Governo Lula negocia ação de combate à violência contra mulher com Corinthians e Flamengo

Ministra das Mulheres propôs que times entrem em campo com braçadeira escrito ‘Feminicídio Zero’

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BRASÍLIA - Clubes com as duas maiores torcidas do Brasil, Corinthians e Flamengo podem engrossar a mobilização de combate à violência contra mulher planejada pelo governo federal para este mês. O Ministério das Mulheres iniciou uma parceria com os clubes para que entrem em campo usando uma braçadeira com os dizeres “Feminicídio Zero”, nome escolhido para a mobilização nacional sobre o tema, que será lançada em breve.

Além da braçadeira, a expectativa é de que os jogadores também levem uma faixa a respeito do tema. A parceria incluiria ainda ações estruturais feitas pelos times para coibir a violência de gênero entre os jogadores de suas bases. A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, se reuniu com os dois clubes e também com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Uma das ideias sugeridas inclui um jogo amistoso entre os times feminino e masculino do Corinthians. Foto: ALEX SILVA/ESTADÃO

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A mobilização “Feminicídio Zero”, segundo a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, será mais do que uma “campanha”. A pasta tem feito articulações com empresas, clubes de futebol e líderes religiosos para mobilizar de forma permanente contra a violência de gênero.

“Precisamos ter agora no mês de agosto uma ação, os jogadores entrarem com a braçadeira, ter a faixa. Mas, fora isso, precisamos que o time também pense no problema para as suas bases, seus jovens e futuros jogadores, para que a gente não possa ter Daniel Alves e Robinhos nos times”, disse a ministra em referência aos jogadores, que foram condenados por estupro.

Cida Gonçalves conversou, nesta sexta-feira, 2, por mais de duas horas com jornalistas mulheres a respeito das iniciativas desenvolvidas pelo ministério. De acordo com ela, a proposta de parceria feita pelo governo incluiria o desenho de um plano para que os clubes combatam a violência de gênero internamente. Para isso, equipes do Ministério das Mulheres prestariam assistências aos times na confecção do projeto. “A equipe vai voltar para dentro desses lugares e ajudar a pensar todos esses processos e materiais”, explica ela.

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Uma das ideias sugeridas pela ministra inclui um jogo amistoso entre os times feminino e masculino do Corinthians. A proposta ainda está sob análise do clube paulista.

“Nós precisamos investir enquanto governo e sabemos da nossa responsabilidade. Vamos continuar fazendo isso mesmo com contingenciamento. Mas só o governo, só política pública e só a repressão não vão dar conta de enfrentar a violência doméstica. Ou nós mobilizamos a sociedade para criar uma nova cultura, outros espaços, outras formas de mobilização, ou não vamos conseguir”, diz Gonçalves.

O Ministério das Mulheres foi proporcionalmente o mais atingido pelo congelamento imposto pela equipe econômica do governo, que soma R$ 15 bilhões em toda Esplanada. Cerca de 17% do orçamento da pasta foi cortado com a medida.

Nesta sexta-feira, a ministra também comentou sobre declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que foram alvo de críticas. Recentemente, durante reunião com empresários o presidente fez uma brincadeira sobre o tema. Na ocasião, o Lula condenava os altos índices de violência contra mulher no País e citava uma pesquisa que aponta maior ocorrência de casos após jogos de futebol. O presidente afirmou que a situação era “inacreditável” e, em seguida, ironizou a má fase do Corinthians: “Se o cara é corintiano, tudo bem.”

Questionada sobre o episódio, Cida Gonçalves afirmou que nem mesmo o presidente da República pode fazer piadas sobre violência de gênero. Ela disse ainda que falará sobre o tema com Lula.

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“Quando o tema nos incomoda muito, decide fazer uma piadinha, porque acha que com essa piadinha melhora as coisas, diminui o impacto da notícia que você está dando. E o que eu tenho dito é que piadinha nem o presidente da República. Não dá para aceitar piadinha de nada e nem de ninguém”, afirmou a ministra.

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