Florido e perfumado, talvez um pouco menos feio. É assim que deve ficar um trecho do Elevado Costa e Silva, a vidraça de todos os prefeitos que administraram a cidade depois do primeiro mandato de Paulo Maluf, que o inaugurou em 1971. O projeto vai custar R$ 140 mil e prevê o plantio de ao menos quatro tipos de trepadeiras e damas-da-noite, ao longo das muretas do Minhocão, no centro. As obras para adaptação do elevado para receber a vegetação devem começar em três meses. Serão instalados ao longo das calçadas da Avenida General Olímpio da Silveira, sob o elevado, 25 postes. É por eles que as plantas chegarão às muretas do Minhocão, que ainda vai ser revestido por telas de aço galvanizado. Flores azuis, amarelas, vermelhas e rosas devem se destacar no cinza que predomina no elevado, principal ligação entre as regiões leste e oeste e importante acesso ao centro. Inicialmente, a vegetação fará parte apenas da paisagem no trecho entre as Ruas Cunha Horta e Jaguaribe, o que resulta em 15,5 mil metros quadrados. Se a proposta der certo, afirma o secretário de Coordenação de Subprefeituras, Andrea Matarazzo, os 3,5 quilômetros do elevado vão ser revitalizados dessa forma. "A idéia é tentar dar um pouco mais de vida", diz Matarazzo. Não há, nesse projeto, nenhuma previsão de revitalização ou obras sob o Minhocão, que também é alvo de críticas de moradores. Parte do dinheiro usado no projeto vem da economia feita com a substituição da iluminação do elevado, que começou em dezembro do ano passado. As 832 luminárias de vapor de mercúrio, instaladas nos anos 70, foram substituídas por 416 lâmpadas de vapor de sódio. Segundo a secretaria, a obra resultou em uma queda de consumo de energia de 228 quilowatts por hora para 72 quilowatts por hora. Em um ano, representa uma economia de R$ 127,9 mil. Até 2007, a conta de consumo de energia no Minhocão chegava a R$ 187,3 mil. Uma das construções mais polêmicas da cidade, o Minhocão tem seu futuro discutido há tempos por arquitetos e urbanistas. Além de ser responsabilizado pela degradação daquela área, na região do Estação Marechal do Metrô, o elevado produz 67 decibéis de ruído, em média, nos apartamentos vizinhos - boa parte deles está a cerca de 4 metros de distância do viaduto. O aceitável são 45 decibéis. Dezenas de projetos para derrubá-lo ou revitalizá-lo foram enviados à Prefeitura por arquitetos. Em 2006, o então prefeito e hoje governador José Serra (PSDB) cogitou demoli-lo. Nenhuma proposta saiu do plano das discussões. Em 2005, o engenheiro Carlos Miller, especializado em obras de grande volume, calculou que desmontar o elevado (com reaproveitamento de suas grandes vigas) custaria R$ 80 milhões e demoraria seis meses. Logo, Serra também o deixou como estava. Mas tirar o Minhocão da paisagem urbana é um caminho sem volta, na opinião do urbanista. "O projeto (de paisagismo) é um recurso que, na nossa cabeça, não resolve", afirma o arquiteto Nadir Mezerani, que propôs, em 2006, derrubar o elevado e construir túneis para substituí-lo. Os túneis, diz o arquiteto, são muito mais caros que uma via elevada, mas necessários. "Em termos de fluxo viário, o Minhocão tem valor. Mas a gente não resolve o problema colocando uma camiseta nova."
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