''Igreja de ouro'' é patrimônio histórico ameaçado

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Caminhando pelo Largo Terreiro de Jesus, no alto do Pelourinho, talvez a Igreja e o Convento de São Francisco não chamem tanto a atenção. Até que se entra no templo de paredes douradas e ricamente ornamentadas, apelidado de "a igreja de ouro". Seu estilo barroco e seus painéis de azulejos portugueses lhe renderam o título de uma das sete maravilhas de origem portuguesa no mundo, em 2009. Mas esse patrimônio histórico está ameaçado. A construção do atual convento foi iniciada em 1686 e a da igreja, em 1708, sendo concluída mais de 40 anos depois. Os prédios já passaram por algumas restaurações, uma das maiores em 1983, mas o trabalho nem sempre é feito como deveria. Em um dessas obras, o empreiteiro contratou moradores do Pelourinho e usou um cimento impermeável. Os azulejos históricos absorveram a umidade e estouraram. "É um trabalho delicado, nem sempre entregue às melhores mãos", lamenta a professora Maria Helena Ochi Flexor, da Universidade Católica de Salvador. Junto com frei Hugo Fragoso, historiador que mora no convento, ela organizou o livro Igreja e Convento de São Francisco da Bahia, ganhador do Prêmio Clarival do Prado Valladares, da Organização Odebrecht. "Desde 1987 queríamos fazer um trabalho sobre esse lugar, que abrigou figuras como frei Vicente de Salvador, pai da historiografia brasileira", diz frei Hugo. Com a divulgação da história do convento, eles esperam que haja mais atenção para a degradação do prédio.As obras ali entalhadas não têm autoria conhecida, porque eram feitas por escravos e cidadãos livres, em conjunto. "A igreja foi construída com o dinheiro dos fiéis. Agora, esse recurso está mais escasso", diz Maria Helena. Desde o século 19, com a expansão do positivismo e das novas religiões, as doações rarearam e o convento e a igreja começaram a se deteriorar. Com a chegada dos alemães, em meados do século 20, houve uma tentativa de recuperar a construção. "Cada obra, no ritmo de verbas que recebemos do Patrimônio Histórico, demora dez anos para ser concluída, quando já é hora de começar outra", diz frei Afonso, guardião do convento.

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