As tropas brasileiras no Haiti deram uma resposta ontem ao movimento militar dos EUA no país. O batalhão brasileiro montou uma megaoperação de distribuição de 10 toneladas de comida e 22 mil litros de água em frente ao Palácio Nacional pela manhã para abastecer 5 mil haitianos. Num gesto simbólico de poder em Porto Príncipe, foram hasteadas duas bandeiras do Brasil diante do palácio, que foi arrasado no terremoto do dia 12. Todo o alto escalão militar brasileiro no Haiti esteve presente.Cerca de 20 carros militares brasileiros, entre eles 10 blindados, além de 150 homens, foram levados ao palácio. A opção não foi à toa. Na terça-feira, 20 helicópteros Black Hawk dos EUA aterrissaram no mesmo local, uma atitude que incomodou os militares brasileiros, oficialmente responsáveis pela segurança do Haiti. Ontem, aliás, o Brasil passou por um constrangimento. Durante a entrega da comida, dois helicópteros americanos pousaram no local. O vento chegou a derrubar uma das bandeiras brasileiras. O general Floriano Peixoto Vieira Neto, chefe das forças de paz da ONU no Haiti, não escondeu que a entrega dos alimentos serviu para, além de ajudar os haitianos, o Brasil "marcar posição", segundo palavras dele, em relação ao controle da segurança em Porto Príncipe. O general comanda uma tropa de 7 mil militares de vários países. O Brasil tem o maior contingente, com 1.266 soldados.Em seu discurso, Floriano Peixoto adotou um tom de recado aos EUA. "Eu, general Floriano Peixoto, sou o comandante. Meu papel é de grande articulação. Aqui tem um brasileiro, um chefe da Minustah (nome da missão da ONU). A parte de segurança cabe a um general brasileiro. Não podemos perder a oportunidade de mostrar isso ao Brasil. Temos o maior contingente de tropas", afirmou. "A participação deles (EUA) é temporária", ressaltou, referindo-se ao acordo entre ONU e EUA, segundo o qual, teoricamente, os americanos cuidarão apenas da ajuda humanitária. Em entrevista ao Estado na terça-feira, o chefe civil da missão da ONU, o guatemalteco Edmond Mulet, afirmou que a presença dos EUA no Haiti é "temporária" e "limitada". Diante do palácio, uma enorme praça abriga milhares de haitianos desabrigados. "O Brasil é o responsável por essa área. Aqui é o centro do poder", reforçou o coronel João Batista Bernardes, que comanda as tropas brasileiras. Para hoje, está programada uma distribuição conjunta de alimentos. Será uma ação para tentar mostrar que a situação é pacífica, apesar do mal-estar entre os dois países em Porto Príncipe.Na quinta-feira, três oficiais americanos, entre eles um do setor de inteligência, fizeram uma visita ao general João Batista Bernardes. Eles discutiram os termos da parceria e foram cobrados a dar explicações sobre o pouso dos 20 helicópteros no gramado do palácio. O comando militar dos EUA disse que tudo não passou de um treinamento de resgate de sobreviventes. Nas ruas da capital, patrulhas americanas circulam com timidez.