Uma sessão solene na Câmara dos Deputados em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e ao motorista Anderson Gomes, assassinados nessa quarta-feira no Rio de Janeiro, se transformou em ato contra a intervenção federal no Estado e contra o governo Michel Temer. Ela foi presidida pelo presidente da Casa e pré-candidato à presidência da República Rodrigo Maia (DEM-RJ), que foi hostilizado durante a cerimônia.
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A homenagem começou com um cortejo pelo corredor principal da Câmara, onde militantes carregavam girassóis e uma faixa com frase: "Marielle presente, Anderson presente: Transformar o luto em luta". Ao entrar no plenário, os militantes ergueram cartazes contra a intervenção militar e com fotos da vereadora.
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Militantes de esquerda ocuparam todo o plenário e, durante os discursos, não pararam de gritar palavras de ordem pedindo o fim da Polícia Militar, da intervenção na segurança pública no Rio de Janeiro, "Fora, Temer", "Fora, Maia", "Fora, Bolsonaro", "Fascistas não passarão" e "Golpistas". Líder da 'bancada da bala', o deputado Alberto Fraga (DEM-DF) também foi hostilizado no plenário.
"Cada uma de nós, sobretudo as mulheres, nos sentimos morrendo um pouco", disse a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP), que destacou o crescimento desse tipo de crime "no curso de um governo sem legitimidade". Na sequência, deputados de partidos de esquerda se revezaram ao microfone destacando a luta de Marielle a favor dos direitos humanos e sua origem de mulher pobre e negra. Também não faltaram nos discursos críticas à falta de planejamento na intervenção militar e cobranças por uma investigação célere.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) comparou a morte da vereadora aos assassinatos dos ambientalistas Dorothy Stang e Chico Mendes. "Basta aos que discursam propagando o ódio", pregou, sob os aplausos da plateia. "Os que puxam o gatilho são os que fomentam o ódio", completou. Ao contrário do discurso do deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), que foi mal recebido pelos presentes, as declarações da petista Érika Kokay (PT-DF) foram aclamadas pelo plenário. "Essa bala foi apertada pelo Parlamento deste País", disse a deputada.
Visivelmente abalado, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) também discursou. "Perdi uma companheira de luta, estamos aos pedaços, mas não vamos esquecer", disse. O deputado, apoiado pelo PT, PCdoB, PSB e PSOL, encaminhou a Maia um pedido de criação de uma comissão externa para acompanhar as investigações dos assassinatos, solicitação que foi atendida pelo presidente da Casa.
Apesar de ter sido chamado de "golpista" em vários momentos, Maia deixou o evento minimizando as hostilidades. "Eu entendo que o importante é que o direito da manifestação está colocado, para a gente ouvir críticas e elogios com muito equilíbrio", respondeu. Durante os momentos mais tensos da cerimônia, Maia chegou a ser aconselhado por seguranças a abandonar o evento, mas fez questão de seguir no comando da sessão solene.
Maia saiu em defesa da intervenção e disse que a ação precisa de diagnóstico, de planejamento e execução para ter sucesso. "É importante que o planejamento seja transparente e claro e que o governo federal entenda que há um sucateamento da estrutura da Polícia do Rio de Janeiro. Mas eu ainda estou confiante", afirmou.
O deputado disse que a agenda de segurança pública continuará na Casa porque é uma demanda de "80% da população". Maia afirmou que a flexibilização do Estatuto do Desarmamento ainda pode demorar para entrar na pauta. "Esse é um debate sempre polêmico, com muito radicalismo dos dois lados. A minha compreensão é que se poderia ter um pouco mais de paciência, um pouco mais de restrição no direito à posse. Acho que a rigidez tinha de ser maior. Mas vamos com calma", pregou.
Maia admitiu que a execução da vereadora pode radicalizar ainda mais os debates eleitorais, mas que espera que se caminhe para o equilíbrio nas discussões sobre as soluções para o problema de segurança pública no País.
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