital, alegando que ele é esquizofrênico. O Ministério das Relações Exteriores não recebeu, até o fim da tarde desta segunda-feira, 27, nenhuma resposta à carta enviada domingo ao governo indonésio - em que se levantava a questão humanitária, apesar de admitir a soberania da Justiça asiática.

O assunto também foi levantado na 6.ª Conferência Internacional de Direitos Humanos, nesta segunda em Brasília, que condenou o fuzilamento. Segundo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a doença mental seria um impeditivo à pena de morte. O presidente da entidade, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, afirmou que a execução viola os direitos humanos.

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Os advogados do brasileiro também entraram nesta segunda com novos pedidos, apresentando relatórios médicos. Ele foi preso em 2004 ao tentar entrar no país asiático com 6 quilos de cocaína escondidos em uma prancha de surfe. A expectativa era de que a execução do brasileiro fosse pelo menos adiada - a exemplo do que aconteceu com o francês Serge Atlaoui, de 51 anos, que terá um último recurso analisado, segundo a imprensa internacional, por força das ameaças da diplomacia francesa. Um indonésio será executado em seu lugar - mas não se descarta fuzilar o europeu à parte futuramente.

Pressão internacional. Além de Gularte e do indonésio, há outros oito sentenciados - quatro nigerianos, um indonésio, uma filipina e dois australianos. O presidente das Filipinas, Benigno Aquino, apelou a seu par indonésio, Joko Widodo, em reunião da cúpula de nações do Sudeste Asiático para que poupasse a vida de Mary Jane Veloso, que diz ter sido enganada por traficantes. 

O campeão mundial de boxe filipino Manny Pacquiao também enviou um pedido de clemência. Widodo chegou a afirmar que analisaria o caso, mas o procurador-geral disse mais tarde que não haveria clemência. 

O presidente francês, François Hollande, e o primeiro ministro australiano, Tony Abbot, “recordaram que França e Austrália condenam o recurso da pena de morte”, em comunicado enviado pela presidência francesa. O ministro espanhol de Assuntos Exteriores, José Manuel García-Margallo, decidiu cancelar uma viagem prevista para a Indonésia, de forma a demonstrar o descontentamento de seu governo. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, também pediu à Indonésia que revogue as execuções. Nenhum dos apelos foi considerado.

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