Em vídeo, filha diz ter sido abusada por João de Deus dos 9 aos 14 anos

Dalva Teixeira contou suposta rotina de abusos durante entrevista em 2016; relato é desmentido em vídeo divulgado pelo médium, mas ativista diz que mulher foi coagida a fazer a gravação

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Foto do author Priscila Mengue
Por Priscila Mengue e Isabel Cristina

SÃO PAULO - Uma das filhas de João de Deus, Dalva Teixeira, de 45 anos, já declarou em entrevista ter sido abusada sexualmente pelo médium entre os 9 e 14 anos de idade. O relato teria sido colhido pelo Thiago Mendes, de Goiás, em 2016, que, por medo de represálias, divulgou o vídeo apenas na terça-feira, 11, por meio de uma reportagem da TV Record.  

"Ele é manipulador, ele é mau, ele é estranho, é diferente, a gente vê que ele é diferente. Eu já pedi muito a Deus que fizesse ele se arrepender das coisas que ele faz, e faz", diz no vídeo. O Ministério Público de Goiás recebeu mais de 200 denúncias contra João de Deus em dois dias.

Primeira aparição pública do médium após denúncias de abuso sexual Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão

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Filha de um rápido relacionamento, Dalva teria conhecido o pai apenas aos 9 anos. "Minha mãe disse para ele nos trazer para estudar", explica no vídeo. Ela relatou também uma rotina de abusos: "Ele tirou a minha roupa toda, tirou a dele e ficou a noite inteira me molestando. Em viagens, ele colocava o motorista para dirigir, viagens longas, como fizemos uma para a Bahia, e, no banco de trás, ele ficava me molestando."

Nas imagens, Dalva diz que os abusos cessaram apenas quando ela se casou, aos 14 anos. Ao saber da notícia, o médium teria reagido com violência. "(Ele) me bateu muito com um couro de laçar boi, que tinha um cimento na ponta, e com uma vara de ferrão. Inclusive eu tenho a cicratiz", conta. "Me bateu muito que eu fui parar no hospital."

Dalva relata, ainda, que, quando se separou, aos 20 anos, teria voltado a sofrer assédio de João de Deus, momento em que ela chegou a sair do País. Por causa do trauma, ela teria se tornado dependente de drogas. 

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O vídeo traz, ainda, a entrevista de um dos filhos de Dalva, Paulo Henrique Ronda: "Bateram em mim e no meu irmão e, na hora que um dos pistoleiros dele, que isso é pistoleiro dele, foi no meu irmão, eu fui em cima e eles bateram no meu rosto", conta. "Cortaram o queixo do meu irmão e um deles gritou: 'para, não é pra matar: é apenas para dar um susto para eles aprenderem, para saber com quem estão mexendo, com peixe grande.'"

Também na terça-feira, os perfis de redes socias da Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus faz "trabalhos espirituais", publicaram um vídeo em que Dalva desmente ter sido abusada pelo pai. "Essa pessoinha que está aqui do lado nunca, nunca, me abusou sexualmente", diz no vídeo, no qual atribui as denúncias ao pai de seus filhos. Nas imagens, ela diz que a "verdade chega, vai vir à tona." 

O Estado procurou o advogado de Dalva, Marcos Eduardo Bocchini, mas não obteve retorno. A ativista Sabrina Bittencourt, do movimento Combate ao Abuso no Meio Espiritual (COAME), diz que está prestando apoio à Dalva e ao advogado, que estariam sofrendo ameaças.

Segundo Sabrina, Dalva foi obrigada a gravar o vídeo em que defende o pai, que teria sido filmado em 2017, ano em que os netos processavam o médium pelas supostas agressões e abusos. Em 2018, por sua vez, a mulher teria aberto uma nova ação pedindo indenização de R$ 50 milhões, a qual tramitaria em segredo de justiça. 

O advogado do médium, Alberto Toron, afirma que João de Deus recebeu com “indignação” a notícia de que é acusado de crime sexual e está à disposição para esclarecimentos.  A assessoria de imprensa do médium também nega as acusações. “Há 44 anos, João de Deus atende milhares de pessoas em Abadiânia, praticando o bem por meio de tratamentos espirituais. Ele rechaça veementemente qualquer prática imprópria em seus atendimentos”.

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