O papa Francisco afastou das funções sacerdotais o frei Elvécio de Jesus Carrara, que chegou a ser preso pela Polícia Civil, em 2023, suspeito de ligação com pornografia infantil. Em consequência, a Província dos Dominicanos de São Paulo comunicou nesta quinta-feira, 15, a dispensa do ex-frei da Ordem dos Pregadores. O Estadão não conseguiu contato com a defesa de Carrara.
Com a dispensa do estado clerical, o religioso fica impedido de ministrar sacramentos e celebrar missas, bem como realizar outros atos religiosos exclusivos dos sacerdotes. O ex-frei já estava suspenso dessas funções desde o início das investigações.
Conhecido por ter fundado, em 2010, o Núcleo de Ação Cultural – Talento, Alegria e Solidariedade (Nac Tales), um projeto social que atende crianças e adolescentes em São Paulo e em São João del Rey (MG), Carrara era bastante conceituado nos meios religiosos e sociais dos dois Estados. No dia 3 de maio do ano passado, ele foi alvo da Operação Falso Profeta, que investigava denúncias de crimes sexuais utilizando a estrutura do projeto social da cidade mineira. Segundo a Polícia Civil, a prisão foi motivada pela descoberta de material pornográfico envolvendo menores em seu aparelho celular.
O ex-frei passou cerca de duas semanas preso, até ser libertado, no dia 17, em virtude de liberdade provisória concedida pela Justiça. Conforme nota do secretário da Província dos Dominicanos, frei André Luiz Boccato de Almeida, após “cuidadosa ponderação” por parte do Dicastério para a Doutrina da Fé, um dos órgãos deliberativos da Santa Sé, o papa Francisco outorgou a Elvécio de Jesus Carrara a dispensa do estado clerical e de todas as obrigações inerentes ao mesmo. O pontífice também o dispensou de seus votos religiosos, de modo que Carrara não é mais um dos membros da Ordem dos Pregadores (dominicanos).
O frade passou a ser alvo de investigação pela polícia depois que a Ordem dos Pregadores recebeu denúncias contra ele e abriu uma apuração canônica prévia para apurar os fatos. Ele foi proibido de exercer as funções sacerdotais e de ter contatos com menores, inclusive os assistidos pelas obras sociais que fundou. A prisão do frade levou a congregação religiosa a emitir um documento com “diretrizes sobre condutas sexuais ilícitas e delituosas”.
As normas foram dirigidas a todos os religiosos da Província Frei Bartolomeu de Las Casas, com sede em São Paulo. “É muito importante que as pessoas sejam ouvidas e acolhidas. Que elas sintam que podem se abrir e confiar em nós. Caso apareçam outras denúncias, é importante encorajá-las a procurar as autoridades competentes. Os canais de comunicação de nossa Província também estão abertos para esta escuta”, diz trecho da carta.
O documento da Ordem endossa ainda “o sentir da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – e das Igrejas Particulares em que atua, ou seja, rejeita energicamente quaisquer tipos de abuso sexual contra menores”.
Em nota, a direção do Nac Tales disse que o ocorrido com o ex-frade não tem relação direta com o trabalho realizado pela ONG, que vem se mantendo firme no compromisso com o bem estar das crianças e jovens que atende.
A Polícia Civil de Minas Gerais informou que o inquérito que apura as denúncias contra o ex-padre corre em sigilo de Justiça, devido à suposta vítima ser menor de idade, e já foi relatado e encaminhado ao Judiciário. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) disse que informações sobre o processo não podem ser repassadas, pois o caso está em segredo de Justiça.
A Ordem dos Pregadores (Dominicanos) tem como fundador São Domingos de Gusmão e foi confirmada pela Igreja Católica em dezembro de 1216, no pontificado do Papa Honório III. A ordem é dirigida por um mestre geral e, regionalmente, pelos freis provinciais, e segue as diretrizes do Vaticano.
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