Fissuras em bairro de Maceió foram provocadas por extração de sal-gema

Relatório concluiu que atividade provocou a reativação de estruturas geológicas na região

PUBLICIDADE

Por Carlos Nealdo
Atualização:

MACEIÓ - A extração de sal-gema - matéria-prima utilizada na fabricação de soda cáustica e PVC - feita pela Braskem foi a principal causa para o surgimento de rachaduras no bairro do Pinheiro, em Maceió, segundo relatório divulgado nesta quarta-feira, 8 pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM). 

O problema, que ficou mais evidente a partir de 3 de março de 2018, quando foi registrado um abalo sísmico no local, afeta ainda os bairros de Bebedouro e Mutange. Neste, é ainda mais grave, segundo o assessor de Hidrologia e Gestão Territorial do CPRM, Thales Queiroz Sampaio, responsável pela apresentação do laudo em audiência pública ocorrida em Maceió nesta manhã. 

Rachaduras atingem bairros de Maceió Foto: Ailton Cruz/Estadão

PUBLICIDADE

Ele informou que foram detectadas evidências de desabamento parcial em profundidade na área em duas das 35 minas de exploração de sal-gema. "Infelizmente, há ausência de dados em 27 delas", disse Sampaio. 

O relatório concluiu que a extração de sal-gema provocou a reativação de estruturas geológicas antigas, com o consequente afundamento do terreno e trinca no solo e edificações em parte dos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro. "Os danos na superfície foram agravados pelos efeitos erosivos provocados pelo aumento da infiltração da água das chuvas", destaca Sampaio. 

Ela diz que o processo erosivo é acelerado pela existência de áreas de alagamento e a falta de uma rede de drenagem pluvial e de saneamento básico adequados. O resultado do laudo provocou gritos de "fora Braskem" no auditório, ocupado por políticos, autoridades, imprensa e moradores dos bairros afetados. 

Depois do resultado, o prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB) informou que acionará a Procuradoria Geral do Município para ingressar com ações judiciais contra a Braskem para ressarcir o município e os moradores dos bairros afetados. 

Já o procurador-geral de Justiça de Alagoas, Alfredo Gaspar de Mendonça Neto, informou que vai ratificar o pedido de bloqueio de R$ 6,7 bilhões da Braskem, feito na Justiça no início de abril. Feito em parceria com a Defensoria Pública do Estado, o pedido tinha como finalidade garantir reparos por danos morais e materiais aos moradores nos bairros do Pinheiro, Bebedouro e Mutange - que tiveram decreto de calamidade pública reconhecido pela prefeitura de Maceió. Na época, a Justiça de Alagoas acatou em parte a ação, bloqueando R$ 100 milhões da petroquímica. 

Publicidade

A 5 km da audiência, alguns moradores do Pinheiro acompanharam a audiência por um telão montado na praça central do bairro. O professor Eduardo Jorge Ramos de Araújo, de 46 anos, preferiu assistir à audiência em casa. "(O resultado) foi o que já esperávamos", lamentou. "Agora, queremos saber como fica a situação dos moradores que continuam no bairro." 

Para os técnicos do CPRM, a situação é preocupante por causa das chuvas de inverno. Sampaio recomendou que os moradores deixem o bairro e informou que, na próxima semana, técnicos do governo federal devem chegar a Maceió para discutir soluções para os moradores. 

Ministério Público pede suspensão das atividades de mineração

O Ministério Público do Estado de Alagoas e a Defensoria Pública do Estado enviaram um ofício nesta quarta-feira, 8, ao governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), pedindo a suspensão da eficácia da licença ambiental de operação, concedida pelo Instituto de Meio Ambiente de Alagoas (IMA) à Braskem. 

PUBLICIDADE

O pedido é relativo aos poços 32, 33, 34 e 35 de extração da sal-gema ainda em funcionamento e de outros que estejam em atividade na área lagunar, nos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro - afetados pelas fissuras. 

Em nota emitida no fim da desta quarta-feira, a Braskem afirmou que tomou conhecimento do laudo divulgado e analisará os resultados apresentados frente aos dados coletados por geólogos e especialistas independentes.  "Desde o início do agravamento das rachaduras e fissuras no bairro, em março de 2018, a Braskem vem colaborando com as autoridades na identificação das causas e informando com transparência e responsabilidade os estudos realizados por empresas de renome internacional", disse a empresa, na nota.

A petroquímica ressaltou, ainda, que tem compromisso com a segurança das pessoas, tanto de seus integrantes quanto das comunidades em que atua, e analisará juntamente com as autoridades a melhor orientação sobre suas operações locais.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.