Exposição retrata destruição no Rio Doce após chegada da lama
Ambientalista Leonardo Merçon lança projeto com fotos e vídeos de expedições às áreas do Espírito Santo afetadas por rejeitos
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Por Luciana Almeida
A lama de rejeitos da mineradora Samarco, que chegou ao Espírito Santo após o rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais, no dia 5 de novembro, deixou uma mancha vermelha que já se espalhou por 57 quilômetros ao norte, 17,5 quilômetros ao sul e 18 quilômetros mar adentro no litoral norte capixaba, com impactos para ao menos 317 mil pessoas no Estado. O acidente deixou 15 mortos e quatro desaparecidos.
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Além disso, três toneladas de peixes foram recolhidas ao longo do Rio Doce, no Estado, e cerca de 20 ninhos de tartarugas foram removidos da foz do rio, na cidade de Linhares.
Esse cenário foi visto e descrito pelo fotógrafo, ambientalista e presidente do Instituto Últimos Refúgios, Leonardo Merçon, durante uma expedição às margens do Rio Doce e também ao distrito de Regência, em Linhares, onde fica a foz do rio, no litoral capixaba. Um mês após a tragédia, Merçon, que lança nesta semana o projeto Lágrimas do Rio Doce, exposição de vídeos e fotografias que retratam a atual situação do rio e regiões afetadas, contou que as consequências do desastre são mais graves do que parecem. Segundo ele, a região é berçário de peixes, crustáceos e pássaros – alguns ameaçados de extinção – e, por isso, a preocupação é grande.
Lama muda a cor do mar na foz do Rio Doce
1 / 5Lama muda a cor do mar na foz do Rio Doce
Lama
Nos últimos três dias a onda de lama passou por Colatina e Linhares, causando mortandade de peixes e comprometendo o abastecimento de água Foto: Gabriela Biló/Estadão
Lama
A previsão do Ministério do Meio Ambiente, com base em projeções feitas por pesquisadores da Coppe-UFRJ, é que os sedimentos se dispersarão por uma ár... Foto: Gabriela Biló/EstadãoMais
Lama muda a cor do mar na foz do Rio Doce
O rio Doce deságua no mar em Linhares, cidade que fica no norte do Espírito Santo. Foi montada uma barreira para tentar conter os rejeitos de minério,... Foto: Fred Loureiro/Secom-ES/DivulgaçãoMais
Lama muda a cor do mar na foz do Rio Doce
A onda de lama tem levado destruição à biodiversidade do Rio Doce, desde o município homônimo em Minas, onde nasce. Foto: Fred Loureiro/Secom-ES/Divulgação
Lama muda a cor do mar na foz do Rio Doce
A dispersão da lama pode ser de 3 km em direção ao norte e de 6 km em direção ao sul quando elas atingirem o mar pela foz do Rio Doce, informou a mini... Foto: Fred Loureiro/Secom-ES/DivulgaçãoMais
“As pessoas não têm noção. É mais grave do que possam imaginar. O grosso dos rejeitos ainda deve chegar ao Espírito Santo e agravar ainda mais a situação”, comentou Merçon.
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Segundo ele, o problema não se restringe a ambientes aquáticos. Merçon explicou que a lama de rejeitos engoliu o braço do mar onde ocorre a reprodução das tartarugas-marinhas em Regência. Elas tiveram seus ninhos removidos. Os filhotes também precisaram de uma atenção especial e foram realocados para outros pontos do litoral, que não foram atingidos pela lama. Ainda não se sabe o que pode acontecer com esses animais no mar.
Merçon destacou, no entanto, que não apenas as tartarugas foram vítimas da lama de rejeitos. “Jacarés, capivaras, lontras, bois, cachorros, aves migratórias – todos foram afetados. Estive no Rio Doce uma semana antes da chegada dos rejeitos e vi muitos animais. Ir agora e ver todos mortos é desolador.”
Para Merçon, além dos impactos ambientais, a vida das pessoas que dependem do rio também foi afetada. “É absurdo que as pessoas vejam a situação da água e façam uso dela para beber. A situação é muito grave”, alertou.
Tartarugas. A médica veterinária do Projeto Tamar Cecília Baptistotte explicou que o período de desova das tartarugas da região tem o pico no mês de novembro, justamente na época em que a barragem se rompeu. “Estamos no pico de desova e as tartarugas ficam na frente das praias neste período, porque elas colocam ovos várias vezes. É preocupante o impacto negativo que a lama pode trazer à saúde desses animais.”
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O médico veterinário Marcelo Renan contou que o sangue das tartarugas vem sendo coletado para a realização de testes que deverão revelar a concentração de elementos tóxicos. “Só assim saberemos como esse material tóxico tem afetado a vida desses animais”, disse.
Abrigo de animais resgatados em Mariana
1 / 12Abrigo de animais resgatados em Mariana
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Em espaço bancado pela mineradora Samarco, há cães, gatos, cavalos, porcos, galinhas, patos e vaca Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Alguns animais estão em jaulas; outros estão acorrentados Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Os cachorros, especialmente os filhotes, passam o dia cavando o chão para tentar escapar Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Os cães passam o dia nas gaiolas, mas voluntários e os próprios donos dos bichos frequentam o espaço para levá-los para passear Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Os animais que ainda não tiveram os donos localizados serão colocados para adoção Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Os cães e gatos estão em um galpão, que abriga também uma clínica veterinária e onde foram feitas pequenas cirurgias Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Já chega a 605 o número de animais resgatados na região de Mariana após o rompimento das barragens de rejeito de minério de ferro da Samarco Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
A data de adoção dos animais sem dono ainda não foi definida Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
O espaço que abriga os bichos foi mantido com serviços de voluntários que se encarregaram de limpar as gaiolas e dar alimento aos bichos Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Como em um hospital, as gaiolas dos cães são numeradas e, na porta delas, há papéis com as recomendações para cada bicho Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Voluntários passeiam com os animais, que ficam o dia todo no galpão Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Segundo o veterinário responsável pelos animais de grande porte, cavalos e vacas que chegaram ali, na maior parte dos casos, apresentava quadro de des... Foto: Bruno Ribeiro/EstadãoMais