Hillary critica censura ao Google e irrita Pequim

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Por Cláudia Trevisan
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A ameaça do Google de sair da China e o enfático discurso feito pela secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, na quinta-feira, contra a censura na internet, colocaram Pequim e Washington em rota de colisão. O porta-voz da chancelaria chinesa, Ma Zhaoxu, afirmou ontem que os EUA fazem acusações "sem fundamento" contra a China. Para ele, as declarações de Hillary são "prejudiciais" às relações entre os dois países.Pouco mais de uma semana depois de o Google anunciar que pode deixar a China em razão da ação de hackers e da censura, Hillary conclamou as empresas de tecnologia dos EUA a não aceitar restrições ao livre fluxo de informação online. "Isso precisa ser parte de nossa marca nacional", declarou.Quando criou seu site na China, em 2006, o Google concordou em incorporar em seu sistema de busca os critérios de censura de Pequim, que bloqueia o acesso a informações consideradas "sensíveis" pelo Partido Comunista. Na semana passada, a empresa afirmou que só permanecerá na China se chegar a um acordo com as autoridades para o oferecimento de seus serviços sem restrições, o que é considerado muito improvável.ATAQUESO discurso feito por Hillary tratou especificamente da liberdade na internet e citou a China como um dos países onde houve retrocesso nessa área no ano passado. Ela mencionou o caso Google e ressaltou que as autoridades chinesas devem investigar as alegações da empresa de que foi alvo de ataques de hackers que operam na China. Segundo Hillary, o que está em jogo é a construção de "um planeta com uma internet, uma comunidade global e um corpo de conhecimento que beneficia e une a todos", contra o modelo de "um planeta fragmentado, no qual o acesso à informação e as oportunidades dependem de onde você vive e do humor dos censores".O porta-voz da chancelaria respondeu que a internet na China é aberta e disse que a legislação do país proíbe a ação de hackers e a invasão de privacidade dos cidadãos. Mas centenas de sites são inacessíveis no país, incluindo alguns dos mais acessados, como a página de relacionamentos Facebook, o serviço de microblog do Twitter e o YouTube, que exibe vídeos. Nos últimos dois dias, o governo chinês subiu o tom do embate com o Google e acusou a multinacional americana de ser um instrumento da política externa de Washington.Vários jornais oficiais chineses publicaram editoriais nessa mesma linha, nos quais é ressaltado o fato de a companhia americana ter sido uma das grandes financiadoras da campanha do presidente dos EUA, Barack Obama. "O maior site de buscas do mundo, antes festejado por muitos chineses como símbolo da inovação global, agora está prestes a se tornar uma bola de futebol jogada pela Casa Branca, o que provocou reação forte e hostil de alguns usuários chineses", publicou em seu editorial o Global Times, jornal ligado ao Partido Comunista.

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