A Geórgia disse não ter provas de que a Rússia tenha começado a retirar tropas do seu território, como está previsto no cessar-fogo assinado pelos dois lados. "O lado russo está violando gravemente as condições do acordo de paz assinado pelos presidentes de Geórgia, França e Rússia", diz um comunicado oficial do Ministério do Exterior georgiano, citando novas operações russas no seu território. Um porta-voz do Ministério da Defesa russo, general Nikolay Uvarov, porém, afirmou que a retirada já foi iniciada, embora tenha dito que a operação levará dias para ser concluída. O correspondente da BBC em Gori, Gabriel Gatehouse, disse que as forças russas permanecem em Igueti, a 35 quilômetros da capital georgiana, Tbilisi, e ainda controlam a entrada e a saída da cidade de Gori. Além disso, há divergências sobre a extensão da retirada. Em nota, o Ministério do Exterior da Rússia afirma que o acordo permite que as forças russas recuem para uma zona de segurança localizada dentro da Geórgia, ao longo da Ossétia do Sul. Já o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que intermediou o acordo, disse que as tropas russas devem retornar às posições em que estavam antes do conflito. O conflito em torno da Ossétia do Sul começou há 11 dias, quando o Exército georgiano tentou recuperar o controle da região rebelde, onde um movimento separatista luta pela unificação com a Ossétia do Norte, que fica em território russo. Em resposta à ofensiva de Tbilisi, a Rússia enviou tropas para expulsar os georgianos. 'O que for necessário' Militares russos permanecem estacionados perto da capital da Geórgia, porque Moscou alega ter o direito de manter uma espécie de zona de segurança em torno da Ossétia do Sul. Embora tenha prometido a Sarkozy que a retirada teria início nesta segunda-feira, o presidente russo, Dmitri Medvedev, disse que fará "o que for necessário" para manter a segurança na região. "Se alguém pensa que pode matar os nossos cidadãos sem ser punido, ou matar os nossos soldados e oficiais militares, que estão em uma missão de paz, nós nunca vamos permitir isso", disse Medvedev, em visita à Ossétia do Norte, onde condecorou militares pela sua participação nos combates. A retirada das tropas russas faz parte de um acordo de trégua assinado no fim de semana por autoridades da Geórgia e da Rússia, intermediado pelo presidente francês, que está no comando rotativo da União Européia. Observadores internacionais O líder da Ossétia do Sul, Eduard Kokoity, disse que pedirá à Rússia que instale uma base militar na região separatista e rejeitou a presença de observadores internacionais. Kokity disse que os cidadãos russos na Ossétia do Sul "precisam ser protegidos da Geórgia". Ainda nesta segunda-feira, os países-membros da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE, na sigla em inglês) não conseguiram chegar a um consenso sobre o envio de mais monitores para verificar a aplicação do cessar-fogo. A organização tem apenas oito monitores militares e a proposta era que fossem enviados mais cem. Todos os 56 membros da OSCE precisam aprovar a missão para que ela aconteça. Correspondentes da BBC afirmam que a Rússia argumentou que os monitores não deveriam ser enviados até a retirada do que chamou de "forças ativas" da região. O presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, que até o domingo vinha adotando um tom agressivo em suas críticas em relação à Rússia, passou a adotar uma postura mais conciliatória. Em um discurso transmitido pela televisão nesta segunda-feira, Saakashvili pediu à Rússia que retire suas tropas do país para "dar início ao diálogo". "Nós pedimos a retirada das forças de ocupação russas para que possamos começar a refletir e negociar sobre como poderemos evitar a indiferença entre nossos países de forma definitiva." Até o domingo, Saakashvili vinha lançando repetidos ataques verbais contra a Rússia e chegou a acusar o país de fazer uma "limpeza étnica" dentro da Geórgia e de outros abusos contra os direitos humanos. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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