HC faz 300 reimplantes por ano

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Por Agencia Estado
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Apesar dos dez anos de experiência em enfermagem, Sandra Donna emociona-se com Soraia de Araújo, a menina de 5 anos que teve o braço reimplantado segunda-feira, horas depois de ele ter sido arrancado no desabamento de sua casa: "É a paciente mais valente que já vi." Soraia recupera-se bem da cirurgia feita pelo grupo de reimplantes do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas (HC). Teng Hsiang Wei levou 14 horas para fixar seu osso, suturar artérias, veias, tendões e nervos e reconstituir o músculo, esmagado, com um pedaço do músculo das costas. Em um mês, Soraia deve ter alta e, em um ou dois anos, espera-se que seu braço tenha recuperado entre 70% e 80% das funções. Enquanto isso, ela terá de conviver também com a falta de moradia, já que a família (oito irmãos, pai desempregado e mãe com seqüelas de um derrame) perdeu tudo. O caso parece incrível, mas não é tão extraordinário. A equipe do HC faz cerca de 300 reimplantes por ano - a maioria de mãos e dedos -, 90% dos quais referentes a amputações por acidentes de trabalho. Hoje, cerca de 85% dessas cirurgias têm sucesso, mas a situação nem sempre foi esta. Pioneiro na América Latina, o grupo do HC fez seu primeiro reimplante bem-sucedido em 1965, um ano após a operação pioneira do gênero no mundo. "Naquela época, 90% das cirurgias davam errado e mesmo os pacientes que prosperavam ficavam quase sem movimento", conta Ronaldo Azze, fundador do grupo. A situação mudou nos anos 70, com o uso de microscópios nas operações: "Antes suturávamos só as estruturas maiores, hoje damos de seis a oito pontos em artérias e nervos de 1 milímetro de diâmetro", explica Azze. Com isso, o prognóstico melhorou muito. O nível da recuperação, sensitiva e motora, pode chegar de 70% a 80%, dependendo do tipo de trauma (membros cortados são mais fáceis de recuperar do que arrancados ou esmagados), do tempo entre o acidente e o reimplante (é importante lavar e manter o órgão no gelo), da idade e do estado geral do paciente. Com a microcirurgia tornou-se possível reimplantar até pontas de dedos. Exemplo da precisão de movimentos que pode ter um membro reimplantado é Perci Bertolini, cirurgião de câncer de cabeça. Ele arrancou o dedão da mão esquerda com o cortador de grama. Cinco meses depois, implantou um dedo do pé no lugar do dedão perdido. "Seis meses depois, eu estava operando tão bem quanto antes", diz ele. Hoje, a maioria dos quase 300 ortopedistas especializados em mão do País faz reimplantes e quase todas as capitais têm hospitais capacitados para isso. Em São Paulo, além do HC, há o Hospital São Paulo e a Santa Casa.

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