Repetindo o gesto do papa João Paulo II, que pediu perdão pelos erros cometidos pela Igreja ao longo da História, o cardeal-arcebispo d. Geraldo Majella Agnelo fez o mesmo pedido de desculpas pelas falhas da Arquidiocese Primacial do Brasil (a da capital baiana) nos últimos 450 anos, desde que os primeiros jesuítas comandados pelo padre Manuel da Nóbrega desembarcaram em 1549, junto com Tomé de Souza, para fundar Salvador. É a primeira vez que a Igreja na Bahia admite os "pecados" na colonização. "Lembramos dos nossos pecados, o sofrimento que nós proporcionamos aos outros" disse d. Majella, na homilia realizada após a Caminhada Penitencial do Bonfim realizada neste domingo na Cidade Baixa. O bispo-auxiliar d. Gílio Felício, único bispo negro da Arquidiocese de Salvador, foi mais especifico. "Eu gostaria de sublinhar especialmente a população indígena e a afro-descendente (negros) que aqui sofreram massacre e desrespeito às suas culturas, e a Igreja teve de alguma forma participação no sofrimento desses dois povos", disse. Embora tenham tentado de alguma forma proteger os índios dos colonizadores, os padres também usaram a mão-de-obra indígena para construir as primeiras igrejas de Salvador. Poucos protestavam contra a escravidão dos índios e tentavam "civilizá-los" ensinando-lhes o catecismo, técnicas agrícolas e a organização social dos europeus. Para a Igreja os índios eram considerados seres ingênuos e por isso necessitavam ser protegidos ao modo da poderosa instituição da época. Essa mínima complacência em relação aos índios não existia no trato com os negros, considerados seres sem alma pela elite branca. Vários padres mantinham escravos negros em suas igrejas e conventos. Conta-se que para construir a Igreja de São Francisco, a famosa "igreja do ouro" de Salvador, os frades franciscanos usaram a mão-de-obra de quatro mil escravos. O templo, construído no inicio do século 18, levou 40 anos para ser concluído.
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