Fuga em prisão federal de Mossoró tem saída na madrugada e busca com helicóptero: veja o que se sabe

Dois detentos conseguiram escapar da prisão de segurança máxima na madrugada da última quarta-feira, 14. Autoridades realizam busca e investigam como fuga aconteceu

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Atualização:

Dois presos da penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, escaparam do cárcere na madrugada da quarta-feira, 15, e se tornaram os primeiros detentos da história a fugir de uma prisão de segurança máxima do sistema prisional federal. A caçada das autoridades pelos fugitivos já se arrasta há mais de duas semanas.

Deibson Cabral Nascimento e Rogerio da Silva Mendonça têm ligações com a facção criminosa Comando Vermelho (CV), segundo as autoridades. E uma série de dúvidas sobre como a dupla teve êxito na fuga ainda ronda o caso. Entenda o que se sabe até agora sobre a fuga dos prisioneiros e o que as autoridades federais e estaduais têm feito para encontrá-los.

MOSS1 - CIDADES - Penitenciaria Federal de Mossoró - RN. Foto Reprodução Google Earth Foto: Reprodução Google Earth

Como os dois presos conseguiram escapar?

Ainda não há informações oficialmente divulgadas de como o Deibson Cabral Nascimento e Rogerio da Silva Mendonça conseguiram escapar do presídio de segurança máxima de Mossoró. A dupla fugiu da prisão na madrugada desta quarta-feira, 14.

Quais ações o governo federal já tomou?

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O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandoswski, que não completou ainda um mês à frente da pasta, enfrenta a sua primeira crise no novo cargo.

Sobre a fuga da dupla de detentos, o ministro determinou o afastamento da direção da Penitenciária Federal de Mossoró e nomeou um interventor para o posto (o nome foi mantido em sigilo por motivos de segurança). A pasta pediu também pela revisão dos protocolos de segurança de todo sistema prisional federal.

O governo acionou a Polícia Federal e pediu ao órgão a inserção dos nomes de Deibson Cabral Nascimento e Rogerio da Silva Mendonça no Sistema de Difusão Laranja da Interpol e no Sistema de Proteção de Fronteiras para que os foragidos sejam procurados pela polícia internacional. De acordo com o governo federal, mais de 100 agentes estão envolvidos nas buscas pelos foragidos.

Nesta quinta-feira, o ministério aumentou o nível de segurança das penitenciárias federais. A medida proíbe banhos de sol e visitas de familiares e advogados até sexta-feira, 16. De acordo com a portaria do MJSP, também estão suspensas atividades educacionais, religiosas e laborais. A única exceção da portaria é para os atendimentos emergenciais de saúde realizados nas unidades.

A medida também determina limitação de acesso a áreas comuns. A norma justifica que as medidas foram tomadas diante da necessidade de esclarecer as circunstâncias da fuga que ocorreu em Mossoró.

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Quem são os fugitivos?

Os dois homens que fugiram nesta quarta foram identificados como Deibson Cabral Nascimento e Rogerio da Silva Mendonça. Ambos possuem ligação com a facção criminosa Comando Vermelho (CV), de acordo com informações preliminares. O grupo domina as operações criminosas no Acre, onde a dupla estava presa até setembro do ano passado.

No caso de Deibson, há uma longa ficha criminal que começou ainda na adolescência e seguiu durante a vida adulta. Os registros incluem crimes que vão de tráfico de drogas a latrocínio, chegando a uma rebelião em uma cadeia do Acre. Sua defesa não foi localizada para comentários.

Por que eles estavam em uma prisão de segurança máxima?

Deibson e Rogerio estavam detidos no Presídio Antônio Amaro Alves, na região metropolitana de Rio Branco até o ano passado. Em julho de 2023, os dois participaram de uma rebelião na unidade, que terminou com a morte de cinco detentos. O episódio levou o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Acre, a pedir pela transferência da dupla para Mossoró. Outros 12 presos foram remanejados nas mesmas circunstâncias.

Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva fugiram da penitenciária de Mossoró na madrugada de quarta-feira. Foto: Iapen-AC/Reprodução

Conforme o Ministério da Justiça, o sistema prisional federal é integrado pelo criminoso que cumprir alguns requisitos, como ter desempenhado função de liderança ou participado de forma relevante em organização criminosa, bem como ser membro de quadrilha ou bando envolvido em prática crimes com violência ou grave ameaça.

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Como as buscas estão sendo realizadas?

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Em conversa com o Estadão, o secretario da Segurança Pública do Rio Grande do Norte, coronel Francisco Araújo, explicou que a procura pelos dois criminosos tem sido feita com o auxílio de dois helicópteros (um que permanece em Natal, e outro que foi enviado para Mossoró) para as buscas áreas; deslocamento de mais policiais para os arredores de Mossoró; e monitoramento das estradas e divisas do estado potiguar.

Segundo Araújo, os secretários da Segurança de Ceará e Paraíba também foram acionados para ampliar a vistoria nas divisas, e a Policia Rodoviária Federal também precisou ser convocada para ajudar nas buscas dos fugitivos. O secretário também disse que o próprio presídio está sendo usado como heliponto, para o pouso dos helicópteros usados nas buscas aéreas. “Enquanto for necessário, ele vai permanecer em ação”, disse.

Nesta quinta-feira, André Garcia, secretário nacional de Políticas Penais, afirmou que a prioridade da pasta é a recaptura dos foragidos e detalhou os esforços de busca. Segundo ele, as forças de segurança estão utilizando drones, equipamentos que aferem temperatura corporal, além dos helicópteros.

Por que é tão difícil escapar de uma prisão de segurança máxima?

Os detidos encaminhados para estas prisões são obrigados a viver em celas de 6m², sem companhia e com apenas cama, sanitário, pia, chuveiro mesa e assento no ambiente. As visitas de familiares, amigos ou advogados são feitas apenas em parlatório ou por videoconferência. As tomadas e a energia para chuveiro e lâmpadas são acionadas em horários determinados.

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De acordo com a Secretaria Nacional de Políticas Penais, os protocolos de segurança são padrões em todas as unidades dos presídios federais. Entre as medidas de fiscalização, estão: revista diária todas as vezes em que um preso deixa o dormitório; uso permanente de algemas enquanto o preso estiver em deslocamento - que é feito na companhia de, pelo menos, dois agentes; e monitoramento constante de câmeras, que são são transmitidas ao vivo para a sede Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), em Brasília.

Os agentes levam armamento letal e menos letal; body scan, raio-x e detector de metais para revista pessoal e material; sistemas de vigilância por áudio e vídeo; equipamentos de segurança e de inteligência; além de estrutura física reforçada contra tentativas de invasão e fuga.

Quem também está preso em prisões deste tipo?

As prisões federais abrigam criminosos detentos de alta periculosidade ou envolvidos em crimes de natureza transnacional. Alguns dos presos que se encontram em detenções deste tipo são: Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, apontado como uma das lideranças do Comando Vermelho e que hoje cumpre sua pena em Campo Grande; Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, tratado como um dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), hoje na prisão federal de Brasília.

Nomes como Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, e Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, líderes de facções criminosas no Rio de Janeiro em décadas passadas, também integram a lista de detentos famosos em prisões federais de segurança máxima. Enquanto Marcinho VP cumpre pena em Catanduvas (PR), Nem da Rocinha se encontra no presídio de Porto Velho.

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