A "hospedagem" do presidente deposto Manuel Zelaya e de seus seguidores na embaixada do Brasil mudou radicalmente a rotina da até então pacata representação diplomática de Tegucigalpa, mas o contribuinte brasileiro não tem com o que se preocupar, assegura o encarregado de negócios da missão, Francisco Catunda Rezende. Segundo ele, a estadia de cinco meses só elevou em cerca de 5% as despesas da embaixada. Com base nas informações fornecidas por Catunda, calcula-se que Zelaya teria custado aos cofres públicos por volta de US$ 1.250.Em condições normais, os encargos do dia a dia da representação não ultrapassam cinco mil dólares. Catunda afirma que a conta de luz subiu 30% enquanto zelaystas estavam no sobrado brasileiro, mas argumenta que o aumento foi compensado pela queda de outras despesas. A conta de água, por exemplo, saiu praticamente de graça, porque boa parte era doada pelo corpo de bombeiros. A de telefone continuou no mesmo patamar, já que os "hóspedes" só usavam o celular. "Queriam evitar qualquer forma de grampo", diz Catunda.A manutenção da casa, da qual o Brasil é proprietário, ficou a cargo dos seguidores de Zelaya, que substituíram vidros quebrados e tampas de privada. Zelaystas se dividiram para coordenar a limpeza e a comida dos hondurenhos era paga por organizações ligadas ao deposto.Alguns cômodos permaneceram fechados, como a sala de onde era despachada a parte consular. O líder hondurenho escolheu a biblioteca como seu quarto temporário, pois achouque o escritório do embaixador era muito exposto. O quarto, cujas janelas dão para a rua tranquila diante da missão, foi convertido em uma sala para receber autoridades que vinham visitar o presidente deposto.Logo após o exílio de Zelaya, as marcas de sua estadia na embaixada brasileira eram alguns colchões infláveis pelo chão, prateleiras e mesas fora do lugar, mudas de roupas esquecidas, janelas tapadas com jornal e paredes um pouco sujas, relata Catunda. Na quinta-feira, um dia depois da saída do deposto, começou a faxina para que a embaixada abra as portas amanhã ao público. "Estamos trabalhando duro para que tudo fique pronto a tempo", diz o encarregado de negócios.A casa da embaixada foi comprada pelo Brasil "há pelo menos uns 30 anos", diz a vizinha da frente. "Quando eu vim para cá e construí a minha, ela já existia. É uma das primeiras aqui do bairro."Catunda, encarregado de negócios que passou toda a crise cuidando da embaixada, deve ir amanhã para a República Dominicana, seu novo posto. Em seu lugar, ficará o ministro conselheiro Lineu Pupo de Paula, que havia sido enviado de emergência a Honduras após Zelaya se instalar na missão brasileira.
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