Fundação de Beyoncé vai dar recursos para empreendedores negros no Brasil; veja como se inscrever

Auxílios serão de R$ 25 mil; desigualdade entre empresários negros e brancos é grande, mas tem diminuído graças a incentivos, mostram dados do Sebrae

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Foto do author Giovanna Castro
Atualização:

A cantora americana Beyoncé anunciou, por meio do perfil da sua fundação de caridade, a BeyGOOD, que vai trazer seu programa de suporte a microempreendedores negros para o Brasil. De acordo com a publicação, serão auxílios de R$ 25 mil para fomentar pequenos negócios de pessoas negras na Grande São Paulo. As inscrições se encerram nesta quarta-feira, 6.

A iniciativa de apoio a empreendedores teve início em 2020, nos Estados Unidos, e tem alcançado outros países. A fundação não informou o número de bolsas que serão distribuídas nem os critérios de seleção, mas disse que o Rio de Janeiro e Salvador também devem ser contemplados em breve. Incentivos à formação da população negra também estão entre os objetivos da fundação.

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Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o empreendedorismo negro tem crescido e se tornado cada vez mais potente no Brasil. Os pretos e pardos já são 54% dos empreendedores do País e, cada vez mais, passam de microempreendedores que criam seu próprio negócio por necessidade e a nível local, para pessoas que vendem e oferecem seus serviços de forma especializada e utilizando inteligências como marketing, e-commerce e gestão de negócios.

Dados da Pesquisa Pulso dos Pequenos Negócios, realizada pelo Sebrae e o IBGE em julho, apontam, por exemplo, que 76% dos empreendedores negros utilizam redes sociais, aplicativos ou internet para alcançar clientes e fechar negócios. O próprio Sebrae tem ofertado programas de incentivo e profissionalização específicos para este setor empreendedor e reconhece o impacto destas ações nos dados recentes.

A estimativa é de que o afroempreendedorismo movimente cerca de R$ 2 trilhões por ano no Brasil, segundo o Sebrae. Mesmo assim, o faturamento de negros ainda é, em média, 34% inferior ao dos brancos – quando consideramos somente as mulheres negras, a diferença sobe para 44% –, o que mostra que ainda há um longo caminho pela frente.

Adriana Barbosa, fundadora e diretora do PretaHub, projeto que atua como eixo de conexão e de investimento em economia criativa e negócios, em geral, de pessoas negras e indígenas, afirma que a mudança no perfil do afroempreendedor é um dos fatores mais importantes no combate à desigualdade racial de remuneração, oportunidades e status social.

“Temos pesquisas que mostram que a maior parte dos empreendedores negros ainda empreendem por necessidade. São pessoas que, sem tantas oportunidades de emprego, começam a vender alguma coisa ou a oferecer um serviço“, diz Adriana, fundadora do Festival Feira Preta, o maior na área de cultura e empreendedorismo afro na América Latina.

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Mas, apesar do cenário majoritário, Adriana reconhece que, nos últimos anos, houve aumento do perfil de empreendedores por vocação. “São os jovens que se beneficiaram do programa de cotas, foram para a faculdade, se profissionalizaram e já abrem seus negócios de forma mais especializada”, afirma.

Festival Feira Preta promove um espaço de exposição e venda de produtos e serviços de pessoas negras, apoiando o afroempreendedorismo. Foto: Venancio/Divulgação/PretaHub

De acordo com Adriana, o apoio de artistas como Beyoncé é extremamente importante para acelerar esse percurso. “Vemos um movimento de artistas cada vez mais preocupados em apoiar causas sociais e isso é muito positivo. Aqui na PretaHub, tivemos investimentos da cantora IZA e do DJ Alok e foi um sucesso”, diz. “No caso da Beyoncé, achei certada a decisão dela de escolher os microempreendedores, pois são esses os que mais sofrem – e, em maioria, são mulheres.”

Rede apoia afroempreendedorismo

Projetos como o PretaHub criam uma rede que une apoiadores da causa pró-igualdade racial e investidores, com artistas e empreendedores negros. Assim, conseguem fomentar não só financeiramente os negócios de pessoas negras, como também por meio de parcerias, ideias, informações e networking. Consequentemente, ajudam a gerar mais renda para pessoas negras e contribuem para a diminuição da desigualdade.

No caso da PretaHub, microempreendedores e empreendedores podem se inscrever no site do programa “Afrolab” e participar de um programa de capacitação e aceleração do empreendedorismo negro e indígena, onde terão aulas e farão networking, trocando experiências com outros empreendedores. Ao final, se escolhidos em um processo seletivo, podem receber investimentos financeiros em seus negócios.

*Este conteúdo foi produzido em parceria com o hub de fomento ao empreendedorismo negro PretaHub.

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