Hits do carnaval: Veja como o arrocha se tornou o gênero mais tocado nos últimos anos

Enquanto sertanejo e funk se mantêm estabilizados no gosto dos brasileiros, a música de origem baiana se consolidou como o gênero mais ouvido no período carnavalesco

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Atualização:

Nem a cadência do samba, nem a batida do funk: o carnaval agora é da sensualidade romântica do arrocha. O ritmo baiano despontou como mais ouvido nas semanas de folia no Spotify e domina o ranking das 200 mais populares durante o período carnavalesco desde 2020. A listagem é atualizada semanalmente pelo plataforma de streaming e considera a quantidade de “plays” dados em uma canção.

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A presença do ritmo é expressiva com 97 músicas do gênero no topo dos hits mais repetidos nas festas de 2022. O funk vem em seguida, com 81 hits no Top 200. Sertanejo (69), pop (52), forró (30) e pagode (19) complementam o ranking de gêneros com a maior quantidade de singles no ranking Spotify de mais ouvidas no ano passado.

Se engana quem vê o arrocha como gênero novo. O ritmo já é escutado pelos baianos há pelo menos 20 anos. Original de Candeias, na Bahia, sofreu adaptações sonoras e adotou elementos de vários outros segmentos. Por isso, explica o produtor musical João Marcello Bôscoli, o que se entende hoje no mainstream como arrocha é um conceito guarda-chuva que compreende vários gêneros.

“O arrocha pelo fato de ser um gênero que dialoga com vários outros gêneros sem preconceitos acaba deixando essas linhas não muito demarcadas”, complementa Bôscoli.

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A melodia também lidera a quantidade de reproduções durante o carnaval. Entre 2017 e 2022, as 457 músicas de arrocha que entraram no ranking da plataforma de streaming foram ouvidas 664 milhões de vezes, considerando apenas as repetições na semana das festas carnavalescas. O sertanejo aparece em seguida, com 533 milhões de “plays” acumulados no período.

Hoje é dia de arrocha

A preferência romântica pelo arrocha em 2022 é a continuação de uma crescente iniciada em 2018. O ponto de virada é 2020, quando o gênero desbanca o pop e a moda sertaneja, até então protagonistas do carnaval, e domina em volume o topo do Spotify – 82 das 200 músicas mais ouvidas naquele ano tinham a pegada sensual do gênero baiano.

O carnaval daquele ano traz outra alavancada positiva para o arrocha. É do gênero nordestino o posto de música mais duradoura nas paradas carnavalescas: ao chegar na folia Notificação Preferida (Zé Neto & Cristiano) entrava na 89ᵃ semana entre as mais ouvidas do Brasil. Além disso, quatro das cinco músicas mais ouvidas de 2020 tinham traços de arrocha, com A gente fez amor (Gusttavo Lima) como um dos expoentes do carnaval de três anos atrás.

Os diversos perfis de cantores dentro do gênero têm raízes no dinamismo da música brasileira, salienta Bôscoli. A troca sonora entre ritmos expande as fronteiras do limite da melodia de baiana. “Quando a gente escuta um pouco a nomenclatura dos gêneros musicais e a adoção de determinada nomenclatura pelo publico, é fácil notar flutuações.”

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Do modão ao batidão

Figurinhas carimbadas nas músicas mais ouvidas no Spotify nos últimos carnavais, o sertanejo e o funk se mantiveram como um dos principais gêneros preferidos dos brasileiros nesta época do ano, mas que registraram pouca variação desde 2017. O sertanejo teve seu ápice no carnaval de 2019, quando emplacou 80 hits no top 200 no Brasil, sendo Bebi Liguei, de Marília Mendonça, uma das músicas mais tocadas naquele ano.

Já o funk chegou ao seu auge no carnaval do ano passado, com 81 composições entre as mais ouvidas. Inclusive, a música Dançarina, de Pedro Sampaio, ficou na liderança do ranking durante o carnaval passado, chegando a 9,8 milhões de reproduções em uma semana. Na mesma época o single viralizou no TikTok, colocando o DJ na lista de mais ouvidas no país.

Nem tão ‘pop’

Na liderança por dois anos, o pop perde espaço a partir de 2018 – desce do topo da lista para a terceira posição no carnaval seguinte, em 2019. É nesta época que, paralelamente, todos os outros gêneros começam a ganhar o gosto dos foliões.

Apesar da presença nos dois primeiros carnavais, o pop raramente ficou entre os dez mais ouvidos. A melhor posição foi há cinco anos, quando Ta Tum Tum (MC Kevinho e Simone & Simaria) chegou ao terceiro lugar entre as mais populares durante a folia. A música também está categorizada como “funknejo”, um neologismo musical para se referir a ritmos que misturam sertanejo e funk.

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Em contrapartida, o gênero está entre os mais reproduzidos e soma 414 milhões de repetições desde 2017, ficando atrás apenas do arrocha, do sertanejo (533 milhões) e do funk (518 milhões) em quantidades de streams.

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Onde fica o samba?

A junção da cuíca e do tamborim chegou com menor frequência à lista das mais ouvidas. Teu Segredo, uma parceria entre Ludmilla e a banda Vou pro Sereno, foi a única música do gênero a emplacar no ranking Spotify durante o Carnaval. O hit ficou em 78° lugar nas festividades de 2020, somando 948.322 reproduções.

Já o samba reggae, versão que traz elementos do ritmo jamaicano, ficou três vezes entre as mais ouvidas. Chegaram ao top 200 neste período: Mainha Gosta Assim (113ᵃ em 2018), Cheguei Pra Te Amar (41ᵃ em 2019) e No Groove (165ᵃ em 2019). Por trás dos singles, um pouco de axé – todas as três músicas trouxeram a baiana Ivete Sangalo como uma das artistas principais.

À frente do bloco

Embora o ritmo romântico do arrocha tenha cativado quem curtiu a folia nos últimos anos, o funk está na dianteira das mais ouvidas durante o período.

A melodia baiana reveza com as batidas carioca na preferência absoluta durante o carnaval e o placar traz vantagem para o funk, à frente em quatro dos seis anos, inclusive no carnaval de 2022: na plataforma de streaming, o carioca Pedro Sampaio emplacou Dançarina como primeiro lugar das paradas no ano passado.

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As duplas Henrique e Juliano e Israel e Rodolffo trouxeram o arrocha para cabeceira das mais ouvidas. Em 2020, o hit Liberdade Provisória deixou a música Tudo Ok (Thiaguinho MT, Mila, JS o Mão de Ouro) em segundo lugar – a vice-liderança também traz elementos da sofrência, se autointitulando como “arrocha funk”.

Em 2021, puxado pela participação de Rodolffo no Big Brother Brasil daquele ano, Batom de Cereja soma 8 milhões de repetições, deixando o forró Tapão na Raba (Raí Saia Rodada) na segunda posição com 7 milhões de acessos em uma semana.

Qual o hit do Carnaval 2023?

Ainda não é possível dar pitaco na música que será a mais ouvida no Carnaval de 2023 – a última atualização do ranking semanal do Spotify saiu na quinta-feira, 9, de modo que para prever o novo hit seria preciso um exercício de “futurologia” uma vez que a folia começa oficialmente no dia 17 de fevereiro.

Quem quiser já pode curtir esta playlist que a reportagem preparou com os dez hits em alta deste pré-carnaval, de acordo com as tendências mais recentes do streaming:

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Metodologia

Utilizando dados obtidos pela plataforma Chart Spotify, que oferece um ranking das músicas mais populares, foi possível acessar informações sobre as 200 canções mais escutadas durante cada semana de carnaval desde 2017, quando estes dados começaram a ser disponibilizados.

Para obter informações mais detalhadas sobre as músicas, foi utilizada a API (Interface de Programação de Aplicação) do Spotify. O que permitiu identificar os gêneros musicais de cada um dos hits.

Vale ressaltar que o gênero é definido a partir das informações do artista, já que a API do Spotify não fornece este dado para cada música individualmente. Por exemplo, a canção Deixa Tudo Como Tá, de Thiaguinho, tem como gênero o pagode, que é o gênero musical do cantor cadastrado na plataforma.

Em alguns casos, uma única música pode pertencer a mais de um gênero, especialmente aquelas com vários artistas, como Hackearam-Me, de Tierry e Marília Mendonça, que foi classificada com os gêneros arrocha, forró e sertanejo.

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Por fim, foi necessário agrupar subgêneros em um único gênero para fins de análise. A exemplo do funk, que tem diversas categorias mais específicas no Spotify, tais como: funk carioca, funk paulista, funk ostentação, funk das antigas, entre outras. Todos estes termos foram classificados simplesmente como funk. Este processo foi repetido para os demais gêneros.

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